Falta de água, causada por alteração no volume de chuvas e aquecimento da temperatura, já impacta rota marítima inaugurada em 1914. Presidente panamenho diz que alteração no clima é o maior desafio para operação da via. Embarcações são vistas no Canal do Panamá nesta terça-feira (31)
Eric Batista/AP
A falta de água decorrente das mudanças climática é o maior desafio que o Canal do Panamá enfrenta para continuar operando normalmente, anunciou o governo panamenho nesta terça-feira (31) nas comemorações dos 20 anos da transferência da administração da via marítima ao país da América Central.
Segundo o presidente panamenho, Laurentino Cortizo, nos últimos 20 anos o canal rendeu frutos ao ser administrado “com maior eficiência”, gerando “lucros crescentes” que foram destinados ao “desenvolvimento do país”. Cortizo alertou, porém, que o abastecimento de água é um grande desafio para o futuro.
“Não somente a água para o consumo humano, mas para a produção de alimentos e para abastecer o canal”, destacou o presidente.
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O administrador do Canal, Ricaurte Vásquez, ressaltou que os impactos do aquecimento global já são evidentes na via. “Neste século, vimos novas oportunidades e ameaças, a maior delas é mudança climática e seus efeitos, que claramente já nos afetam”, acrescentou.
De acordo com a Autoridade do Canal do Panamá (ACP), as chuvas ficaram 27% abaixo da média em 2019, enquanto o aumento da temperatura no Lago Gatún, que chegou a 1,5°C nos últimos dez anos, impulsionou uma maior evaporação da água nos reservatórios que abastecem a via marítima.
Diante a esses fatores, o Canal só dispôs de 3 bilhões de metros cúbicos de água neste ano, em vez dos 5,2 bilhões de metros cúbicos necessários para operar de maneira sustentável. Essa redução fez com que companhias de navegação optassem por outras rotas, como o Canal de Suez.
Embarcações são vistas no Canal do Panamá nesta terça-feira (31)
Eric Batista/AP
Para reduzir os impactos do aquecimento global, a ACP pretende implementar novas medidas, entre elas a busca por novas fontes de água, por meio da transferência de rios, da construção de novos reservatórios ou da dessalinização da água do mar.
Construído e administrado pelos Estados Unidos desde a sua inauguração em 1914, o Canal do Panamá foi transferido ao país da América Central em 31 de dezembro de 1999 como resultado de um tratado assinado entre os países em 1977. Desde então, os lucros da via contribuem para as finanças do país.
Em 2019, essa contribuição foi de 1,786 bilhões de dólares, batendo novamente um recorde desde a ampliação do canal, inaugurada em junho de 2016. A obra custou mais de 5,6 bilhões de dólares e durou quase uma década.
Com a ampliação, a rota, que une o Atlântico ao Pacífico, possibilitou o acesso aos navios Post Panamax, que transportam até 14 mil contêineres. Antes, o máximo possível eram navios de até 4.400 contêineres.
Além das mudanças climáticas, o Canal, usado principalmente para conectar a Ásia à costa leste dos Estados Unidos, enfrenta ainda o declínio global do comércio decorrente da desaceleração econômica. Até recentemente, quase 5% do comércio mundial transitava pela via, porém, esse número caiu para 3,5%. Apesar do declínio, em 2019, a rota bateu recorde de faturamento, que chegou a 3,37 bilhões de dólares.
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