A queda refletiu os impactos da volta das restrições de atividades com o agravamento da pandemia no país e a interrupção do Auxílio Emergencial em dezembro, segundo o IBGE. Vendas nos super e hipermercados recuaram 1,6% em janeiro
Eduardo Peret/Agência IBGE Notícias
As vendas do comércio varejista caíram 0,2% em janeiro na comparação com dezembro, quando a queda foi de 6,2% – maior tombo para um mês de dezembro de toda a série histórica, iniciada em 2000. Foi o terceiro mês seguido de queda.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em relação a janeiro do ano passado, o varejo registrou queda de 0,3%, primeira taxa negativa após sete meses consecutivos de taxas positivas.
A queda refletiu os impactos da volta das restrições de atividades com o agravamento da pandemia no país e a interrupção do Auxílio Emergencial em dezembro, segundo o instituto.
Vendas do varejo mês a mês
Economia G1
Cristiano dos Santos, gerente da pesquisa, vê um cenário de estabilidade nos dados de janeiro, apesar de a maioria das atividades que compõem o indicador terem apresentado queda.
“Com a diminuição do aporte de recursos do Auxílio Emergencial, a partir de outubro, a capacidade de consumo das famílias diminuiu, com impacto direto no comércio, levando os indicadores à estabilidade em novembro (-0,1%), uma queda em dezembro (-6,2%), e, agora, outra estabilidade em janeiro (-0,2%)”, afirmou Santos.
Em janeiro, na comparação com dezembro, cinco das oito atividades pesquisadas tiveram taxas negativas, com destaque de maiores quedas para Livros, jornais, revistas e papelaria e Tecidos, vestuário e calçados. Veja abaixo:
Combustíveis e lubrificantes: -0,1%
Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: -1,6%
Tecidos, vestuário e calçados: -8,2%
Móveis e eletrodomésticos: -5,9%
Artigos farmacêuticos, medicinais, ortopédicos e de perfumaria: 2,6%
Livros, jornais, revistas e papelaria: -26,5%
Equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação: 2,2%
Outros artigos de uso pessoal e doméstico: 8,3%
Segundo Santos, a queda na atividade dos supermercados pode ter influência da retirada do Auxílio Emergencial e do aumento da inflação dos alimentos.
Por outro lado, houve alta nos setores de Outros artigos de uso pessoal e doméstico, Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação.
Comércio varejista ampliado
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e de material de construção, o volume de vendas recuou 2,1% em relação a dezembro de 2020 – segundo mês com resultado negativo seguido -, influenciado negativamente por Veículos, motos, partes e peças, que registrou -3,6% e, positivamente, por Material de construção com variação de 0,3%.
“Janeiro foi um mês de repique da pandemia, com restrições de funcionamento de estabelecimentos comerciais em alguns estados, que refletiram de maneira mais forte no setor de veículos. Veículos tem o segundo maior peso no comércio, e já vinha de uma queda em dezembro (-3,3%)”, diz Santos.
Na comparação com janeiro de 2020, o comércio varejista ampliado caiu 2,9%, primeiro resultado negativo após seis meses de variações positivas. O indicador acumulado nos últimos 12 meses sinalizou intensificação na perda de ritmo na passagem de dezembro (-1,4%) para janeiro (-1,9%).
O setor de Material de Construção tem apresentado trajetória de crescimento nos últimos meses. Em relação a janeiro de 2020, o setor registrou o oitavo mês seguido de taxas positivas.
Comparação interanual
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a variação de -0,3% interrompe o crescimento observado desde setembro de 2020, segundo o IBGE.
O setor de Tecidos, vestuário e calçados, com queda de 21,1%, exerceu a maior contribuição, no campo negativo, para o comércio varejista – a atividade registra seu 11º mês consecutivo de taxas negativas, o que coincide com o período em que começaram as restrições de circulação de pessoas e fechamento de lojas físicas por conta de pandemia.
A atividade de Combustíveis e lubrificantes teve decréscimo de 8,2%, contabilizando 11 meses de quedas – o setor também tem sido um dos mais impactados pelas medidas de restrição de circulação, que diminuíram a demanda por combustíveis a partir de março de 2020.
O segmento de Móveis e Eletrodomésticos registrou em janeiro de 2021 o primeiro resultado negativo (-5,4%), após sete meses de taxas positivas.
No caso de Livros, jornais, revistas e papelaria, a queda de 53,1% foi a mais intensa queda desde abril de 2020 (-70,3%) e a 12ª taxa no campo negativo.
Por outro lado, o setor de Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo registrou alta de 1,4% – a atividade apresentou, desde fevereiro de 2020, um único recuo, em novembro de 2020, de 1,8%.
Amazonas tem maior queda
O comércio varejista teve variações negativas em 23 das 27 unidades da Federação em janeiro em relação a dezembro. O pior resultado veio do Amazonas, onde as vendas caíram 29,7%, mais que o triplo de outros estados, na comparação com dezembro de 2020.
“Com o agravamento da pandemia em janeiro no estado, foi decretado um lockdown, que fechou todo o comércio novamente, assim como aconteceu em março de 2020. Isso fez os indicadores do comércio do Amazonas caírem bastante no período”, explica Cristiano Santos.
Regionalmente, as outras maiores quedas do varejo ficaram com Rondônia (-9,1%), Ceará (-4,9%), Mato Grosso (-4,2%) e Santa Catarina (-4,1%).
Por outro lado, os únicos quatro estados que tiveram aumento nas vendas, em janeiro, foram Minas Gerais (8,3%), Tocantins (3,7%), Acre (1,1%) e Mato Grosso do Sul (0,8%).
No comércio varejista ampliado, a queda foi em 25 das 27 unidades da Federação, com as mais intensas no Amazonas (-33,9%), Rondônia (-5,8%) e Distrito Federal (-4,7%).
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