Se houver viagens de férias na Europa, elas dificilmente passarão das fronteiras regionais este ano. Os ministros do Turismo têm algumas ideias mirabolantes, mas nenhum plano concreto para ajudar setor. Praia deserta na Itália. É possível conciliar distanciamento social com turismo?
Reuters/Jennifer Lorenzini
Ninguém sabe dizer quando as fronteiras europeias serão novamente abertas para viagens, afirmou o encarregado de turismo do Ministério alemão da Economia, Thomas Bareiss.
Ele acrescentou que, no caso dos turistas alemães, o mais provável é que eles passem as próximas férias em sua própria região do que em destinos como Espanha e Grécia.
A situação do setor de turismo é catastrófica, tanto na Alemanha como no Sul da Europa e no Mediterrâneo. A queda nas reservas de pacotes de viagem deve chegar a 70% na Alemanha, estima a associação das agências de viagens.
Já a Comissão Europeia afirma que os cruzeiros marítimos serão os mais afetados, com uma queda de 90%.
Numa reunião de ministros europeus do Interior, esta semana, o representante croata e presidente do conselho de ministros, Davor Bozinovic, disse que a reabertura das fronteiras, tanto internas como externas, será feita de forma muito cautelosa.
“Fomos unânimes na avaliação de que é sobretudo importante impedir uma nova onda de infecções” por coronavírus, disse, sem detalhar prazos.
O setor de turismo representa 10% do Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia (UE). Em alguns países, como Grécia e Malta, o percentual chega a 20% ou até 25%.
Na Espanha, o turismo gera cerca de 145 bilhões de euros anuais. Já os hotéis e as agências de viagens da Alemanha faturam cerca de 240 bilhões de euros por ano.
O ministro do Turismo da Croácia, Gari Cappelli, disse esperar que os europeus do Norte viajem para o Sul no verão, apesar da pandemia, quase como um gesto de solidariedade. “Precisamos de um plano comum para a reconstrução do turismo”, disse Capelli.
Como também é necessário um conceito unificado de saúde, pode-se então emitir um “passe de saúde corona” para todos os turistas, viajantes e organizadores de eventos.
A ministra do Turismo de Malta, Julia Farrugia Portelli, defendeu padrões de saúde unificados na União Europeia para hotéis, restaurantes, aviões e praias. “Há riscos, mas temos de gerenciar esses riscos”, declarou Farrugia Portelli na mesma reunião de ministros.
Outros governos são mais cautelosos e adotam outras abordagens. A Áustria, por exemplo, vai reabrir seus hotéis em 29 de maio, mas eles somente poderão hospedar viajantes de países vizinhos e, de preferência, de regiões de baixa taxa de infecção. O chanceler federal Sebastian Kurz pediu a seus compatriotas que, excepcionalmente neste ano de pandemia de coronavírus, passem suas férias no próprio país.
Na Itália, hoteleiros e operadores de praias privadas estão pensando em conceitos pouco usuais para garantir a distância mínima entre os eventuais turistas. Nas praias, a ideia é instalar divisores de acrílico. Os hotéis não poderiam passar da metade de sua capacidade e servir menus de apenas um prato em mesas distantes ao menos dois metros umas das outras.
A Grécia avalia a criação de uma espécie de “corredor de turismo” a partir da Europa Ocidental: viajantes comprovadamente saudáveis seriam transportados em aviões especiais para instalações de férias verificadas e livres de coronavírus, explicou o ministro grego do Turismo, Charis Theocharis.
Na Bélgica, uma ideia avaliada é criar bilhetes de entrada para as praias. Outros ministros europeus do Turismo querem incentivar as férias no interior para não sobrecarregar os hotéis e praias.
Mas os ministros do Interior da UE ainda não deram uma data de quando pretendem definir um plano comum de abertura de fronteiras. Responsáveis por diretrizes de viagens na UE se mostram cuidadosos e dizem que, antes de mais nada, é necessário levantar as barreiras para se viajar dentro dos países.
Só depois se poderia falar sobre viagens de uma região para a outra e, depois ainda, entre países vizinhos e só aí, dentro da União Europeia. Sobre viagens para a Ásia, Estados Unidos ou outras regiões do planeta não há qualquer previsão.
Mas nada disso considera o que pensam os próprios turistas, que, afinal, querem descansar e recuperar forças. Será que eles ainda vão querer viajar para praias com divisores de acrílico, sem bares nem esporte na areia?
A presidente da associação hoteleira de Maiorca Fehm, Maria Frontera, argumenta que o mais importante é justamente transmitir segurança ao turista.
“Não se trata de alcançar o quanto antes a situação anterior à crise, mas a segurança necessária. Precisamos construir confiança e não podemos nos permitir erros. Os destinos que primeiramente conseguirem controlar a situação e souberem comunicar isso de forma credível nos mercados de origem levarão vantagem quando tudo começar de novo”, declarou Frontera à revista Mallorca-Magazin.
A Organização Mundial do Turismo, uma agência da ONU, calcula que 96% de todos os destinos de férias no mundo foram afetados por restrições de viagens causadas pela pandemia de coronavírus.
O secretário-geral da OMT, Zurab Pololikashvili, que participou da reunião dos ministros europeus, defendeu que as restrições sejam levantadas o quanto antes.
“Esta crise nos mostrou a força da solidariedade além-fronteiras. Mas palavras bonitas não vão, sozinhas, salvar milhões de empregos”, declarou Pololikashvili, que pediu mais ajuda para a reconstrução do setor. “Exigimos que o turismo receba o apoio necessário para que possa ser líder na reconstrução da economia.”
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