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Pesquisa liderada por brasileira estuda potencial da lágrima de jacaré para tratar doenças oculares humanas

O trabalho de Arianne Pontes Oriá, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), está em andamento desde 2009. Pesquisadora Arianne Pontes Oriá leva jacaré para realizar a coleta de lágrima
Arquivo pessoal
Um estudo liderado por uma pesquisadora brasileira, com parcerias de universidades internacionais, coleta lágrimas de jacarés e outros animais vertebrados para analisar o potencial para tratar problemas na lubrificação da visão humana.
A pesquisa liderada pela veterinária Arianne Pontes Oriá, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), está em andamento desde 2009. A especialista explica que foi necessário realizar parcerias com laboratórios internacionais para a analisar as lágrimas dos répteis por conta da falta de equipamentos no Brasil.
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“Estamos fazendo um árduo trabalho para conseguir detalhar todas as proteínas que compõem uma lágrima desses animais. Mas acreditamos que a maior parte dessas moléculas seja importante para a resolução de problemas lacrimais [humanos]”, afirma Oriá.
Algumas amostras estão sendo analisadas pela Universidade da Califórnia, EUA.
O jacaré-de-papo-amarelo foi a primeira espécie utilizada no experimento. A médica explica que enquanto os humanos piscam cerca de 15 vezes por minuto, espalhando lágrimas sobre a córnea para a lubrificação. Os jacarés conseguem se manter por cerca de uma a duas horas sem piscar sem ressecar os olhos.
Entre os animais analisados, os jacarés foram os que apresentaram o maior tempo de manutenção de olho aberto com a lubrificação lacrimal mais estável.
“Cada espécie tem a sua singularidade, ela tem algo que chama bastante atenção. Talvez, com o estudo, seja possível sintetizar alguma molécula com o mesmo comportamento de moléculas encontradas na lágrima humana e, a partir disso, construir uma estabilidade semelhante no globo ocular humano”.
Falta de financiamento
Na fase atual do estudo, os pesquisadores buscam realizar uma caracterização maior das proteínas das lágrimas dos animais. Foram feitas identificações das proteínas, no entanto, a descrição de cada molécula que forma a substância ainda está em andamento.
No entanto, a especialista explica que por conta das dificuldades estruturais dos laboratórios brasileiros para a análise do material coletado e a falta de investimento brasileiro em pesquisas dificulta o avanço do estudo.
“A minha equipe não possui financiamento ou qualquer investimento do governo para o fomento da pesquisa, contamos apenas com as bolsas de estudo dos pós-graduandos e a minha bolsa como pesquisadora. Existem outros componentes da lágrima que ainda precisam ser estudados, mas para isso a gente precisa de equipamento e investimento para continuar”.
A UFBA terá um corte de verba de 18,32% na Proposta de Lei Orçamentária Anual (Ploa) para 2021. Segundo o reitor da universidade, isso significa R$ 30 milhões a menos para a instituição, em comparação com o orçamento deste ano.
Tratamento de problemas oculares
Olhos secos são resultados da irregularidade de lubrificação dos olhos, causando desconfortos e até problemas de visão.
Porém, problemas como a redução das glândulas lacrimais e perda do componente aquoso da lágrima podem ocasionar a síndrome do olho seco – anomalia na produção ou na qualidade da lágrima, provocando o ressecamento da superfície do olho, da córnea e da conjuntiva. Isso pode advir de envelhecimento, doenças, uso de medicamentos como antidepressivos, entre outros fatores.
No Brasil, o último Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) realizado em 2010, identificou que mais de 35 milhões de pessoas sofrem com algum problema relacionado a visão.
Além dos jacarés, a lista de doadores de lágrimas inclui outros répteis como tartarugas, falcões, papagaios, corujas e outras aves.
Alterações de acordo com o ambiente
Quimicamente, o líquido é composto por pasta de água, gorduras, proteínas e minerais carregados como o sódio.
Segundo os pesquisadores, as características da substância se adaptam de acordo com o ambiente em que o animal está inserido.
“As alterações moleculares das lágrimas sofrem mais impacto por conta do ambiente do que pela alimentação do animal. Independente da espécie. Animais que estão em locais com alto índice de poluição, por exemplo, tem um desgaste lacrimal muito precoce das bactérias da microbiota do olho”, afirma Oriá.
Coleta das lágrimas
A coleta é feita com uma tira de papel filtro com alta capacidade de absorção, material geralmente utilizado por veterinários para consultas oftálmicas em animais.
A coleta é acompanhada com supervisão técnica de veterinários e biólogos para evitar qualquer mal-estar no animal. O procedimento completo leva cerca de 3 a 4 dias para ser concluído.
Segundo a pesquisadora, para cada 1 ml de lágrima é necessário realizar a coleta em seis jacarés. Isso acontece porque os animais produzem uma quantidade muito pequena do líquido. Antes da retirada os animais precisam ser higienizados.
Viva Você: os seus olhos são como uma janela

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