Vilarejo no litoral Sul da Bahia ficou fechado por seis meses por conta da pandemia do novo coronavírus. Com a reabertura, moradores e empresários locais vão descobrindo novas formas para sair da crise. Paraíso em crise: Caraíva – Bahia
Banho de mar, pôr do sol no rio e forró a noite inteira. A rotina de Caraíva, distrito de Porto Seguro, na região sul da Bahia, não é mais esta para turistas e moradores desde o início da pandemia do novo coronavírus, em março deste ano. De lá para cá, muita coisa mudou na vila, como o fechamento do turismo e o lockdown para a comunidade.
Donos de pousadas, restaurantes e comércio local contam ao G1, na série “Paraísos em crise”, como foram os meses sem as atividades que fazem a economia do vilarejo banhado pelo rio e pelo mar girar.
Caraíva, distrito de Porto Seguro, se tornou um dos destinos mais populares no litoral sul do estado da Bahia
Divulgação/Secretaria de Turismo de Porto Seguro
Para Agrício Ribeiro, que é proprietário de uma pousada e também do Forró do Pelé, os seis meses de total quarentena trouxeram prejuízos a longo prazo para Caraíva. (Veja no vídeo acima)
“A gente fechou na segunda quinzena de março. Até então, se tinha a expectativa de um período curto, porque era o que todo mundo achava que fosse acontecer. Mês a mês a gente foi convivendo com os prazos de fechamento aumentando. Alguns hotéis já fecharam as portas, outros devolveram arrendamento e foram embora. Todo mundo sobrevive do turismo e, agora, a gente está sobrevivendo com as economias do que muitos trabalharam no verão. Mas, algumas pessoas não tiveram essa opção”, conta.
“E não é só uma questão financeira, é muito maior. É uma questão de saúde pública e em uma vila que é muito frágil nessa questão. Está todo mundo no limite, mas tudo tem que ser feito com cautela”, analisa Agrício.
Em todo esse tempo fechado, Gustavo Muniz, da Pousada Coco Brasil, recorreu a auxílios do governo e precisou estudar uma nova rotina para o seu negócio.
“Todos os auxílios ajudaram bastante, tanto a empresa quanto os meus funcionários. Mesmo com a pousada fechada, precisamos manter uma rotina ainda que restrita. Mas as consequências de um fechamento a longo prazo da vila podem ser piores do que um fechamento só para evitar o contágio. Isso tudo pode ser irreversível para algumas pessoas que vivem aqui e dependem do turismo.”
O movimento na pousada de Gustavo Muniz vai voltando aos poucos com a retomada do turismo em Caraíva, no litoral Sul da Bahia
Reprodução/Redes sociais
“Com a empresa fechada, eu gasto R$ 500 no dia, e com a empresa aberta, esse gasto sobe para R$ 3 mil. Então, se eu não tiver movimento, é muito melhor deixar fechado, esperando por um momento mais oportuno. A reabertura não é garantia de movimento, porque está todo mundo em uma situação muito delicada financeiramente também”, completa Gustavo.
Reabertura com polêmicas e arranjos
Ainda com a pandemia acontecendo no Brasil e no mundo, Caraíva abriu as portas novamente para os turistas no dia 1º de setembro. O plano de retomada tinha sido estudado para julho, mas acabou sendo adiado. Por parte dos moradores, insegurança e a busca por condições eficazes. Por parte do poder público, protocolos e retomada do turismo.
Avisos são colocados nos estabelecimentos de hospedagem e restaurantes de Caraíva para que os turistas respeitem os protocolos de segurança
Reprodução/Redes sociais
Segundo Paulo César Magalhães, secretário de Turismo de Porto Seguro, o plano de reabertura tanto de Caraíva quanto de Trancoso e de Porto Seguro é todo baseado em protocolos que visam à segurança. Com o selo “Porto Mais Seguro”, a prefeitura lista e certifica os estabelecimentos que estão aptos a funcionar e que seguem os protocolos estabelecidos, como redução da lotação, uso de equipamentos de segurança, utilização de máscara e higienização com álcool em gel, entre outros.
“Existe um plano de risco que é avaliado toda semana. Se o resultado for positivo, a gente vai avançando de acordo com as possibilidades. Mas, se por alguma razão, ocorrer um retrocesso, existem os processos que podem implicar desde o fechamento parcial de algumas atividades até o fechamento total da vila”, explica Paulo César.
No entanto, Martim Arantes, integrante do Conselho Comunitário de Caraíva, conta que ações da prefeitura deixam muito a desejar, no que diz respeito ao auxílio aos moradores.
“Quase sempre, quando alguma coisa precisa ser feita, acaba dependendo da força-tarefa do vilarejo. Como Caraíva está se tornando um lugar famoso como destino turístico, isso tem despertado um pouco mais de preocupação do poder público. Existiu algum trabalho da prefeitura, no que diz respeito a divulgar informações, mas muito pouco do que deveria ser feito”, diz.
Entre os procedimentos de segurança para Caraíva estão o uso de equipamentos de segurança e máscara e higienização com álcool em gel, entre outros
Reprodução/Redes sociais
“No momento em que a gente vive essa pandemia, o vilarejo não tem um médico fixo. E isso já mostra como a gente está desamparado. Sem a organização do vilarejo em fazer uma barreira controlando o acesso já no início do nosso lockdown, organizando mutirões e distribuindo cestas básicas, estaríamos em uma situação muito pior”, completa Martim.
Já para o secretário de Turismo, a relação entre Caraíva e a prefeitura só deve crescer com a pandemia. “Por mais que a gente queira, a distância nos impede de ter um relacionamento mais próximo. Mas, no turismo, a gente já vinha numa crescente nessa relação. E isso é muito maior do que era no passado. Certamente, depois dessa pandemia, essa relação deve se estreitar muito mais, e Caraíva só tem a ganhar com isso.”
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