O Ministério do Meio Ambiente não enviou representantes para o Congresso Mundial da Natureza, encontro internacional mais importante para debater a situação da biodiversidade do planeta. Queimada de floresta amazônica ao lado da BR 163 no Pará deixou grande número de árvores mortas em julho de 2021 (na imagem, sem folhas e esbranquiçadas)
Marizilda Cruppe/Rede Amazônia Sustentável
O encontro internacional mais importante para debater a situação da biodiversidade no planeta pressiona o Brasil a preservar a Amazônia, lar de uma fauna inigualável no mundo. O Ministério do Meio Ambiente, entretanto, não enviou representantes para o Congresso Mundial da Natureza, que acontece em Marselha (sul).
O evento ocorre a cada quatro anos e estava previsto para 2020, mas foi adiado por conta da pandemia de coronavírus. Brasília enviou um diplomata da sua embaixada na capital francesa para acompanhar o congresso, no sul.
Quase 30% das espécies conhecidas no planeta correm risco de extinção
Na cerimônia de abertura, o presidente francês, Emmanuel Macron, discursou instantes depois de o fotógrafo Sebastião Salgado clamar pela proteção da maior floresta tropical da Terra. Macron ressaltou a determinação de Paris em encerrar o chamado desmatamento importado – quando a compra de produtos agrícolas por um país gera devastação no país produtor e exportador.
“A França foi um dos primeiros países a propor uma estratégia de combate ao desmatamento importado. Ela se tornou lei e queremos acelerar para que, em nível europeu, tenhamos uma estratégia clara e forte contra o desmatamento importado”, explicou Macron. “Isso significa não comprar mais soja ou proteínas quando elas levam ao desmatamento, especialmente na Amazônia”, complementou.
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Impacto econômico do desmatamento
O presidente francês voltou a afirmar que, por razões ambientais, não aceitará o acordo comercial assinado entre a União Europeia e o Mercosul. O tratado pretende livrar de taxas as importações do Brasil – compostas essencialmente por matérias-primas, mas cuja procedência é cada vez mais questionada pelos europeus, inclusive as multinacionais. Macron tem insistido na ideia de soberania proteica da França, outro tópico que ele destacou no congresso da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN).
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“Isso tem um impacto muito grande na economia brasileira. Não estamos só falando de uma questão ambiental, e sim para os que comercializam a soja, que terão um impacto grande do que está sendo discutido aqui”, disse Roberto Palmieri, gerente de projetos do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), em entrevista à RFI. Ele lidera a comitiva sul-americana da sociedade civil no evento. “A cultura da soja tem se ampliado nos últimos anos. Mas é possível se pensar numa produção de soja e de carne, se pensamos nas culturas mais polêmicas, bem mais sustentável”, garante Palmieri.
De quarta a sexta-feira, os membros do IUCN, vindos de 160 países, deliberam sobre como evitar um declínio ainda maior da biodiversidade mundial. Um relatório divulgado esta semana pela instituição demonstrou que 28% das espécies catalogadas correm risco de extinção. Temas como o uso de agrotóxicos, a poluição de plásticos nos oceanos e a degradação dos solos pela agricultura são amplamente abordados, e resultarão em uma série de recomendações, ao final do evento.
“Alguns governos se pautam muito por essas moções, e o governo brasileiro historicamente tinha participações, mas não se assumia como membro da IUCN. Agora, o que aconteceu com o governo atual foi realmente ignorar esse congresso. Num encontro mundial, com tantos países, o Brasil foi o país mais citado na abertura”, observa o gerente do Imaflora.
Constrangimento internacional
Foto aérea mostra área de desmatamento em Rondônia em julho de 2021.
PF/Reprodução
O desmatamento ilegal e outras práticas irregulares em áreas protegidas são o calcanhar de Aquiles do Brasil na área ambiental. Presentes no congresso, grupos indígenas latino-americanos pediram que a preservação de 80% da Amazônia até 2025, com redução drástica do desmatamento e do garimpo, seja uma das moções aprovadas pelos países participantes.
Neste ano, pela primeira vez, os indígenas obtiveram uma condição especial neste congresso, com direito a se pronunciar oficialmente, embora não tenham direito a voto.
A aprovação da moção não gera nenhuma obrigação aos países, frisa Palmieri. “O que ela tem é um impacto político, de dizer que um congresso mundial com todos os países chegou àquela recomendação. Há uma concordância, são dez dias aqui discutindo, debatendo. Não é algo isolado só dos grupos indígenas”, detalha. “Gera um constrangimento. A IUCN tem a obrigação de endereçar uma carta a quem cabe, então certamente será endereçada ao governo brasileiro. Ele pode ignorar? Pode, mas é algo que desgasta a relação com outros países que estão aqui e com a própria França, que sedia a IUCN.”
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