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Vazamento de óleo nas Ilhas Maurício ameaça biodiversidade; governo quer responsabilizar donos de navio

Quase 1 mil toneladas de combustível foram derramadas no mar, perto de locais importantes de conservação. Governo do país quer que donos da embarcação japonesa arquem com custos. Imagem registrada pelo Exército Francês na terça-feira (11) mostra o vazamento de óleo do navio MV Wakashio nas Ilhas Maurício
Gwendoline Defente, EMAE via AP
As Ilhas Maurício ainda trabalham para retirar quase 1 tonelada de óleo que vazou de um navio japonês encalhado há quase um mês. Embora o governo local tenha dito que o derramamento está contido, a substância ainda ameaça vastas áreas úmidas protegidas, repletas de manguezais, corais e peixes.
Por isso, nesta quarta-feira (12), autoridades do país localizado no Oceano Índico anunciaram que pretendem responsabilizar os donos do navio MV Wakashio, operado pela empresa Mitsui OSK Lines, que encalhou em um recife em 25 de julho.
Para prevenir novos vazamentos, o primeiro-ministro das Ilhas Maurício, Pravind Jugnauth, anunciou nesta quarta que as 3,8 mil toneladas de combustível transportadas pelo navio foram totalmente bombeadas de seus tanques.
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No entanto, segundo a agência France Presse, a situação ainda preocupa porque o óleo vazou em área muito próxima a importantes locais incluídos na Convenção Internacional sobre a Conservação de Zonas Úmidas nas Ilhas Maurício.
Sunil Dowarkasing, um ex-colaborador do Greenpeace e que participa das operações de limpeza, disse à AFP que esses dois locais de preservação — Blue Bay e Pointe d’Esny — ainda parecem poupados de danos. Porém, os riscos continuam.
Veja um resumo dos problemas.
Imagem de satélite desta quarta (12) mostra extensão dos danos ao mar perto de Pointe d’Esny, nas Ilhas Maurício, após derramamento de óleo
HANDOUT / SATELLITE IMAGE ©2020 MAXAR TECHNOLOGIES / AFP
Blue Bay
Pequenas quantidades de óleo combustível já foram observadas no parque marinho de Blue Bay, um local de 353 hectares que abriga 38 variedades de coral, incluindo o “coral cérebro” esférico com mais de cem anos.
O combustível foi “imediatamente contido” pelas operações de limpeza, disse Dowarkasing. O local fica ao lado da praia de Blue Bay, popular entre os turistas.
“Se o parque marinho de Blue Bay for poluído, perderemos uma joia das Ilhas Maurício”, disse Dowarkasing.
Manguezais, tapetes de ervas marinhas e algas gigantes “contribuem para o equilíbrio geral do ambiente marinho” e fornecem habitat “para cerca de 72 espécies de peixes e tartarugas verdes ameaçadas de extinção”, afirma a convenção Ramsar em seu site.
Pointe d’Esny
As águas salobras e rasas dos 22 hectares do local de Pointe d’Esny são o lar de manguezais, lodaçais, plantas ameaçadas e borboletas endêmicas de Maurício.
O local é mais protegido do que Blue Bay, pois é separado da lagoa por uma estrada costeira e habitações.
Mas as raízes dos manguezais têm a capacidade de armazenar óleo combustível, de acordo com Dowarkasing, o que torna o local de Pointe d’Esny vulnerável.
As Ilhas Maurício têm um terceiro sítio, o santuário de pássaros do estuário Rivulet Terre Rouge. Esta reserva está localizada no lado oposto da ilha, não muito longe da capital Port-Louis, e não está ameaçada pela poluição do MV Wakashio.
Cilindro de cabelos e folhas
Imagem aérea de vazamento de óleo nas Ilhas Maurício, em 6 de agosto de 2020
Stringer/AFP
Os moradores das Ilhas Maurício estão usando cilindros permeáveis de cabelo e folhas para tentar limpar o óleo que vazou de um navio japonês encalhado em uma praia do arquipélago no Oceano Índico.
As Ilhas Maurício declararam estado de emergência. Segundo o grupo ambientalista Greenpeace, essa pode ser uma grande crise ecológica.
Reprodução de um vídeo feito por drone mostra tentativa de limpar mar das Ilhas Maurício, em 8 de agosto de 2020
Reuben Pillay /Virtual Tour of Mauritius/via Reuters
Romina Tello, 30, fundadora da agência de ecoturismo Mauritius Conscious, passou o fim de semana ajudando a limpar a lama negra dos manguezais. Ela disse que os mauricianos estavam fazendo os cilindros para flutuar no mar com folhas de cana-de-açúcar, garrafas plásticas e cabelos que as pessoas cortavam voluntariamente. A ideia é que esse material absorva e retenha o óleo, que é viscoso, nas águas.
“O cabelo absorve óleo, mas não água, e há uma grande campanha em torno da ilha para conseguir o cabelo”, disse Tello.
Vídeos online mostram voluntários costurando folhas e cabelos em redes para flutuar na superfície e encurralar o óleo até que ele possa ser sugado por mangueiras.
Escolas de mergulho, pescadores e outros se juntaram ao esforço de limpeza, com alguns fornecendo sanduíches, pousadas que oferecem acomodação gratuita para voluntários e cabeleireiros que oferecem descontos para aqueles que doam cabelo, disse Tello.
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