Do diagnóstico à independência: No Dia Internacional da Síndrome de Down, acompanhe nesta reportagem
a importância da educação e do acolhimento na jornada das pessoas com Síndrome de Down.
Celebrando a diversidade
Em 21 de março, o mundo celebra o Dia Internacional da Síndrome de Down, uma data reconhecida desde 2012 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de ampliar a conscientização sobre essa condição genética singular. A Síndrome de Down é causada pela triplicação (trissomia) do 21º cromossomo e representa aproximadamente 25% de todos os casos de deficiência intelectual. No Brasil, estima-se que ocorra 1 a cada 600 a 800 nascimentos, totalizando cerca de 300 mil pessoas com síndrome de Down. Essa data não apenas celebra a diversidade e a inclusão, mas também destaca a importância de entender e apoiar as necessidades das pessoas com essa síndrome desde os primeiros anos de vida, especialmente no contexto da educação infantil.
Crianças com Síndrome de Down são verdadeiros tesouros, dotados de singularidades e potencialidades que merecem ser reconhecidos e estimulados desde os primeiros anos de vida. Nesta reportagem, abordaremos aspectos cruciais sobre a Síndrome de Down na primeira infância, sua relação com a educação infantil e como pais, educadores e profissionais da saúde podem contribuir para o desenvolvimento pleno dessas crianças.
Para enriquecer nossa análise, contamos com a valiosa contribuição da Drª Amanda Alves Cunha, psicopedagoga e consultora técnico-científica da Treinitec, empresa de tecnologia assistiva para crianças com deficiência.
Estimulação desde os Primeiros Passos
Segundo a Drª Amanda, é essencial que os pais de crianças com Síndrome de Down estejam preparados para oferecer apoio, estimulação e oportunidades desde os primeiros anos de vida. A estimulação precoce, que envolve atividades sensoriais, cognitivas e de coordenação motora, é fundamental para o desenvolvimento saudável da criança. O brincar, por exemplo, desempenha um papel crucial, permitindo que a criança explore o mundo ao seu redor e desenvolva habilidades de forma lúdica.
No ambiente escolar, a inclusão é uma peça-chave. Garantir a presença dessas crianças em salas de aula regulares proporciona oportunidades valiosas de interação e aprendizado. Adaptações no ambiente e no material escolar são bem-vindas para assegurar que todas as crianças possam participar plenamente das atividades educacionais.
“Não podemos esquecer, também, do Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) orientando todo o trabalho pedagógico que a criança com Síndrome de Down terá na escola. O PDI é construído considerando as habilidades e dificuldades da criança e deve ser implementado desde a educação infantil, por ser um direito da criança com Necessidades Educacionais Especiais”, ressalta Drª Amanda.
Lidando com as Diferenças: Aceitação e Valorização
A compreensão e a aceitação das diferenças são essenciais ao lidar com crianças com Síndrome de Down. É fundamental reconhecer e valorizar suas habilidades, personalidade e contribuições únicas. A comunicação clara e empática, aliada a uma abordagem individualizada, pode facilitar significativamente a interação e o desenvolvimento dessas crianças.
A Drª Amanda destaca a importância de concentrar-se nas habilidades e interesses da criança, promovendo um ambiente inclusivo e respeitoso. Parcerias entre educadores, profissionais de saúde e família são fundamentais para o desenvolvimento de um plano abrangente de apoio à criança, visando maximizar seu potencial e atender às suas necessidades específicas.
“Envolva a criança em atividades que ela consiga realizar, isso pode promover um senso de realização e autoconfiança nela. Reconheça que cada criança com Síndrome de Down é única, respeite as individualidades e interesses, evite comparações com outras crianças”, destaca a especialista.
Desafios e Superacões
Crianças com Síndrome de Down podem enfrentar uma variedade de desafios no início da vida escolar. Dificuldades de aprendizagem, comunicação e saúde podem afetar sua participação no ambiente escolar. Professores e cuidadores devem estar atentos a essas questões e oferecer suporte adequado, incluindo estratégias de manejo comportamental e encaminhamento para especialistas, se necessário.
“Problemas cardíacos, respiratórios, problemas de visão ou audição podem estar presentes na criança com Síndrome de Down. O professor precisa ficar atento, e se perceber dificuldades na criança, deve solicitar acompanhamento com médico especialista, se a criança ainda não tiver. Isso pode afetar a participação da criança na escola, que pode ficar afastada do ambiente escolar se apresentar algum problema mais sério que mereça internação ou cirurgia”, explica Drª Amanda.
É importante ressaltar, no entanto, que crianças com Síndrome de Down são capazes de alcançar grandes realizações. Exemplos inspiradores de adultos bem-sucedidos, como artistas, atletas e profissionais em diversas áreas, destacam o potencial e a resiliência dessas pessoas.
Em suma, a Síndrome de Down na primeira infância traz consigo desafios, mas também oportunidades de crescimento e aprendizado. Com apoio adequado e uma abordagem centrada na inclusão e na valorização das diferenças, cada criança pode alcançar seu pleno potencial, contribuindo de forma significativa para a sociedade.
“Pais e educadores devem trabalhar juntos, fornecendo apoio e os recursos necessários para ajudar as crianças com Síndrome de Down a superar esses desafios (e outros que possam surgir) e alcançar seu pleno potencial na escola e na vida”, completa a psicopedagoga.
Iniciativas Inovadoras: Pessoas com Síndrome de Down no Mundo Profissional
A trajetória de Maria Clara Ribeiro Maciel de Carvalho e Felipe Ribeiro Lima ilustra vividamente a crescente presença de pessoas com Síndrome de Down em uma variedade de setores profissionais. O casal, apoiado por seus familiares, desafia os estereótipos, demonstrando que a Síndrome de Down não é um impedimento, mas sim um diferencial valioso. Felipe tornou-se reconhecido como o primeiro DJ com Down do Brasil e também se destaca no telemarketing, onde trabalha com distinção em um call center. Por sua vez, Maria Clara começou sua carreira como funcionária em uma loja de doces em Vitória (ES) e, devido ao seu sucesso, tornou-se proprietária do negócio.
Felipe Ribeiro dando os primeiros passos como DJ com Síndrome de Down. Imagem:Reprodução/ Facebook.
Esses exemplos inspiradores não são casos isolados. No campo cultural, a peça teatral “As Aventuras da Fada Amor“ é um exemplo marcante. Com Gabriela Carrara, atriz com Síndrome de Down no papel principal, a produção desafia estereótipos e abre portas para o reconhecimento do talento artístico das pessoas com Síndrome de Down, contribuindo para uma maior diversidade nas artes cênicas.
“Iniciativas bem-sucedidas de indivíduos com Down em vários setores profissionais estão se multiplicando por todo o país. Precisamos dar mais visibilidade a esses casos para que outras pessoas com a Síndrome tenham também oportunidades e descubram o seu potencial”, lembra o Defensor Público Federal André Naves, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social.
No âmbito dos negócios inclusivos, o Bellatucci Café, em Pinheiros, São Paulo, se destaca como uma referência. Sob a liderança de Jéssica Pereira da Silva, de 32 anos, a primeira empreendedora com Síndrome de Down no Brasil, a cafeteria não só oferece um ambiente acolhedor e delícias culinárias, mas também transmite uma mensagem poderosa de amor e inclusão, gerando oportunidades de trabalho e renda para pessoas com Síndrome de Down.
Essas histórias de sucesso marcam um novo capítulo na mentalidade brasileira. À medida que a conscientização sobre a Síndrome de Down aumenta e os preconceitos diminuem, espera-se que mais portas se abram para a inclusão no mercado de trabalho.
Apoio para Inclusão Social e Profissional
O Grupo Chaverim, “Amigos” em hebraico, é uma das instituições beneficentes que oferecem apoio às pessoas com deficiências intelectuais e psicossociais no Brasil. Localizado em São Paulo, o grupo tem sido fundamental na assistência a pessoas com Síndrome de Down nas áreas da educação e do trabalho. David Goldzveig, de 31 anos, é um exemplo notável disso. Ele trabalha na Serasa, estuda na ADID, pratica natação e ginástica artística, e participa da “Dog Day Club“, onde cuida dos cachorros e ajuda na limpeza.
“Apesar dos avanços, ainda há muitos desafios a serem enfrentados. A inclusão plena no mercado de trabalho requer não apenas políticas e leis inclusivas, mas também uma mudança cultural que reconheça e celebre a diversidade em todas as suas formas. A presença cada vez mais notável de pessoas com Síndrome de Down em diversos setores profissionais não apenas desafia as expectativas sociais, mas também enriquece as comunidades e promove uma sociedade mais justa e inclusiva“, conclui o Defensor Público André Naves.
Apoio Integral: Instituições Comprometidas com a Síndrome de Down
Além dos esforços individuais e iniciativas empreendedoras, diversas instituições se dedicam a oferecer suporte e recursos às pessoas e famílias que lidam com a síndrome de Down. Uma dessas instituições é o Instituto Jô Clemente (IJC), uma referência nacional na inclusão de pessoas com Deficiência Intelectual, Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Doenças Raras. O IJC oferece o Programa Momento da Notícia, um serviço especializado de atendimento voltado para pais de bebês diagnosticados com deficiência intelectual e síndrome de Down.
No Programa Momento da Notícia, o acolhimento é conduzido por psicólogos e outros pais que compartilham suas experiências. “O apoio de outros pais voluntários é fundamental para trazer conforto e formar uma comunidade que se une em prol da inclusão social, cidadania e luta por direitos da pessoa com deficiência“, afirma Kelly Carvalho Freitas, supervisora técnica do serviço de Estimulação e Habilitação do IJC.
O programa oferece apoio psicológico, orientação sobre cuidados básicos, estimulação precoce e acesso a informações essenciais para o desenvolvimento do bebê. O acompanhamento é multidisciplinar, incluindo fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional.
Após passarem pelo programa, as crianças e adultos com síndrome de Down podem ser encaminhadas para outros serviços dentro do Instituto, como o de Longevidade, que visa proporcionar desenvolvimento contínuo e independência na sociedade. Esse serviço oferece reabilitação funcional, sensorial e psicossocial por meio de terapias que utilizam interações artísticas, jogos lúdicos e atividades físicas.
Além dos programas de apoio e promoção da saúde, o Instituto Jô Clemente investe em Pesquisa e Inovação. Em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), lançou o Coorte T21 São Paulo, o primeiro grande estudo dedicado à saúde e ao desenvolvimento de crianças com Síndrome de Down nos primeiros três anos de vida. Este estudo visa compreender como diferentes fatores podem afetar o desenvolvimento e a saúde dessas crianças ao longo da vida, contando com a participação de colaboradores internos e parcerias com renomadas universidades do exterior.
Essas iniciativas não apenas oferecem apoio vital às crianças com síndrome de Down e suas famílias, mas também contribuem significativamente para o avanço do conhecimento e da inclusão na sociedade.
Gostou desta reportagem especial? Deixe seu comentário sobre o tema e continue navegando no portal Primeira Educação para se manter atualizado sobre os principais assuntos relacionados à educação infantil e primeira infância.
Comentar