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Venezuelanos correm para gastar dinheiro antes do corte de seis zeros na moeda nacional

Conversão monetária entrará em vigor em outubro moeda nacional passará a ser chamada de bolívar digital. Desde 2008 até agora o governo bolivariano implementou três conversões monetárias e ao todo o bolívar já perdeu 14 zeros. Um homem faz a contagem das notas de Bolívar em mercado de Caracas, em 5 de agosto de 2021.
Federico Parra/AFP
Ansiosos, os venezuelanos correm para usar as atuais notas de bolívar antes da conversão monetária que entrará em vigor em primeiro de outubro. A movimentação é perceptível sobretudo no comércio de alimentos. Ela foi motivada após o Banco Central da Venezuela (BCV) anunciar na última quinta-feira (5) o corte de seis dígitos na moeda nacional, que passará a ser chamada de bolívar digital.
Também está prevista a impressão de cédulas com novos valores. Desde 2008 até agora o governo bolivariano implementou três conversões monetárias e ao todo o bolívar já perdeu 14 zeros.
De acordo com o BCV, o bolívar digital irá facilitar o uso de “uma versão moderna da moeda” em transações diárias para que os cidadãos tenham “maior conexão” com a moeda venezuelana.
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Para o lançamento serão emitidas as notas de 5, 10, 20, 50 e 100 do bolívar digital.
A população, aflita, corre para usar as atuais notas da moeda venezuelana tendo em vista que em outubro o atual dinheiro, o bolívar soberano, perderá grande parte de seu valor.
A moeda nacional já teve diversos sobrenomes. Primeiro foi apenas bolívar, em seguida bolívar forte, mais recentemente, bolívar soberano, e agora passará a ser chamada de bolívar digital.
Com dezenas de notas da atual moeda venezuelana é possível comprar, por exemplo, um quilo de arroz, que custa cerca de cinco milhões de bolívares. O povo prefere usar o dinheiro para comprar comida em vez de depositá-lo no banco, temendo perder poder de compra após a conversão.
Pobres milionários
A Venezuela há tempos é um país de pobres milionários. Os preços da maioria dos produtos superam o valor de milhões de bolívares. O mesmo acontece com o salário mínimo, que atualmente vale sete milhões de bolívares, cerca de 1,75 dólares (ou 8,75 reais), porém os preços dos produtos superam em muito este valor.
Todos ganham milhões de bolívares, mas isso não quer dizer que a população tenha alto poder aquisitivo. Muito pelo contrário. Muitos venezuelanos sequer conseguem comprar a cesta básica. 
Cerca de 96,2% da população vive na pobreza e 79,3% estão em situação extrema, de acordo com levantamentos da Encovi, a Pesquisa Nacional de Condições de Vida, que mostra dados de 2019-2020.
Os serviços de eletricidade ou de fornecimento de água, sobretudo em estabelecimentos comerciais, apresentam valores em bilhões de bolívares.
Outro problema gerado por tantos zeros na moeda venezuelana é que o mostrador de calculadoras ou de caixas dos comércios já não comportam tantos dígitos. É complicado fazer contas no país comandado por Nicolás Maduro.
Há poucos meses entraram em circulação as notas de 500 mil, um milhão e de dois milhões de bolívares. O uso delas é quase exclusivo no transporte público.
Fachada do Banco Central da Venezuela, em Caracas.
Reuters/Marco Bello
Real brasileiro circula na Venezuela
Não há notas de bolívares o bastante para fazer pagamentos de tão alto valor no cotidiano. Em substituição, a moeda usada na maioria dos pagamentos, ainda que não seja a oficial, é o dólar. Também outras moedas estrangeiras são usadas em substituição ao bolívar. Na cidade de Santa Elena de Uairén, no sul da Venezuela, o real brasileiro substituiu a moeda venezuelana.
A população busca informações para evitar confusões por causa do corte de zeros atrelado à conversão monetária.
Em comunicado o BCV, anunciou que “todo valor monetário e aquele expressado em moeda nacional será dividido entre um milhão”.
Outro fator de desconfiança é se a reconversão resolverá o surgimento de novos zeros atrelados aos preços como consequência da galopante inflação.
A medida visa “facilitar o uso da moeda proporcionando uma escala monetária mais simples”, de acordo com o comunicado do BVC.
A população esperava o corte dos seis zeros para a segunda quinzena de agosto. Porém esse adiamento da entrada em vigor da nova moeda servirá para a emissão de novas cédulas com os valores atualizados com a conversão.
Moedas voltam a circular
Outra novidade será o retorno das moedas para uso na Venezuela. Há anos não circulam moedas no país. O valor delas ficou defasado ao não conseguir acompanhar o acelerado ritmo da hiperinflação. Entre janeiro e maio deste ano a inflação foi de 264,8%, segundo o BCV. Já a inflação acumulada chegou a 2.959,8% em 2020.
Para analistas econômicos, o corte dos zeros no bolívar já era esperado e vai facilitar na hora de fazer as contas, mas isso não significa que a hiperinflação chegará ao fim.
De acordo com José Guerra, economista e deputado da Assembleia Nacional eleita em 2015, a nova reconversão anunciada pelo Banco Central é “uma maquiagem” porque “não diminuirá a inflação”.
O opositor Omar González Moreno afirmou que o bolívar digital será uma “gigantesca fábrica de pobres”. Para ele, a nova moeda significa “a continuação de outro fiasco econômico”, em referência aos infrutíferos planos aplicados pelo governo na tentativa de recuperar a força da moeda venezuelana.
Outros economistas concordam, afirmando que deter a desvalorização do bolívar está mais atrelado a outras medidas econômicas que apenas cortar zeros da moeda nacional. Assim a implementação do bolívar digital, sem os seis dígitos, seria uma medida paliativa que não impediria o reaparecimento dos zeros na moeda em consequência da hiperinflação venezuelana, uma das mais longas do continente e da história moderna.

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