Daqui até novembro, o presidente Donald Trump só terá olhos para sua reeleição, como aliás teria qualquer político, em qualquer parte do mundo. Mas em seu caso específico, a busca por mais quatro anos de Casa Branca significará, preparemo-nos todos, turbulência monumental nos âmbitos das políticas interna e externa dos EUA.
Trump simplesmente não é alguém que encare com sobriedade e placidez a hipótese de vir a converter-se num ‘lame duck’ (pato manco), como a gíria política norte-americana designa o político em fim de linha, derrotado eleitoralmente ou incapaz de fazer seu sucessor. Tomar um chute nos fundilhos, a essa altura dos acontecimentos, representaria para ele, política e pessoalmente, um absoluto desastre.
No cenário interno, terá de prestar contas ao eleitorado por sua atuação (ou falta de) no trato da pandemia. Para seu azar, o Covid-19 começou sua incursão nos EUA pelas regiões predominantemente dominadas pelo Partido Democrata (que lhe faz oposição), onde agora as curvas de contágio já se estabilizaram ou declinam.
Foi a etapa do Trump sem máscara, e de seu descaso – no que foi acompanhado pelos governadores do Partido Republicano – quanto à tomada de precauções ou medidas preventivas (vistas como frescuras dos democratas) para se lidar com a pandemia.
Mas agora, o novo coronavírus alcança com força as áreas onde o Partido Republicano tem suas bases mais sólidas. Levantamento recentíssimo feito pela Associated Press indica que hoje 75% dos novos casos do Covid-19 ocorrem em estados nos quais Trump obteve vitória em 2016. Os óbitos igualmente aumentam nessas áreas.
Os resultados das últimas pesquisas específicas, feitas no decorrer do mês de julho, sobre “aprovação-desprovação do Presidente” não são, contudo, animadores para Trump: YouGov (28 a 30 de julho): 57% de desaprovação em uma pesquisa (Adultos), 53%, numa segunda (Eleitores Registrados). Outra pesquisa, da Rassmunsen (27 a 29 de julho), feita com Prováveis Eleitores, é mais favorável ao Presidente: 51% de desaprovação. A tradicional Gallup (Adultos, 1 a 23 de julho) registrou essa rejeição em 56%.
Com olhos na situação desfavorável em que se encontra nas pesquisas, Trump levantou, na quinta-feira (30 de julho), a ideia de que as eleições gerais de 3 de novembro sejam adiadas. Como essa modificação não é prerrogativa do Executivo, a ideia foi rejeitada de imediato por Democratas e Republicanos. Nem mesmo senadores republicanos, como Ted Cruz, Lindsey Graham e Marco Rubio levaram a sugestão a sério.
Pedro Luiz Rodrigues, Embaixador aposentado, é jornalista.
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