Com queda mensal recorde, setor passa a acumular perda de 18,6% em dois meses, em meio à pandemia. Movimentação foi grande no Centro do Recife nesta segunda-feira (15), com a reabertura do comércio de rua
Marlon Costa/Pernambuco Press
As vendas do comércio varejista registraram tombo recorde de 16,8% em abril, na comparação com março, segundo dados divulgados nesta terça-feira (16) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“É o pior resultado desde o início da série histórica, em janeiro de 2000, e a segunda queda consecutiva, acumulando uma perda de 18,6% no período”, informou o IBGE, destacando que esta foi a primeira vez que a pesquisa refletiu um mês inteiro sob o quadro de isolamento social, que começou a ser adotado no país na segunda quinzena de março.
Na comparação com abril do ano passado, a a queda também foi de 16,8%.
Vendas do comércio mês a mês
Economia G1
Com o tombo de abril, o patamar de vendas do comércio encolheu para uma mínima recorde, 22,7% abaixo da máxima histórica, registrada em outubro de 2014.
No acumulado no ano, o setor passa a registrar queda de 3%. Já no acumulado nos últimos 12 meses ainda tem alta de 0,7%.
Queda em todas as atividades
Pela terceira vez desde o início da série da pesquisa, houve queda em todas as 8 atividades pesquisadas pelo IBGE.
O maior tombo foi no ramo de Tecidos, vestuário e calçados (-60,6%), seguido de Livros, jornais, revistas e papelaria (-43,4%) e Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-29,5%).
Nos ramos de supermercados e artigos farmacêuticos – atividades consideradas essenciais e que tinham registrado alta em março – houve queda de 11,8% e de 17%, respectivamente, em abril.
“Tivemos também uma redução da massa salarial que, entre o trimestre encerrado em março para o encerrado em abril, caiu 3,3%, algo em torno de R$ 7 bilhões. Isso também refletiu nessas atividades consideradas essenciais”, explicou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
Veja o desempenho de cada atividade do varejo em abril:
Combustíveis e lubrificantes: -15%
Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: -11,8%
Tecidos, vestuário e calçados: -60,6%
Móveis e eletrodomésticos: -20,3%
Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: -17%
Livros, jornais, revistas e papelaria: -43,4%
Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: -29,5%
Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -29,5%
Veículos, motos, partes e peças: -36,2% (varejo ampliado)
Material de construção: -1,8% (varejo ampliado)
Impactos da pandemia e cenário de recessão
O tombo nas vendas do varejo evidencia a dimensão dos impactos da pandemia de coronavírus e das medidas de isolamento social na atividade econômica.
Na produção industrial, a queda foi de 18,8% em abril, o maior declínio mensal já registrado pela série histórica da pesquisa, iniciada em 2002. Já os dados do setor se serviços serão divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (17).
Os indicadores prévios de maio apontam que apesar da leve melhora na confiança, a atividade do setor se manteve em nível crítico no mês passado, em meio às elevadas incertezas na economia e cenário de nova recessão.
Os economistas do mercado financeiro continuam piorando as estimativas para o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil neste ano.
Mesmo após a reabertura de boa parte do comércio e da economia no país, a projeção do mercado passou de queda de 6,48% para um tombo de 6,51% em 2020, conforme boletim “Focus” do Banco Central divulgado na segunda-feira. Caso a expectativa se confirme, será o pior desempenho anual desde 1901, pelo menos.
Já a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estima que a retração do PIB do Brasil poderá chegar a 9,1% em caso de segunda onda da pandemia e necessidade de regresso aos confinamentos.
Pesquisas divergem sobre segunda onda da epidemia, mas concordam que reabertura é precoce
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