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RMC tem 220 mil desempregados e 55 mil procuram por trabalho há mais de dois anos, estima PUC

Na segunda reportagem da série que analisa crise na região, projeção do Observatório PUC-Campinas aponta ainda que 361.601 trabalham por conta própria na região de Campinas. Crise na RMC: moradores contam sobre o desemprego e informalidade
A crise econômica que dilapidou postos de trabalho elevou para 220 mil o número de pessoas desempregadas na Região Metropolitana de Campinas (RMC). Desse total, 25% estão à procura de recolocação no mercado formal há mais de dois anos. A estimativa faz parte do estudo feito pelo Observatório da PUC-Campinas e que o G1 publica ao longo desta semana em uma série de cinco reportagens.
RMC recupera só 32% dos postos perdidos na crise e ‘empobrece’ R$ 606 milhões
A recessão que derrubou a geração de emprego na região a partir de 2014 também criou novas relações de trabalho. Reflexo disso é o aumento da informalidade. O levantamento feito pelos economistas aponta que 361 mil trabalhadores atuam por conta própria [fora de empresas], além de 93.555 estão subocupados por insuficiência de horas.
“Emprego com carteira nem procuro mais. Todos os lugares que fui eu não consegui nada”.
A frase acima, do pedreiro Daniel Oliveira, de 47 anos, resume o sentimento de milhares de trabalhadores da região. Sem vaga no chamado mercado formal, sobrevive com os bicos.
O pedreiro Daniel Oliveira, de 47 anos, conta que desistiu de procurar emprego com carteira assinada
Fernando Evans/G1
“Eu faço qualquer tipo de serviço, qualquer área. Só que a época agora estou tendo dificuldade. Vejo estatística que a construção civil está retomando, mas pra mim ainda não aconteceu. Estou na esperança, na virada do ano, quem sabe com a ajuda de Deus, melhora as coisas pra gente”, diz.
Morador do Satélite Íris 3, ele busca sustento para a esposa e quatro filhos – uma delas, de seis anos, é deficiente. “Minha mulher não pode trabalhar porque fica cuidando da menina, que faz fisioterapia três vezes por semana. Mas vamos tocando. Com a ajuda de um e de outro ali, nos vencemos”, afirma.
Estimativa indica que 220 mil pessoas estejam desempregadas na RMC
Sobreviventes
O alagoano Júnior de Souza Silva, de 25 anos, conta que veio para São Paulo há oito anos. Apesar das dificuldades e da falta da carteira assinada, confia que o cenário vai melhorar.
Trabalhando como ajudante de pedreiro em um bico na região do DIC V, em Campinas, ele conta que o sustento vem desse tipo de trabalho, informal.
“Sou um guerreiro, um batalhador. Tento correr atrás, mas as portas fechadas. Não sei que mistério é esse. A crise tá difícil, mas para Deus nada é impossível. Já tive carteira de trabalho, só que deu quebra de contrato. O que pinta é bico, trabalho temporário mesmo”, conta.
Elenice Rodrigues Lima do Vale mostra o último registro em carteira, quando foi demitida em 2014
Fernando Evans/G1
‘Tristeza, depressão’
Simpática e sorridente apesar das dificuldades, Elenice Rodrigues Lima do Vale conta que se vira como pode nos tempos de crise. Sem o emprego com carteira assinada, fez artesanato. Craque no uso do barbante, vendeu jogos de banheiro e de cozinha do material por um tempo, mas agora, ela diz, ninguém “está comprando nada”.
Diante da porta de casa, que nem muro tem no Jardim Rosalina, a fortaleza da mulher que batalha por um emprego cai por um instante. Ao contar que a falta do salário digno impede que ela possa comprar aquilo que os filhos e netos gostariam de receber, Elenice revela uma das faces terríveis do desemprego: a depressão.
“A gente fica triste, né. Não poder comprar o que os filhos e netos querem. Fico chateada, vai entrando em depressão. Se você está trabalhando, vai até a cidade, compra algumas coisas e isso faz bem para você. Sem trabalhar, vou lá fazer o quê? Comprar faz bem pra gente”, resume.
Resultado por município
O levantamento mostra que as 20 cidades da RMC perderam, juntas, 78,2 mil postos de trabalho com carteira assinada entre 2014 e 2017. Neste período, apenas quatro municípios tiveram saldos positivos de emprego: Engenheiro Coelho (SP), Holambra (SP), Jaguariúna (SP) e Santo Antônio de Posse (SP).
De 2018 a 2019, o cenário inverteu: três cidades tiveram saldo negativo, enquanto as demais conseguiram criar novos postos. No entanto, o resultado geral ainda foi de 32% em relação ao que foi perdido de 2014 a 2017.
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