Ministério da Agricultura estuda antecipar programa de investimentos e custeio, geralmente anunciado em junho. Um dos maiores eventos de tecnologia agrícola do mundo, feira em Ribeirão Preto foi adiada por causa da pandemia do novo coronavírus. O presidente da Agrishow, Francisco Matturro, em Ribeirão Preto, SP
Alexandre Sá/EPTV
A antecipação do Plano Safra 2020/2021, em estudo pelo governo federal, é considerada essencial para o setor agropecuário brasileiro, mas deve vir acompanhada de taxas de juros menores e de uma maior margem de subvenção do governo, afirma Francisco Matturro, presidente da Agrishow.
Um dos maiores eventos de tecnologia agrícola do mundo, a feira em Ribeirão Preto (SP) estava programada para acontecer entre 27 de abril 1º de maio, mas foi adiada em função da pandemia do novo coronavírus, em um período que marca novos investimentos dos produtores para a próxima safra. Ainda na primeira quinzena deste mês, os organizadores pretendem definir uma nova data, que pode ficar para 2021.
Para Matturro, é essencial que o Plano Safra, geralmente lançado em junho e válido por 12 meses, seja anunciado o quanto antes, mas que seja alterado de acordo com as atuais condições do mercado e seja suficiente para garantir créditos por todo o ano agrícola. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, confirmou que estuda essa antecipação “para dar um horizonte” aos empresários.
“Precisamos que ela antecipe o Plano Safra para dar previsibilidade aos produtores, segurança para que eles possam investir. E o que se precisa na antecipação é que os recursos sejam suficientes em volume para alcançar 30 de junho de 2021”, afirma.
Público visita estandes na Agrishow 2019, em Ribeirão Preto, SP
Érico Andrade/G1
Previsto para se encerrar em junho, o plano em vigor foi anunciado em 18 de junho do ano passado, com um crédito total de R$ 225,3 bilhões para custeio, comercialização, industrialização, investimentos e seguro rural, e R$ 10 bilhões de subvenção, ou seja, recursos que a União paga para que os bancos possam oferecer aos compradores juros mais baixos nos financiamentos.
Matturro defende que esse subsídio seja ainda maior este ano e que os juros acompanhem o movimento da taxa referencial.
“O nosso pleito é para que esse volume dessa subvenção seja aumentado e os juros sejam adequados às taxas atuais. (…) Os juros que estão se pagando hoje no Plano Safra são os que foram definidos lá em abril, maio do ano passado. De lá pra cá, a Selic veio para 3,75% ainda com viés de maior queda. A primeira coisa é uma adequação dos juros para a nova realidade da inflação”, diz.
Em grandes feiras como a Agrishow, as condições de crédito oferecidas pela iniciativa pública e privada são determinantes para os negócios. Em 2019, o evento movimentou R$ 2,9 bilhões em vendas de máquinas e equipamentos para o campo, com mais de 800 expositores e 159 mil visitantes.
Mesmo com a pandemia, essa época do ano é ideal para o produtor investir. O adiamento de eventos como esse, segundo Matturro, não interrompe as negociações, mas tira do setor um importante termômetro do mercado.
“A Agrishow define o ano. Para onde vai o ano. Ela não acontece nessa data por acaso. É no final de abril, começo de maio, quando estamos finalizando as colheitas da safra de verão, finalizando a comercialização. O agricultor já sabe o resultado de tudo que teve até então. (…) É o momento de ele fazer os investimentos.”
Auxílio aos produtores
A ministra da Agricultura recentemente ponderou que o Plano Safra não é suficiente para atender as necessidades do setor e, desde então, vem anunciando medidas de estímulo à agropecuária, como um aporte de R$ 500 milhões destinados para compras de alimentos da agricultura familiar e flexibilização para o crédito rural, como a prorrogação de prazos para a contratação.
Para o presidente da Agrishow, esses anúncios, além dos incentivos por parte dos bancos, são importantes, principalmente os aportes feitos para a agricultura familiar.
Segundo ele, o pequeno produtor foi o que mais sentiu os efeitos do isolamento social da pandemia da Covid-19 com a paralisação de restaurantes e escolas, por exemplo.
Medida do governo federal prevê aporte de R$ 500 milhões para incentivar agricultura familiar
Arnaldo Alves/AEN
“As escolas simplesmente fecharam e sobrou muito alimento na mão do produtor que historicamente vendia para as escolas, então há muita perda. Você pega o cinturão verde das grandes cidades, todos eles estão sofrendo. Eles plantaram, produziram e, no dia seguinte, não tinham para quem entregar. (…) Aí veio a ajuda do governo, dos bancos privados, para poder esticar esses pagamentos e renegociar em um outro momento com o produtor. É de fundamental importância”, analisa.
Somado aos incentivos do governo, o estímulo do consumo do mercado interno é importante para organizar toda a cadeia produtiva, que não parou de atuar e fornecer alimentos, segundo Matturro.
“Todas as proteínas, carne bovina, suína, de aves, vão ido muito bem. Os frigoríficos não pararam, são atividades essenciais, a produção de ovos não parou. Nada parou e as pessoas continuam comendo, então não vejo onde podemos ter problema. O que precisa agora é priorizar o consumo de produtos nacionais”, defende.
Veja mais notícias da região no G1 Ribeirão Preto e Franca
Comentar