Série de reportagens do G1 em parceria com o Observatório PUC-Campinas traça raio-x da crise econômica na Região Metropolitana de Campinas. Elenice Rodrigues Lima do Vale, de 50 anos, teve o último registro em carteira em 2014
Fernando Evans/G1
Na montanha-russa da crise econômica, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) sofreu com quedas bruscas e curvas horrorizantes a partir de 2014. Apesar da parte mais complicada ter ficado para trás, o carrinho da economia está longe de voltar ao ponto de partida. Em uma análise inédita, em parceria com o Observatório PUC-Campinas, o G1 refaz esse trajeto tortuoso pelo qual passou a região desde o início da série de demissões. O impacto foi de 78,2 mil postos com carteira assinada perdidos, com recuperação de apenas 32%, e um empobrecimento de R$ 606 milhões no período de seis anos.
Passado o período maior susto, os dados e análises de economistas mostram que a relação com o trabalho mudou, a informalidade aumentou, há um novo perfil de contratados, menor complexidade no que produzimos e salários cada vez menores. A partir desta segunda-feira (23), o G1 publica uma série de cinco reportagens sobre o tema.
“Estou parada. Minha filha de 19 anos também não consegue emprego. O último trabalho com carteira foi de ajudante de cozinha. Enviei currículo, só que nada. Sei trabalhar de doméstica, mas nem faxina aparece”, conta Elenice Rodrigues Lima do Vale, de 50 anos.
Moradora do Jardim Rosalina, em Campinas (SP), ela sente na pele todos esses impactos provocados pela crise. Até mesmo as variações das importações e exportações. Tudo que envolve a economia reflete no trabalho – ou na falta dele.
O economista Paulo Oliveira, do Observatório PUC-Campinas, aponta que a crise impacta sobretudo na perda de complexidade da indústria. Segundo o economista, a balança comercial da RMC mostra aumento da importação de produtos de maior valor agregado, o que significa que empregos que poderiam render melhores salários são gerados lá fora, e não aqui no Brasil. Por outro lado, a produção de itens e objetos de baixa complexidade e de menor valor geram uma distribuição de renda baixa.
‘A crise matou 78 mil empregos’
“A crise matou 78 mil empregos e só recuperamos 32% disso”. De forma simples e direta, a economista Eliane Navarro Rosandiski resume o que milhares de dados dificilmente conseguem explicar. No ápice da crise, entre 2014 e 2017, a RMC viu sumir 78.202 postos formais, aqueles com garantias trabalhistas.
O levantamento do Observatório PUC-Campinas mostra que 2018 marca o início de uma recuperação, e desde então 25.247 desses empregos de carteira assinada foram retomados. Os especialistas, no entanto, ressaltam que isso ocorreu com grandes mudanças nas relações de trabalho, com menores salários e “rejuvenescimento” dos empregados.
G1 Campinas lança série de reportagens sobre a atual situação econômica da RMC
Juntas, as 20 cidades da região encabeçada pela metrópole geraram 108.558 postos de trabalho entre 2010 a 2013. A partir de 2014, primeiro ano da recessão de empregos, houve perda de 3.069 desses empregos formais.
No ano seguinte, foram mais 41.071 postos fechados. O período de redução do emprego formal só foi encerrado em 2018, quando a região reabriu 6.793. [veja na tabela abaixo o saldo por ano]
A retomada, no entanto, foi de 32,3% até este ano, se considerado o prejuízo entre 2014 e 2017. Além disso, houve uma mudança no perfil do emprego gerado.
Se a maior perda ocorreu no setor industrial (-39.206), a geração a partir de 2018 se concentrou no segmento de serviços, que contratou 16.213 trabalhadores a mais do que demitiu.
Na análise, o observatório utilizou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, que reúne o número de demissões e contratações para traçar o saldo de postos de trabalho.
Região mais ‘pobre’
O período de recessão também causou a diminuição da massa salarial na região. Eliane explica que a queda no poder de consumo das famílias impacta na circulação de dinheiro e derruba as vendas, o que resulta na redução da produção e mais demissões.
Desde 2014 até este ano, a região perdeu R$ 606,4 milhões em massa salarial, que significa a diferença entre os salários que deixaram de ser pagos por conta das demissões com os que passaram a ser debitados para admitidos.
Só em 2019, essa diferença impactou em perdas de R$ 31,6 milhões na massa salarial.
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