Instituto projeta avanço no movimento de recomposição da força de trabalho nos próximos meses, com alta na população ocupada, mas não o suficiente para reduzir a taxa de desocupação. Homem segura carteira de trabalho enquanto procura emprego na região central de São Paulo
Amanda Perobelli/Reuters
Com a saída de muitas pessoas do mercado em 2020, a força de trabalho ainda se encontra abaixo do patamar pré-pandemia. Porém, uma parcela já voltou a procurar uma vaga no primeiro trimestre. movimento que tende a se intensificar nos próximos meses, o que deve manter a taxa de desemprego em nível elevado. A avaliação é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Na Carta de Conjuntura do segundo trimestre do Ipea, divulgada hoje, os economistas Maria Andreia Parente Lameiras, Carlos Henrique Corseuil e Lauro Ramos observam que a alta recente no contingente de desempregados — que atingiu 15,2 milhões nos três meses terminados em março, ou 14,7% da força de trabalho — vem sendo influenciada pelo retorno de pessoas que ficaram inativas ao mercado.
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Os economistas calculam que, de janeiro a março, a população economicamente ativa (formada por ocupados e pessoas em busca de uma ocupação) aumentou em 567 mil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. O dado de abril será publicado nesta quarta-feira.
Apesar do avanço, os pesquisadores destacam que a força de trabalho ainda está 4,4% aquém do patamar pré-pandêmico, de 105,1 milhões, registrado no primeiro trimestre de 2020. Em igual período de 2021, esse contingente ficou em 100,5 milhões.
“Para os próximos meses, a expectativa é que esse movimento de recomposição da força de trabalho se intensifique, tendo em vista que o avanço da vacinação, combinado à retomada mais forte da atividade econômica e à adoção de um auxílio emergencial menos abrangente e de menor valor, contribuirá para o retorno ao mercado de trabalho de uma parcela da população que havia migrado para a inatividade”, apontam os economistas.
Assim, avaliam, mesmo que a população ocupada aumente, a alta não deve ser suficiente para reduzir a taxa de desocupação. No primeiro trimestre, o total de pessoas empregadas no país subiu em apenas 17 mil. Em relação ao primeiro trimestre de 2020, houve queda de 7,1%, para 85,7 milhões.
Se a força de trabalho já tivesse retomado seu ritmo de crescimento anual para níveis similares aos observados nos meses anteriores à pandemia, de cerca de 1%, a taxa de desemprego teria ficado em 19,4% no trimestre móvel de março, estimam os pesquisadores do Ipea — 4,7 pontos acima do percentual registrado.
Nos 12 meses encerrados em março, os economistas calculam que o contingente de pessoas em idade de trabalhar que estava fora da força de trabalho por conta do desalento saltou de 4,8 milhões para quase 6 milhões, uma alta de 25%. Em relação ao total da população em idade para trabalhar, a fatia de desalentados avançou de 2,8% de janeiro a março do ano passado para 3,4% em igual intervalo deste ano.
No primeiro trimestre de 2016, 40,9% dos adultos que estavam fora da população economicamente ativa se diziam desalentados, parcela que aumentou para 43,4% em igual intervalo deste ano. Em sentido contrário, a fatia daqueles que estavam inativos por questões pessoais caiu de 34,2% para 26,3%, e a daqueles que saíram do mercado para se dedicar somente aos estudos diminuiu de 11,4% para 8,4% na mesma base de comparação.
O estudo aponta, ainda, que as pessoas que se declaram subocupadas — ou seja, que estão empregadas, mas gostariam e poderiam trabalhar mais — alcançaram 8,2% do total da ocupados no primeiro trimestre de 2021, um ponto acima do primeiro trimestre de 2020. A taxa combinada de desocupação e subocupação atingiu 21,7% no primeiro trimestre do ano, maior valor da série da Pnad Contínua, que começou em 2012.
“Além da recomposição da força de trabalho, o nível elevado de subocupados também pode atuar como um limitador à queda da desocupação, tendo em vista que, antes de abrir uma nova vaga, há a possibilidade de estender a jornada de trabalho de indivíduos já ocupados”, afirmam Maria Andreia, Corseuil e Ramos. Segundo eles, o aumento do desemprego, da subutilização da força de trabalho e do desalento corrobora a visão de que o mercado de trabalho brasileiro segue deteriorado.
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