O Projeto de Lei Complementar (PLP) 175/2024, que busca regulamentar as emendas parlamentares, está pronto para ser sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A proposta passou por votações na Câmara dos Deputados e no Senado, enfrentando pressões de congressistas e especialistas quanto à efetividade na promoção de transparência e controle.
Contexto e controvérsias
As emendas parlamentares são recursos indicados por deputados e senadores no orçamento da União para obras e projetos em seus estados. Em agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF), por meio do ministro Flávio Dino, determinou a suspensão de pagamentos das emendas até que o Congresso atendesse critérios de transparência, rastreabilidade e eficiência.
A decisão gerou atritos entre Legislativo e Judiciário, com congressistas acusando o STF de interferir nas suas prerrogativas. Em resposta, o texto do PLP 175 foi elaborado rapidamente, mas análises indicam que a proposta não resolve os problemas apontados pelo Supremo, além de repetir medidas já existentes.
Críticas de especialistas
O cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getulio Vargas (FGV), argumenta que a resistência do Congresso em adotar critérios técnicos claros visa manter o poder político sobre a destinação de recursos. Segundo ele, “quanto menos transparência, mais liberdade para usar os critérios políticos convenientes, resultando em desperdício de dinheiro público”.
Ricardo Volpe, consultor de orçamento da Câmara dos Deputados, destaca que a União possui capacidade técnica para fiscalizar as emendas, mas defende que a solução passa por estabelecer critérios prévios e objetivos para alocar os recursos.
Impacto político
A falta de transparência beneficia parlamentares de diversos espectros políticos, permitindo direcionar recursos para suas bases eleitorais, o que é crucial em anos de eleições municipais. A deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP) afirma que esse modelo perpetua desigualdades e facilita desvio de verba, mascarando como justa a alocação desproporcional de recursos para redutos políticos.
Crescimento exponencial das emendas
Desde 2015, quando uma emenda constitucional tornou obrigatório o pagamento das emendas individuais, os valores aumentaram drasticamente. Em 2024, o governo federal desembolsou R$ 30,6 bilhões em emendas, incluindo recursos de anos anteriores, o que reflete a crescente influência política na gestão do orçamento.
O senador Eduardo Braga (MDB-AM) liderou o ranking de parlamentares com mais emendas pagas em 2024, com R$ 67,1 milhões, seguido por outros nomes como Weverton (PDT-MA) e Mara Gabrilli (PSD-SP).
Próximos passos
A sanção ou veto de Lula ao PLP 175 será decisiva para determinar se o Congresso conseguirá atender às exigências do STF e, ao mesmo tempo, preservar sua autonomia. No entanto, especialistas alertam que, sem mudanças estruturais, o sistema de emendas continuará sujeito a manipulações e falhas na fiscalização.
Fonte:Correio Braziliense
Foto:Gabacom
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