Rendimentos médios da categoria no segundo trimestre de 2020 chegaram a 76% do habitual; no mesmo período, domicílios sem renda do trabalho subiram de 25% para 31,5%. Restaurante de Campinas fechado há quase quatro meses por causa da pandemia da Covid-19
Sérgio de Simone/Arquivo pessoal
Os trabalhadores por conta própria tiveram a maior redução de renda habitual em 2020, ano de maior impacto na economia da pandemia do coronavírus. Segundo pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada nesta quinta-feira (8), esses trabalhadores receberam apenas 76% da renda média habitual no segundo trimestre do ano passado em comparação com o mesmo período de 2019.
Com a reabertura da economia ao longo de 2020, houve alguma recuperação dos rendimentos de trabalhadores por conta própria, mas, no quarto trimestre, haviam recuperado apenas 90% da renda habitual para a categoria. Foi o pior resultado entre as divisões estudadas pelo Ipea.
Investimentos na economia começam 2021 em queda, mostra Ipea
Saíram-se melhor os trabalhadores da iniciativa privada com carteira assinada e os servidores públicos. Ambos colheram 105% da renda habitual no quarto trimestre. Naquele segundo trimestre mais dramático, houve pouca alteração: 100% e 101%, respectivamente.
O trabalhador privado sem carteira assinada teve 96% do rendimento nessa janela final de 2020. Entre abril e junho, chegou a 86% da renda habitual.
“A partir do trimestre móvel iniciado em abril, a renda efetiva apresentou consecutivas quedas, apenas se recuperando após setembro. Entretanto, nos trimestres móveis terminados em dezembro e janeiro, a renda efetiva voltou a mostrar uma queda de 1% e 2,4%, respectivamente, sinalizando possivelmente um recrudescimento do impacto causado pela pandemia”, diz o estudo.
Domicílios sem renda
Número de brasileiros que vivem na pobreza quase triplicou em seis meses, diz FGV
As contas de rendimento habitual e efetivo feitas pelo Ipea sofrem variações de acordo com a saída de trabalhadores da força de trabalho. Mas é calculada também a quantia de domicílios sem renda do trabalho, que ajuda a entender se há alguma recuperação à vista.
No primeiro trimestre, eram 25% dos domicílios que não contavam com renda do trabalho. No período seguinte, o número saltou para 31,5%. O resultado final de 2020 mostra, portanto, a lentidão da recuperação. No último trimestre, a estatística fechou em 29%, ainda quatro pontos percentuais acima do que era antes da crise.
“Houve também um aumento da proporção de domicílios na faixa de renda mais baixa e uma diminuição da proporção nas demais faixas”, diz o Ipea.
Em outro efeito claro da pandemia, houve redução temporária das horas trabalhadas nas categorias que não puderam mover a produção para o trabalho remoto. Ainda que a média final no ano tenha sido mantida em 39,5 horas por semana, o segundo trimestre chegou a registrar apenas 78% desse total.
Como indica o Ipea, o impacto foi maior entre os informais do setor público (72%) e os trabalhadores por conta própria (73%). “No quarto trimestre, esses dois tipos de vínculo registraram 92% e 94% das horas habitualmente trabalhadas, respectivamente”, diz o estudo.
Comentar