Inseto recebeu o nome de Rivudiva inma, em homenagem ao Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), que abriga a reserva biológica onde ele foi encontrado. Rivudiva inma, uma espécie de libélula descoberta na reserva Augusto Ruschi, em Santa Teresa, ES
Reprodução/Instagram INMA
Uma nova espécie foi descoberta na Reserva Biológica Augusto Ruschi, em Santa Teresa, no Espírito Santo. Trata-se da Rivudiva inma, uma ninfa de inseto que, popularmente, pode ser comparado a uma libélula. O animal foi encontrado apenas em áreas de cascalho de riachos na região da reserva biológica.
A descrição do animal, publicada recentemente em uma revista científica, é assinada pelo professor pesquisador do Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Frederico Salles.
“Eu já havia coletado esta espécie há muitos anos no Espírito Santo, mas acreditava que era uma espécie já conhecida e descrita por outros pesquisadores. Só depois de visitar uma instituição na Argentina e analisar um indivíduo da série-tipo depositado por lá é que me dei conta de que se tratava de uma nova espécie”, contou o professor e pesquisador sobre a descoberta do novo animal.
De acordo com Salles, o grupo ao qual pertence a Rivudiva inma começou a ser estudado no estado há pouco mais de dez anos e, a partir daí, muitas espécies desconhecidas foram descobertas.
“O grupo a qual ela pertence, Ephemeroptera, só começou a ser estudado no Espírito Santo a partir de 2008 e isso, somado à biodiversidade do estado, nos levou à descoberta de muitas espécies desconhecidas para a ciência”, apontou.
INMA
O animal recebeu o nome “inma” em homenagem ao Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), antigo Museu Mello Leitão, que abriga a reserva biológica onde ele foi encontrado.
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Comportamento
Sobre a nova espécie descoberta, ainda não se sabe exatamente do que ela se alimenta – o pesquisador suspeita de que seja de matéria orgânica particulada e em decomposição.
No entanto, sabe-se que ela é predada por outros insetos que vivem na água, como jovens libélulas, besouros e percevejos aquáticos.
De acordo com o professor, a Rivudiva inma provavelmente também faz parte da dieta de peixes e, quando viram adultos, ao adquirir asas e sair da água, também podem ser predadas por aves, morcegos e anfíbios.
Bioindicadores
De acordo com o professor, os animais quando jovens são inofensivos e, adultos, quase não se alimentam, pois têm a formação da “boca” atrofiada.
O professor sinalizou, ainda, que por conta da grande sensibilidade desses animais ao ambiente, eles podem indicar impactos no habitat em que estão inseridos – como, por exemplo, a existência ou não de poluentes ou danos ao meio ambiente.
“Pensando do nosso ponto de vista, eles podem ser benéficos, visto que, em função de sua sensibilidade às alterações ambientais, são considerados excelentes bioindicadores. Algumas espécies, no entanto, podem ser mais tolerantes e sua população aumenta muito em algumas regiões”, pontuou.
Importância
Para o pesquisador, a descoberta de uma nova espécie pode ajudar a traçar novas estratégias para a conservação e manutenção da biodiversidade, já que a qualidade de vida do ser humano depende do trato com o meio ambiente.
“As espécies, não importa a qual grupo pertençam, são a unidade básica e fundamental do que chamamos de biodiversidade. Apesar de muitas pessoas pensarem na conservação da biodiversidade como uma forma de protegermos as espécies ameaçadas ou os ecossistemas em detrimento do desenvolvimento da espécie humana, está claro para mim que a nossa qualidade de vida depende diretamente dessa conservação”, considerou.
Incentivo à ciência
Diante da recente descoberta do animal em solo capixaba, Salles, que foi professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) por 12 anos, enfatizou a importância do incentivo à produção científica.
Para ele, no Brasil, o conhecimento científico que acontece principalmente dentro das universidades tem capacidade de desenvolver ainda mais o país, melhorando a qualidade de vida da população e permitindo maior conhecimento sobre o lugar em que se vive – como no caso da descoberta do novo animal em Santa Teresa.
“Infelizmente, a desvalorização da ciência atinge diversos setores da nossa sociedade e isso tem um impacto imediato no quanto ela é apoiada no Brasil. A nós cientistas cabe não só a responsabilidade de gerar conhecimento, mas também demonstrar à sociedade o valor da ciência e o impacto que ela traz à nossa qualidade de vida”.
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