Região abriga milhões de espécies que ajudam a manter o equilíbrio de ecossistemas. Animais da Amazônia impressionam por conta de peculiaridades.
Divulgação
A Amazônia que fascina com mais de cinco milhões de Km² é também a mesma que desperta curiosidade com sua fauna de 30 milhões de espécies, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Transparência no corpo, sons e olhos assustadores, camuflagens perfeitas, hábitos noturnos e em noite de luar são algumas características que a maior região verde do planeta abriga através de bichos que, muitas vezes, nem a ciência conseguiu catalogar. Os estudos provam que eles também são essenciais para o equilíbrio de complexos ecossistemas.
O G1 conversou com especialistas e alguns pesquisadores, que reuniram uma variedade de nove animais da região. Conheça alguns deles e adiantamos que não será difícil classificar alguns até como estranhos, mas jamais comuns.
Mamíferos
Tamandauí
Tamandauí, menor especie de tamandauá brasileira vive na Amazônia.
Laerzio Chiesorin Neto/Cetas/Sauim Castanheiras
É o menor tamanduá existente em toda a natureza brasileira. Alimenta-se de insetos como formigas e cupins. Tem hábitos noturnos. Durante o dia, costuma ficar enroscado no alto das árvores, de ponta-cabeça, pendurado pelo rabo.
Mede, em média, 20 centímetros e pesa 400 gramas. Por viver na copa das árvores, só é possível ver esse animal por conta do processo de desflorestamento, geralmente porque morreu, foi ferido ou porque está procurando um refúgio.
Segundo o biólogo e coordenador do Programa de pós-graduação em Ciências Florestais e Ambientais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Rogério Fonseca, os tamandauís, em geral, quase não são vistos.
“Esse bicho é extremamente diminuto, poucas pessoas viram ou pegaram, justamente porque vive nas árvores. Ele é praticamente um ser mitológico para alguns biólogos”, contou.
É um animal solitário. Costuma circular pelos ramos das árvores e raramente desce ao solo. Quando se sente ameaçado, assume uma postura defensiva, erguendo-se sobre as patas posteriores, que estão sempre agarradas a algum apoio, e enrolando a cauda seguramente ao apoio. Sua temperatura não ultrapassa 33º.
Pacarana
Pacarana vive na Região Amazônica.
Divulgação/Instituto Mamirauá
A pacarana possui uma cor acinzentada, quase preta, com manchas brancas. Animal com hábito aquático muito grande, mas, ainda assim, é classificado como animal terrestre. A pacarana é o terceiro maior roedor do mundo. É herbívora, come folhas, caules, flores.
“Ela é quase que 98% herbívora. Por ser um grande roedor, o dente tende a ser desgastado. Vive em grupos pequenos de, no máximo, seis indivíduos. É muito rara de ser vista”, explicou Rogério.
As pacaranas possuem hábitos noturnos. Costuma ser um animal tranquilo e não ataca. O nome pacarana origina-se do tupi e significa “falsa paca“ ou “similar a uma paca”, nome proveniente da similaridade destes animais, tanto em tamanho quanto no padrão de coloração dos pelos. A pacarana, porém, possui um corpo mais robusto do que a paca.
Mucura
Mucura é um parente do canguru e também um gambá que vive na Amazônia
Rede Amazônica
É um parente do canguru, carrega os filhotes em uma bolsa conhecida como marsúpio, ou seja, uma dobra na pele localizada na área ventral do animal. O nome originário vem do Tupi-guarani wa-ambá, que significa “mama oca” ou “seio oco”.
As mucuras, também classificadas como espécies de gambá, costumam ser confundidas com ratos, principalmente quando filhotes. Fonseca explicou que essa espécie possui uma utilidade e um papel fundamental na natureza.
“Esse grande grupo tem uma variedade e uma ocupação de distintos ecossistemas da natureza. Possui uma função essencial de contribuir com o equilíbrio ecológico, pois mantém o controle de animais considerados pragas para a população humana, como escorpiões, carrapatos, insetos e cobras”, contou.
A maior parte vive em cima das árvores. As menores mucuras têm de 5 a 8 centímetros, e as maiores têm cerca de 40 centímetros. O hábito desse animal é noturno. Os olhos dele são bem avantajados, para poder no momento que têm mais atividade ficarem atentos aos predadores.
Papa-mel
Papa-mel vive em florestas tropicais e se alimenta de frutos e outros animais.
Divulgação/Fabrício Corsi Arias
Também conhecido como irara, às vezes, é confundido com um animal extremamente violento, pois emite um som às vezes assustador, segundo o biólogo.
Tem uma característica de forragear a floresta, ou seja, sair à procura de alimentos com o seu faro, que é extremamente aguçado. Como o próprio nome dele propõe, rastreia colmeias de abelhas nativas para consumo.
“É um animal que vive na essência da floresta. Consegue trepar nas árvores muito bem, mas o lugar dele é no bosque mesmo das florestas, na parte de baixo das florestas”, contou Fonseca.
Este animal, segundo o pesquisador, tem uma vida ativa, intensa, em busca do alimento. Possui hábitos solitários, diuturnos. De dia ou noite. Além disso, pode medir cerca de 60 centímetros.
Cachorro-vinagre
Câmeras flagram mamíferos raros da RDS do Rio Negro.
O cachorro-vinagre possui coloração marrom-avermelhada, sendo a cabeça e a região dorsal mais claras, suas pernas e cauda são curtas e as orelhas arredondadas. Ele vive em grupos que podem variar de dois a 12 indivíduos, nos quais existe um casal dominante, que pode reproduzir de um a seis filhotes.
Um grupo com quatro animais da espécie foi visto no final de fevereiro, em uma das 38 armadilhas fotográficas instaladas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro (a 70 quilômetros de Manaus). No entanto, a análise e divulgação das imagens só foi possível em agosto, em virtude da pandemia da Covid-19.
“Esse animal é bem raro de ser registrado em seu habitat natural, sobretudo em uma área que sofre com a pressão urbana”, disse o secretário de Estado do Meio Ambiente (Sema), Eduardo Taveira.
De acordo com a Sema, a espécie ocorre em boa parte do Brasil, mas existem poucas informações conhecidas sobre a sua população no país, o que torna a espécie rara. O animal também é encontrado em países vizinhos como Paraguai, Argentina, Bolívia, Peru e Equador.
Anfíbios
Perereca-de-vidro
Perereca-de-vidro ganhou o nome devido à pele transparente.
Divulgação/Marcelo Lima/Inpa
O animal possui apenas 24 milímetros de comprimento quando adulto, e é transparente. Vive às margens dos rios e tem hábitos noturnos. A perereca-de-vidro se alimenta de animais invertebrados, principalmente insetos.
A espécie foi descoberta por pesquisadores durante levantamentos noturnos na área da Cachoeira da Onça em Presidente Figueiredo, município distante 170 km de Manaus, no ano de 2002.
Segundo a pesquisadora Ana Cristina Cordeiro, que estuda esses animais, há o risco de extinção, em decorrência do desmatamento e das queimadas.
“Elas são dependentes da floresta para se reproduzir. Dependem da vegetação e do corpo d’água. No momento que desmata, retira o habitat natural dela e induz à extinção. É um animal sensível às alterações no ambiente”, disse.
Em média, as fêmeas depositam cerca de 20 ovos no período chuvoso, entre dezembro e maio. Os ovos se desenvolvem por alguns dias. Depois, os girinos rompem a cápsula do ovo, caem na água e permanecem até completarem o desenvolvimento.
Peixes
Bodó
Bodó é uma espécie de peixe comum na Amazônia.
Divulgação
Endêmico da Amazônia, o peixe é comum em igarapés e rios do Estado. Também conhecido como acari ou cascudinho, possui um vasto potencial na economia. Tem uma função ecológica essencial, que é a de fazer a limpeza do fundo dos rios.
O animal se alimenta de detritos (restos de folhas), gosta de viver em buracos feitos às margens de rios, em barrancos. Segundo o Engenheiro de pesca, doutor em Ciências de Alimentos da Ufam, Antônio Inhamus, o bodó é um peixe único.
“Uma característica peculiar é que ele consegue respirar o oxigênio da água pelas brânquias, mas se faltar consegue vir para a superfície e continuar respirando. Ele não morre quando sai da água. Pode chegar a 50 centímetros de comprimento e pesar 700 gramas”, explicou.
Comercializado no Reino Unido, onde é chamado de ‘lagosta negra’, possui baixo teor de gordura e é considerado uma iguaria, apesar da aparência não muito bonita.
É um animal que se reproduz facilmente, e por isso, não há risco de extinção. Habita principalmente em águas como as do Rio Solimões, Madeira, mas também pode ser encontrado em águas escuras.
Aves
Araponga da Amazônia
Conheça a araponga da Amazônia.
Anselmo d’Affonseca
Esta ave é considerada diferente porque possui o maior canto da Amazônia, o mais alto de todos os animais. Seu canto atinge até 125 decibéis, pouco menos que uma turbina de avião, que chega a 140 decibéis.
Outra característica é uma pelanca que grudada em seu bico, chamada de barrilhão, causando a impressão de que a ave está com alguma presa capturada. Os machos são brancos, e as fêmeas são mescladas de preto e branco.
A descoberta do animal foi feita em 2017, pelo pesquisador do Institituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e ornitólogo, Mario Cohn-Haft. Ele destacou algumas características da ave.
“Esse animal vive no topo da copa das árvores e florestas de serra. Acima de mil metros de altitude. Possui o tamanho de um pombo, é considerada uma ave de porte-médio. Come frutos da mesma família do abacate, como azeitonas”, comentou.
A araponga da Amazônia mede cerca de 30 cm da ponta do bico à da cauda, pesando em torno de 220 g (mais ou menos do tamanho de um pombo urbano). Apesar do porte, é o animal que emite o som mais alto entre todos os que vivem no planeta.
Urutau
Conheça urutau, pássaro endêmico da Amazônia.
Anselmo d’Affonseca
O Urutau (Nyctibius griseus), pássaro que em tupi-guarani significa “ave-fantasma”, possui uma capacidade de camuflagem muito grande, segundo o pesquisador, e se confunde facilmente com árvores.
De hábitos noturnos, o animal caça principalmente mariposas e besouros, comuns em sua dieta. Também emite um som melancólico e sequência descendente de gritos, que chegam a ser assustadores.
“São 5 espécies diferentes de urutau que ocorrem na Amazônia. A mais famosa é conhecida como mãe-da-lua, canta em noites de luar. Todas as 5 espécies tem essa camuflagem’, explicou Cohn-Haft.
Conhecido como “olho mágico”, os olhos do urutau são grandes e redondos, com a íris amarela. É exatamente essa cor que impede que ele tenha uma camuflagem perfeita, por isso os indivíduos dessa espécie costumam fechar os olhos quando a ameaça está por perto.
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