Nesta quarta-feira, Banco Central comitê deixou claro que vai encerrar o ciclo de cortes iniciado em julho de 2019. A próxima intervenção do Comitê de Política Monetária (Copom) na taxa básica de juros, a Selic, deve ser de alta, mas virá somente em 2021, apontam analistas ouvidos pelo G1.
No comunicado da reunião em que decidiu baixar novamente a taxa de 4,25% ao ano, o comitê deixou claro que vai encerrar o ciclo de cortes iniciado em julho de 2019. A decisão foi justificada pela defasagem dos efeitos dos estímulos já feitos na economia.
“O próximo movimento será de subida, em 2021”, diz Maurício Oreng, economista sênior do banco Santander. Para ele, a decisão de encerrar o corte “implica expectativa de que a economia vai reagir aos estímulos que já foram dados”, o que culminará na “normalização” da política monetária.
O Santander espera uma aceleração em torno de 2,3% para a economia neste ano e de 3% em 2021, mas com viés de baixa devido a dados fracos apresentados no quatro trimestre e às incertezas quanto ao impacto do coronavírus na atividade global.
O banco acredita que o Banco Central começará a elevar a Selic a partir do segundo trimestre de 2021 e que esse processo será gradual até chegar a 6% no fim do ano.
“Aos poucos, o BC vai trazer a taxa de juros para o nível estrutural. Tem muitas incertezas de qual será o nível da taxa estrutural, na nossa visão está em torno de 3%, mas o BC não vai demorar uma eternidade para começar a normalizar (a política de juros)”, afirma Oreng.
A decisão de manter os juros também mirou a previsão de inflação de 2021. No ano que vem, os analistas consultados pelo relatório Focus, do BC, projetam que o IPCA deve ficar em 3,75%, exatamente a meta central de inflação a ser perseguida pela autoridade monetária.
“Se o Copom olhasse para 2020, poderia haver espaço para um novo corte”, diz a estrategista da MAG Investimentos, Patrícia Pereira.
Para 2020, a previsão do IPCA no Focus é de 3,35%. Há quatro semanas era de 3,59%. O centro da meta deste ano é de 4%. “O comunicado não deixa dúvida de estabilidade na próxima reunião do Copom”, afirma Patrícia.
Metas para a inflação estabelecidas pelo Banco Central
Aparecido Gonçalves/Arte G1
Para Oreng do Santander, a redução desta quarta já era amplamente esperada pelo mercado e estava precificada na curva de juros.
“Não traz grandes surpresas. O que talvez seja mais interessante é o guidance [projeção] de política monetária, já que ficou explícito que acabou o ciclo”, afirma.
Já a coordenadora do curso de economia do Insper, Juliana Inhasz, avalia que o BC deveria ter mantido a taxa de juros em 4,50% e esperado para ver como a atividade reagirá nos próximos meses.
Ela lembra que o corte de juros demora de seis a nove meses para gerar efeito na economia e que a autoridade monetária vem baixando a Selic desde julho de 2019.
“Sabemos que os efeitos da política monetária são tardios. No final de 2019, nós já começamos a ver a atividade reagir um pouco mais, com números de mercado de trabalho mais positivos, por exemplo. Esse reforço de queda de juros no início de 2020 pode criar um cenário relativamente mais complicado”, diz.
Para ela, o ambiente internacional não favorece, principalmente com a disseminação do coronavírus pelo mundo. “Em momentos de aversão a risco, os investidores buscam economias mais seguras e com maior rentabilidade. Com a taxa de juros real [diferença entre a Selic e a inflação] em patamar mais baixo no Brasil, nosso país fica menos atrativo”, diz.
BC reduz taxa básica de juros para 4,25% ao ano, menor patamar desde 1999
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