Segundo o presidente do Banco Central, propostas afetaram preços de ativos, como dólar e bolsa de valores. Ele disse ainda que é impossível para qualquer BC segurar expectativas de inflação com as contas públicas descontroladas. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avaliou nesta sexta-feira (13) que as propostas do governo de parcelamento de precatórios, e de reajuste no Bolsa Família, com impacto de aumentar os gastos e piorar a dinâmica da dívida brasileira, geraram “ruído” no mundo financeiro e impactaram os preços de ativos (como dólar e o índice da bolsa de valores).
“De uns tempos para cá, com algumas notícias como o tema do precatório, o tema de qual vai ser o novo programa Bolsa Família, incentivos para setores específicos, esses temas geraram um ruído no mundo financeiro”, disse Campos Neto em seminário transmitido pela internet.
Segundo ele, os agentes econômicos passaram a ter uma percepção, com essas propostas, de que as contas públicas não estavam “melhorando tanto”, o que gerou correção de preços de ativos.
Campos Neto lembrou que, antes disso, o dólar chegou a ficar abaixo de R$ 5 quando a avaliação do mercado sobre a dívida pública melhorou. Nesta sexta-feira, a moeda norte-americana opera ao redor de R$ 5,25.
“A dívida ficou abaixo do esperado anteriormente, tinha gente falando em 100% [do PIB, por conta dos gastos extraordinários com a Covid-19] e estamos em 80% [do PIB]. Estamos perto de antes da pandemia”, observou.
Esse movimento de maior confiança, momentâneo e depois revertido, gerou queda no dólar por conta da entrada de recursos de aplicadores no Brasil.
“O fluxo [de recursos] financeiro mundial compra duas coisas: crescimento com sustentabilidade. No mundo emergente, sustentabilidade é interpretado como como sustentabilidade fiscal [da contas públicas]”, disse.
Carlos Alberto Sardenberg analisa a PEC dos precatórios
Precatórios e Bolsa Família
Neste mês, o Ministério da Economia encaminhou ao Congresso uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que propõe o parcelamento dos valores em até dez anos, e a criação de um fundo para antecipação dessas dívidas.
A proposta, que abriria um espaço de mais de R$ 33,5 bilhões em gastos para 2022 — ano eleitoral — foi criticada por analistas. Precatórios são dívidas da União com pessoas físicas, jurídicas, estados e municípios reconhecidas em decisões judiciais definitivas, ou seja, que não são mais passíveis de recursos e que devem ser pagas pelo governo.
As mudanças propostas acontecem em um momento no qual o governo propõe mudanças no formato do Bolsa Família, de assistência às famílias de baixa renda. Foi encaminhada uma Medida Provisória com o objetivo de elevar o benefício pago em cerca de 50% no valor médio do Bolsa Família, que atualmente é de R$ 189, e de aumentar o número de famílias beneficiadas.
Credibilidade fiscal
De acordo com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a “coisa mais importante em um país que tem o nível de dívida que o Brasil tem, que já flertou com esse problema muitas vezes, é passar uma mensagem de credibilidade fiscal”.
“Essa é a mensagem que vai permitir ao Banco Central fazer o trabalho, com o menor nível de juros, e com maior eficiência”, acrescentou.
Ele afirmou, ainda, que é “impossível para qualquer Banco Central do mundo fazer um trabalho de segurar as expectativas [de inflação] com o fiscal [contas públicas] descontrolado”.
“Então, quando eu entrei, eu brincava dizendo que eu não era o piloto, mas era o passageiro. O piloto era o fiscal [comandado pelo Ministério da Economia]”, avaliou.
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