Setor, que viu diversas indústrias fecharem nos últimos anos, volta a registrar bom faturamento após a atuação de agricultores cooperados. Produtores de cana arrendam usinas em Pernambuco e retomam a indústria sucroenergética
O sistema de cooperativas está mudando a realidade de produtores de cana-de-açúcar de Pernambuco. Por lá, agricultores uniram forças para reabrir usinas no estado. O resultado traz esperanças para um setor que vem enfrentando muitas dificuldades nas últimas décadas.
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A safra de cana pernambucana deve alcançar mais de 13 milhões de toneladas nesta safra, gerando R$ 2,5 bilhões ao setor.
No total, a indústria canavieira emprega cerca de 60 mil pessoas, especialmente porque Pernambuco é um dos estados com a menor taxa de mecanização nas lavouras de todo o Brasil, cerca de 4%.
E para muita gente, como os cortadores de cana, é a única opção de trabalho. No estado, eles recebem, em média, R$ 2 mil por mês.
A importância da cana-de-açúcar para Pernambuco é histórica, um dos primeiros engenhos do país foi instalado na Ilha de Itamaracá. E, há quase 5 séculos, o verde dos canaviais está presente na paisagem da Zona da Mata, perto do litoral.
Além disso, a antiga capital canavieira, Olinda, onde os senhores de engenhos viviam como nobres, é hoje patrimônio histórico e cultural da humanidade.
A crise
Porém, os bons ventos passaram e, nas últimas décadas, o setor do açúcar e álcool de Pernambuco enfrentou diversas crises. A produtividade das lavouras caiu e as indústrias não conseguiram se modernizar.
Endividadas, muitas usinas fecharam. Das 42 que estavam em atividade nos anos 1980, restaram apenas 13.
Com o fechamento dessas indústrias, a situação ficou difícil para os produtores rurais. Sem ter para quem vender, parecia o fim da linha e muitos abandonaram a atividade.
Mas foi no meio da crise que os fornecedores encontraram uma alternativa desafiadora: reabrir as usinas e assumir o comando delas.
A retomada
O produtor Gerson Carneiro Leão foi um dos responsáveis pela criação da cooperativa Agrocan. Como primeiro empreendimento do grupo, arrendou a centenária usina Pumaty, que estava fechada havia 2 anos.
Agora, um grupo de 38 cooperados e 1800 fornecedores são os responsáveis pela usina. Eles recebem um incentivo fiscal que chega a 18,5% de desconto em impostos.
“Os donos são os cooperados e os fornecedores. O lucro é investido com os associados e, na safra passada, nós demos de bonificação mais de R$ 18 por tonelada de cana. Isso em 200 mil (toneladas) dá quase R$ 12 milhões”, conta Leão.
Quando a cooperativa arrendou a usina, convidou um grupo de funcionários para recuperar os equipamentos. O detalhe é que todo o trabalho foi voluntário, com o pagamento simbólico de uma cesta básica. Era apenas uma aposta no futuro.
E a aposta tem dado certo. Desde então, a cooperativa já investiu R$ 80 milhões na modernização da usina. A meta para 2020 é faturar R$ 140 milhões com a produção de açúcar e etanol.
Na safra atual, a cooperativa vai moer 800 mil toneladas de canal, dando trabalho e renda para 3 mil canavieiros.
Mudança de vida para assentados
A salvação das usinas representou também um alento para milhares de pequenos produtores. No município de Palmares, 4.300 família moram no assentamento Miguel Arraes, um dos maiores da reforma agrária em Pernambuco.
Por lá são 26 mil hectares, e quase metade dos agricultores trabalha com cana. Quando a usina arrendada pela Agrocan voltou a funcionar, a vida dos assentados melhorou.
A experiência de produzir cana para a usina da cooperativa deu tão certo que os agricultores do assentamento estão aumentando a área plantada e a produção ano após ano.
Na primeira safra, em 2015, eles colheram 17 mil toneladas de cana. Nesta temporada, serão 200 mil toneladas, o que deve render para a comunidade algo em torno de R$ 30 milhões.
De olho no mercado internacional
Atualmente, Pernambuco tem 3 usinas controladas por cooperativas. Além da Agrocan, existe também a Cooperativa da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (Coaf), localizada Timbaúba. Era a antiga usina Cruangi.
O nome mudou e a gestão também. O que era um negócio familiar quase falido, em processo de recuperação judicial, se transformou em um empreendimento coletivo e rentável. A nova usina está moendo sua sexta safra.
Até o final da temporada, a Coaf espera moer 845 mil toneladas de cana, um resultado bom para uma indústria que passou 3 anos fechada, mas ainda está longe da produção antes da crise, quando chegou a processar uma quantidade 60% maior.
O grupo que arrendou a usina é formado por 600 produtores, entre pequenos, médios e grandes. Para começar o negócio, tiveram de usar recursos próprios e pegar dinheiro emprestado.
O que era chamado de loucura mostrou que não era bem assim e o grupo saiu do vermelho duas safras depois. Com isso, houve recurso para começar uma grande reforma, com a troca de peças e conserto para todo o lado.
Depois de tudo isso, neste ano, a usina está produzindo açúcar de olho no mercado internacional pela primeira vez desde a reabertura. A expectativa é de faturamento de R$ 220 milhões em 2020.
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