Publicação foi feita no sábado (26) no perfil em rede social da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República. SECOM divulga informação incorreta sobre queimadas em 2020
A Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) publicou informações incorretas sobre as queimadas registradas no país em 2020.
A mensagem foi postada no sábado (26), no perfil da pasta em uma rede social:
“Mesmo com os focos de incêndio que acometem o pantanal e outros biomas brasileiros, a área queimada em todo o território nacional é a menor dos últimos 18 anos. Dados do ‘instituto nacional de pesquisas espaciais, o Inpe,’ revelam que 2007 foi o ano em que o brasil mais sofreu com as queimadas.”
A mensagem foi compartilhada pelo perfil oficial do Ministério do Meio Ambiente e dois ministros postaram a imagem do gráfico com os dados do Inpe: Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Fábio Faria (Comunicações), a quem a Secretaria de Comunicação é subordinada.
Porém, a mensagem publicada pela Secom desconsidera uma observação que a própria imagem postada traz: os números de 2020 se referem aos oito primeiros meses do ano – janeiro a agosto, enquanto os dados dos outros anos consideram os doze meses.
Os números usados são do Inpe, órgão do governo que monitora as queimadas no Brasil, e mostram que, até agosto deste ano, a área total de queimadas é de 121.318 quilômetros quadrados – menor que os outros dados da postagem da Secom.
Mas se considerarmos o mesmo período em anos anteriores – de janeiro a agosto – os números mudam bastante e mostram que, em 2020, o Brasil teve uma área queimada maior que em 2008, 2009, 2011, 2013, 2014, 2015, 2017 e 2018.
O Inpe afirma que a mensagem da Secretaria de Comunicação do governo não condiz com a forma correta de comparar os dados de cada ano.
O certo, segundo o órgão, é considerar períodos iguais, até porque há meses em que, naturalmente, há mais queimadas do que em outros.
O coordenador do programa de queimadas do Inpe, Alberto Setzer, considera grave uma interpretação parcial dos dados.
“Essa é uma falha muito óbvia, muito clara, na interpretação dos nossos dados. Não é correto você comparar o período de 8 meses, que é o que consta no nosso site na internet com os dados de outros anos relativos a 12 meses, levando em consideração que setembro, e mesmo outubro, são meses de muita incidência de fogo na região. Ou seja, a maior parte das queimadas ocorre nessa fase, como nós estamos acompanhando, e eliminar esses dados dos cálculos, não sei, é muito estranho, pra não usar uma palavra mais ofensiva.
Organizações ambientais também criticaram a postagem do governo. O porta-voz do Greenpeace no Brasil, Rômulo Batista, afirma que, infelizmente, esse tipo de publicação não é uma surpresa vindo do atual governo.
“A gente tem que lembrar que, primeiramente, ele tentou desqualificar os dados do Inpe. Mas, como esses dados são públicos e acessíveis pro escrutínio de qualquer pessoa, ele agora manipula os dados, tentando esconder a verdade: que o Pantanal, a Amazônia, o próprio Cerrado, enfim, o Brasil todo está em chamas”, disse.
O secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, afirma que o desmatamento está descontrolado no país e o governo tenta esconder os números e produzir informações irreais.
“Se o governo pegasse metade da energia que ele usa pra produzir dados falsos e colocasse esse esforço pra combater o desmatamento na Amazônia e as queimadas no Pantanal, talvez a gente já tivesse boa parte do problema resolvido. Nesse momento, nós temos as queimadas 200% maiores no Pantanal, e na Amazônia esse número é 12% maior. Portanto, não existe redução. O que tá acontecendo é que o Brasil tá sendo consumido pelas chamas”.
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