Queimadas no Pantanal e falta de vento e chuva fazem camada de poluição sobre São Paulo dobrar, detecta Ipen thumbnail
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Queimadas no Pantanal e falta de vento e chuva fazem camada de poluição sobre São Paulo dobrar, detecta Ipen

Altura da camada de poluição nesta época do ano costuma ser de 1.500 metros, mas com a combinação das condições atuais, ela alcançou 2.800 metros. Fenômeno foi registrado com medição a laser. Imagem de satélite mostra fumaça estendendo-se do Centro-Oeste do Brasil até o Sudeste. Fumaça de queimadas contribuiu para elevar a camada de poluição sobre São Paulo, de acordo com cientistas do Ipen
Ipen
A cidade de São Paulo passa por dias de poluição acima da média, de acordo com o monitoramento com laser feito pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
A camada de poluição sobre a metrópole nessa época do ano costuma se estender até uma altitude de 1.500 metros. No último domingo e nesta segunda-feira (14), no entanto, ela alcançou quase o dobro: 2.800 metros.
A piora acontece por um conjunto de condições desfavoráveis: falta de vento e chuva, que poderiam ajudar a levar os poluentes embora, e queimadas em outras regiões do país.
Ventos do Centro-Oeste
Foto aérea mostra a fumaça das queimadas ao redor do rio Cuiabá, em Poconé (MT), no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
Quando há aproximação de uma frente fria, forma-se uma espécie de “canaleta de vento” que traz ar das regiões Oeste e Centro-Oeste do continente para a cidade. Isso é uma característica natural, mas com as mudanças climáticas, tornou-se mais evidente.
Como há poluição vinda das queimadas no Pantanal, isso veio para o Sudeste, explica Eduardo Landulfo, pesquisador do Centro de Lasers e Aplicações do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares).
A poluição que fica em camadas mais altas geralmente é de queimadas. É comum que esse material seja levado de São Paulo pela brisa do mar ou pela chuva. Isso não aconteceu nos últimos dias, segundo ele.
“A poluição está se acumulando. Há um ciclo diário de trocas de calor com o terreno, com a vegetação, com a umidade, mas os níveis de poluição se sedimentaram, um ficou em cima do outro.”
Em algumas regiões da cidade também há concentração de ozônio, mas o principal poluente é material particulado –são elementos como poeira, areia e cinzas.
Uma das provas de que a poluição que está estacionada na capital paulista vem de outras regiões do país é que há camadas distintas em textura — Landulfo usa a palavra “desacopladas” para descrever isso.
Espera-se que a altitude deste transporte esteja acima da cidade e misture-se pouco com a atmosfera local, mas os dados parecem indicar que o material chegou em níveis mais baixos e se adicionou à poluição local, ou seja, virou mais uma camada. Esse resultado preocupa e deve ser melhor estudado, diz ele.
A alta coluna de poluição já é ruim, mas ela implica em outro problema: os raios do sol enfrentam dificuldade para penetrar nas camadas mais próximas do solo, o que causa um efeito de inversão térmica. Isso significa que a atmosfera perto do chão está quente, mas acima dela o calor é ainda mais intenso, então a poluição das camadas mais baixas fica retida embaixo, sem se dispersar.
Veja vídeos das queimadas no Pantanal
A grande maioria das estações de monitoramento da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) indica condições de moderadas a ruim.
O laboratório do Ipen que identificou esses fenômenos tem apoio federal do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, além da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo (Fapesp).
A equipe inclui o próprio Landulfo, Alexandre Cacheffo, Alexandre Yoshida, Gregori Moreira, Fábio Lopes, Fernando Morais, Jonathan Silva e estudantes de mestrado e doutorado.

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