Distanciamento social diminuiu a circulação de pessoas nas cidades, o que fez o etanol ficar mais barato. Além disso, a desvalorização do petróleo prejudicou a atividade. Prestes a colher safra recorde, setor da cana sofre com queda na demanda por combustíveis
O Brasil está colhendo uma safra recorde de cana-de-açúcar, é um trabalho gigantesco, que movimenta usinas, fazendas agricultores e milhares de trabalhadores rurais. O país é o maior produtor e exportador de açúcar do mundo, sendo também o principal fornecedor global de etanol de cana.
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Neste cenário, a pandemia do novo coronavírus no país criou um desafio para o setor no campo: garantir a saúde dos profissionais para não perder a lavoura e conseguir lucro em um período de menor consumo.
A expectativa é que, de abril até novembro, devem ser colhidas 600 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Há pouco mais de um mês, o setor estava bem animado, as usinas investiram no cultivo, o clima ajudou, a expectativa era boa… isso até chegar o novo coronavírus no país.
Produção vai bem
A produção da lavoura continua indo bem, o problema é que o cenário mudou muito. A primeira preocupação foi adotar práticas para manter livre de contaminação os cerca de 2 milhões de funcionários do setor.
Em uma usina em Avanhandava, interior de São Paulo, o trabalho começou do lado de fora do local. Foram distribuídos panfletos com orientações e álcool em gel nas casas. Os trabalhadores passaram por triagem com equipe médica, e a temperatura desses funcionários é checada todos os dias.
Existe também preocupação com o transporte dos funcionários. A empresa teve de aumentar a frota de ônibus para evitar aglomeração dentro dos veículos.
Agora, os trabalhadores vão e voltam sentados com uma distância maior do outro, tudo isso para evitar o contato físico. Depois de cada viagem, o interior do ônibus é higienizado.
Já as vendas nem tanto
Mas para manter empregos e maquinário funcionando as usinas precisam vender a produção. E é aí que a crise econômica causada pelo coronavírus pega. O distanciamento social, fundamental para impedir o avanço da pandemia, fez cair em mais de 50% o consumo de combustíveis.
Distribuidoras de combustíveis cancelaram parte da compra de etanol prevista para o primeiro semestre. O álcool também sofreu com queda do valor do barril de petróleo no mercado mundial. E aí, quando a diferença entre o preço da gasolina e do etanol é menor, a gasolina se torna preferência do consumidor.
“Com preço do petróleo em níveis históricos muito baixos, ele torna a produção de etanol no Brasil não muito competitiva, ou seja, nós passamos a destruir margens (de lucro)”, explica o economista Haroldo José Torres da Silva.
A média de faturamento das usinas que produziram açúcar e etanol no ano passado foi de 60% com a venda de etanol, 30% de açúcar, 8% com a comercialização de bioenergia gerada a partir da queima do bagaço da cana e 2% de álcool para fabricação de bebidas e produtos de limpeza como o álcool em gel.
Agora, com o cenário desfavorável para o etanol, a aposta das empresas será fabricar mais açúcar. Isso porque o adoçante deve ajudar bastante na receita das usinas este. Estima-se que até 80% do que vai ser produzido já foi vendido para a exportação com bons preços por causa do dólar alto.
Mas para Antônio Rodrigues, o diretor técnico da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), só a venda do açúcar não é suficiente para manter as usinas. É que 132 das 384 usinas (34,3%) do país só têm maquinário para produzir etanol.
“Como é que nós vamos gerar caixa para continuar produzindo? Se eu não tenho preço e não tenho volume de vendas, vem a grande preocupação”, afirma.
Preocupação
Preocupação e incerteza também para cerca de 70 mil agricultores independentes que fornecem cana-de-açúcar para as usinas. É que o preço da tonelada leva em conta o valor da venda do etanol e do açúcar.
Diante desse cenário a Unica explica que já se prepara para negociar os efeitos da crise com o governo federal. A principal pauta é a isenção de tributos.
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