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Economia

Mudanças climáticas: sete maneiras de identificar empresas que não cumprem promessas

Ao analisar com atenção produtos e propagandas, consumidores podem descobrir se empresas estão mentindo sobre suas credenciais ambientais. Ativistas protestam contra empresas que praticam ‘greenwashing’, termo usado para designar alegações falsas de benefícios ao meio ambiente
PA MEDIA
A maior parte das pessoas está tentando adotar um estilo de vida mais verde, e para alguns de nós isso significa procurar marcas e empresas que respeitem o meio ambiente. Mas como você pode verificar se uma companhia é realmente tão verde quanto ela diz?
Até existe um termo em inglês, “greenwashing”, para designar empresas que se apresentam como amigas do meio ambiente, verdes ou sustentáveis, mas na verdade não são. Esse “greenwashing” engana o consumidor, fazendo-o pensar que está ajudando o planeta ao escolher esses produtos.
As empresas, porém, estão sendo cobradas a provar suas credenciais prometidas em sua publicidade. Mas o que os consumidores precisam observar para poder identificar se estão diante de um caso de “greenwashing”?
1. Alegações falsas ou linguagem vaga
O órgão regulador do setor de publicidade no Reino Unido, a Advertising Standards Authority (ASA, Autoridade de Padrões em Propaganda), diz que atualmente essa é a área sobre a qual recebe o maior número de reclamações do público. E peças publicitárias de algumas empresas já foram banidas.
Em 2019, a autoridade britânica suspendeu um anúncio da Ryanair dizendo que a empresa era a companhia aérea da Europa com a menor taxa de emissões de poluentes, sem ter evidências suficientes para sustentar a alegação. A propaganda da fabricante de carros sul-coreana Hyundai, dizendo que um de seus carros “limpava o ar”, também foi considerada enganosa pela ASA.
Este anúncio da Ryanair foi considerado enganoso por fazer alegação positiva sem provas
Ryanair
Um produto descrito como “natural”, “orgânico” ou “que respeita o meio ambiente”, quando apenas alguns de seus ingredientes pode ser descrito dessa maneira, também cai nessa mesma categoria.
Sue Davies, chefe de políticas de proteção ao consumidor no Which?, um site de teste de produtos, afirma que, em geral, os consumidores deveriam tentar encontrar uma segunda fonte de informação, com autoridade, para verificar as alegações de um fabricante.
“Pense no quadro mais amplo. Por exemplo, será que alegações de proteção do meio ambiente feitas numa garrafa plástica de uso único pode ser levadas a sério?”
2. Imagens de natureza ou palavras de impacto ‘verdes’
Palavras como “eco”, “sustentável” e “verde” são usadas com frequência por empresas para fazer com que sua atividade pareça ter uma consciência ambiental — mas elas raramente estão ligadas a padrões científicos.
Um site do grupo HDS, chamado Amazing Cleaners, visto em julho de 2016, trazia a afirmação de que os serviços de limpeza oferecidos eram “100% eco-friendly” (100% respeitando o meio ambiente). Uma reclamação foi feita e aceita depois que autoridades concluíram que a afirmação fora feita sem evidências ou explicação.
Uma propaganda do leite Alpro Almond também foi suspenso devido a uma alegação ambiental enganosa. O anúncio dizia que o leite era “bom para o planeta”, afirmando: “Sua receita para um planeta mais saudável”. Alpro disse que seu público entenderia que o slogan da propaganda referia-se ao fato de que produtos a base de plantas têm um impacto ambiental menor.
Muitas empresas gostam de usar palavras de impacto para vender uma imagem “verde” ao público
Getty Images via BBC
Mas, apesar de a ASA dizer entender que as amêndoas usadas pela Alpro vinham de áreas com impacto ambiental medido, o órgão afirmou que esse tipo de alegação precisa ser feito de forma mais clara.
3. Informação escondida
Marcas de roupas podem promover peças feitas de tecidos “sustentáveis” mesmo se o resto da sua produção for danoso ao meio ambiente. Por exemplo, uma empresa pode afirmar respeitar o meio ambiente, mas não considerar as emissões na cadeia de suprimentos, causadas por uma usina de carvão no exterior usada para a produção de parte do produto.
Outros setores também pecam nesse aspecto. Em 2007, a ASA tomou uma decisão contra a petroleira holandesa Shell devido a um anúncio publicitário indicando que ela usava excesso de dióxido de carbono para cultivar plantas. O órgão britânico na verdade identificou que a quantidade usada era apenas uma pequena parte de suas emissões.
Em outro exemplo, a fabricante de tinta Edward Bulmer alegou em 2018 que sua tinta era “a mais ‘eco-friendly’ de todo o mercado”, mas não destacou o fato de que o produto continha vários ingredientes que não respeitam o meio ambiente.
4. Fique de olho na compensação de carbono
Um governo, empresa ou indivíduo pode tentar equilibrar suas próprias emissões encontrando outras formas de remover da atmosfera uma quantidade equivalente de gases causadores do efeito estufa. Esse processo é chamado de compensação de carbono.
Mas grupos ambientalistas argumentam que isso apenas joga o problema para frente, em vez de lidar com o desafio de realmente reduzir emissões.
David Barmes, economista-sênior do grupo ativista Positive Money, diz que a compensação de carbono é a mais popular forma de “greenwashing”.
“É cheio de fraude e permite que empresas aleguem estar alcançando metas de emissões quando eles lançam, continuamente, emissões no ar.” Ele acrescenta: “O propósito da compensação é permitir que essas corporações continuem emitindo impunemente e que governos digam que estão atingindo suas metas”.
5. Verifique a propriedade da empresa
Grandes empresas, ou conglomerados, com um grande impacto ambiental frequentemente compram marcas menores visando atingir consumidores com uma consciência ambiental que, de outra forma, poderiam não escolher gastar dinheiro com elas. Então, saber o que ou quem é o verdadeiro dono de uma empresa pode ser importante se você quiser conhecer seu impacto ambiental como um todo.
Empresas estão sendo cobradas para eliminar combustíveis fósseis, como carvão, de sua cadeia produtiva
Getty Images via BBC
Prestação de contas e autenticidade são considerados problemas graves por especialistas, que defendem que todas as emissões de carbono de uma empresa deveriam ser apresentadas como a relação de calorias em um produto — certificadas de forma independente e capazes de influenciar decisões de consumidores.
A professora de sustentabilidade Kimberly Nicholas, da Universidade Lund, na Suécia, disse à BBC que a ação mais efetiva seria o comprometimento das empresas com a eliminação de combustíveis fósseis de qualquer parte de sua cadeia de produção. “Os consumidores precisam tirar seu dinheiro de todas as empresas que estão produzindo ou estão conectadas ao financiamento de combustíveis fósseis”, diz ela. “Sem isso, a ação é inútil.”
6. Produtos ‘eco-friendly’ em meio a outros
Algumas empresas produzem produtos benéficos ao meio ambiente, mas omitem informações sobre o impacto de seus outros itens.
Os novos canudos do McDonald’s não eram recicláveis, apesar da alegação da empresa
PA MEDIA
Um anúncio da companhia de alimentos Quorn foi banido por envolver a forma como a redução de carbono fora certificada em um de seus produtos. A ASA disse que a propaganda não deixou claro com que a alegada redução de pegada de carbono estava sendo comparada, e os espectadores não tinham portanto como saber qual era a base para a alegada redução.
Davies, da Which?, diz que a falta de transparência é um indicador chave de que a empresa não possui, no geral, um impacto ambiental positivo. “Se você está tendo dificuldades em encontrar informação ambiental sobre um produto, marca ou serviço, considere isso um sinal de alerta.”
“Companhias que têm algo a esconder — ou não têm boas histórias para contar — geralmente tornam difícil para o consumidor verificar suas credenciais ecológicas”, acrescenta ela.
7. O produto e a embalagem são recicláveis?
O indicador de “reciclável” que aparece em alguns itens de plástico pode estar sendo usado por produtos que não são facilmente recicláveis.
Em 2018, a rede de “fast food” McDonald’s anunciou que estava eliminando canudos de plástico para uso único em seus restaurantes e passaria a oferecer, em seu lugar, canudos de papel. Mas, no ano seguinte, a rede foi acusada de “greenwashing” quando foi revelado que seus novos canudos não eram, na verdade, recicláveis.
Em 2019, a ASA disse que a Ancol Pet Product enganara consumidores ao anunciar que suas sacolas para coletar dejetos de cachorros eram biodegradáveis, depois que foi descoberto que as sacolas não se degradariam em seus destinos mais prováveis — um aterro sanitário ou a incineração.
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