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Economia

O que acontece com o preço da gasolina no Brasil?

Para especialistas, Petrobras deve reduzir preços às refinarias em breve. Nas bombas, reflexo da queda do petróleo pode demorar mais. Os preços internacionais do petróleo estão despencando – e isso pode afetar o custo da gasolina e de outros combustíveis no Brasil.
Desde 2016, a Petrobras adotou uma política de paridade internacional para definir o preço da gasolina que vende às distribuidoras no país. Com isso, em tese, a estatal deve promover uma redução nos preços cobrados. Mas esse corte pode demorar a chegar às bombas – ou mesmo nem ser sentido pelos consumidores.
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O G1 ouviu dois especialistas no setor, Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, e David Zylbersztajn, professor da PUC-Rio, para ajudar a explicar o que pode acontecer. Veja abaixo:
Os preços vão cair?
A tendência, eles confirmam, é que o preço da gasolina caia para o consumidor, por conta dessa política de paridade internacional. Mas não imediatamente.
“Hoje a política da Petrobras tem sido bastante ligada ao que está acontecendo [no mundo], então, em tese, não deve demorar, já que hoje ela já deve estar comprando petróleo mais barato e vendendo também. Então, ela tende a baixar esse preço para o consumidor”, explica Zylbersztajn.
“Ela se beneficiou muito quando o petróleo estava alto e agora, de alguma maneira, tem que ter uma contrapartida. Quando o petróleo cai, ela também tem que repassar para o consumidor o preço mais baixo. E isso deve acontecer rápido, até para ela não ficar desmoralizada na política dela de, quando sobe, subir também”, completa.
Adriano Pires aponta que a Petrobras deve aguardar alguns dias para o anúncio:
“Acho que a Petrobras vai esperar uma semana, ou quatro, cinco dias, para ver como é que fica esse preço”, diz.
De quanto será essa queda?
É difícil prever. O preço internacional do petróleo sofreu um choque forte, mas pode mudar rapidamente. Lá fora, a queda de preços depende do estágio da epidemia de coronavírus e da retomada da economia mundial. E também de um possível acordo entre os países produtores de petróleo.
“Agora, eles estão brigando entre si, mas amanhã eles podem sentar na mesa e conversar. Esse preço baixo não ajuda ninguém, todo mundo perde. Perde a Arábia Saudita, perde a Rússia, perdem os EUA, perde o Brasil”, afirma Pires.
A extensão da queda de preços que a Petrobras pode aplicar vai depender do cenário externo nos próximos dias.
“Se ele (o valor do barril) ficar na casa dos US$ 30, ela vai reduzir o preço da gasolina e do diesel. Se a coisa voltar à normalidade ou reduzir um pouco, a redução vai ser menor. Acho que, primeiro, a Petrobras vai aguardar uma esfriada do mercado, já que agora estamos de olho no furacão”, diz Pires.
O que diz a Petrobras?
A estatal diz que “monitora o mercado e segue com seu plano estratégico que prepara a companhia para atuar com resiliência em cenários de preços baixos”.
Em nota, a estatal diz que ainda é prematuro fazer projeções sobre os possíveis impactos do tombo dos preços no mercado de petróleo, “dado que ainda não está claro nem a intensidade ou mesmo a persistência do choque nos preços”.
Se a Petrobras reduzir os preços, a queda vai chegar às bombas?
Não necessariamente. A Petrobras define os preços a que vende para as distribuidoras, mas a partir daí os preços são livres, e sofrem outras influências. Distribuidoras e postos podem optar por não repassar a queda, ou repassar uma queda menor.
Além disso, as distribuidoras têm estoques comprados aos preços anteriores, e podem levar um tempo para repassar o corte no valor.
O governo também pode evitar que o consumidor sinta uma queda mais acentuada de preços nas bombas. Isso porque incide, sobre a gasolina e o diesel, um tributo chamado Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) – atualmente em R$ 0,10 por litro.
Como a volatilidade de preços é considerada prejudicial, o governo pode elevar a Cide, deixando os preços mais estáveis para o consumidor.
“Se ao invés de ficar diminuindo o preço do combustível, o governo aumentar a Cide, criaria um certo ‘colchão’ para quando o preço voltar a subir, evitar essas volatilidades”, diz Pires.
“A Cide é uma fonte de receita importante para o governo. Quando ele baixa a Cide, ele está subsidiando o consumidor de combustíveis. E ele pode aumentar o valor da Cide, como no caso de agora. Na minha opinião, deveria [aumentar], porque gasolina muito baixa gera desperdício, aumento de consumo desnecessário e mais poluição”, diz Zylbersztajn.
E o etanol? Vai ser influenciado?
A gasolina mais barata é ruim para a competitividade do etanol, e pode deixar de compensar abastecer com esse combustível. Se o preço da gasolina cair, é possível que haja queda nos preços do etanol, já que a demanda também cai. Embora seja bom para o bolso dos consumidores, tem reflexos negativos, já que ele é menos poluente que os outros combustíveis.

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