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Medidas econômicas para combater coronavírus ajudam, mas são insuficientes, dizem analistas

Ministério anunciou plano emergencial para injetar até R$ 147,3 bilhões e socorrer setores da economia e grupos de cidadãos mais vulneráveis. O ministro da Economia, Paulo Guedes, anuncia medidas emergenciais contra o coronavírus
Reprodução/GloboNews
As medidas anunciadas nesta segunda-feira (16) podem ter algum impacto para mitigar os efeitos do coronavírus na economia brasileira, mas são insuficientes para reverter o quadro de piora da atividade.
Com a deterioração provocada pelo coronavírus, o Ministério da Economia informou que serão empregados R$ 147,3 bilhões em medidas emergenciais para socorrer setores e grupos de cidadãos mais vulneráveis. Na lista de medidas estão, por exemplo, a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas do INSS e do abono salarial, reforço no programa Bolsa Família e ações de combate à pandemia.
“A parte que trata de recursos para as pequenas empresas e para o SUS são relevantes. Esse é um choque de oferta que precisa de recursos para as empresas passarem pela crise com capital de giro”, afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale. “As outras medidas são de renda, mas essa ainda não é uma crise de demanda.”
A pandemia de coronavírus tem provocado um impacto direto em todas as economias, com fronteiras fechadas, produções interrompidas e afetando a cadeia de suprimentos, além de empresas indicando resultados mais fracos. Nesta segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu que os EUA podem entrar em recessão.
O Brasil não vai escapar dos estragos. As últimas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deixam evidente essa piora. No início do ano, as previsões para 2020 indicavam uma alta próxima de 2,5%. Nesta segunda, os analistas consultados pelo relatório Focus, do Banco Central, passaram a projetar um crescimento de apenas 1,68%.
A crise também é aguda no mercado financeiro. Bolsas de valores estão em queda e, no Brasil, o dólar fechou acima de R$ 5 pela primeira vez. “Os mercados financeiros estão conturbados. Há uma piora da percepção de risco, o que inviabiliza novos investimentos”, diz Marcel Balassiano, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Assista, no vídeo abaixo, ao comentário da colunista Míriam Leitão na GloboNews:
‘Paulo Guedes pode irritar o Congresso com o congelamento de gastos’, diz Miriam Leitão
A crise atual, afirmam os economistas, também não tira a obrigação do governo federal de manter o foco na aprovação das reformas consideradas necessárias para melhorar o ambiente de negócios e garantir a sustentabilidade fiscal do país. “As reformas são importantes. O coronavírus vai passar, e o Brasil vai ter de seguir com as reformas”, afirma Marcel.
A questão central é que a dificuldade atual tem como base uma crise de saúde, não econômica. Em 2008, foi uma crise financeira que levou o mundo para a recessão. “Num primeiro momento, essas medidas podem se tornar ineficazes se não houver ações coordenadas com o Ministério da Saúde”, afirma a economista Zeina Latif.
Debate sobre o orçamento
A crise do coronavírus também abriu um debate em relação a um possível aumento do gasto público para destinar mais recursos para a saúde. Uma ala de economistas passou a defender que o governo altere ou elimine o teto de gastos, mecanismo que limita o crescimento das despesas do governo.
O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, diz que seria necessária uma elevação do orçamento público neste momento, o que não é possível devido a regras constitucionais, como o teto de gastos.
Na avaliação dele, como as medidas atuam no sentido de antecipar receitas para a população e adiar despesas para as empresas que já estavam na conta, o que será feito, na verdade, é apenas empurrar mais para a frente o problema.
“Antecipar FGTS e outras receitas certamente terá um efeito de conforto sobre a população, mas quanto a ter algum efeito na economia é altamente questionável. Ao invés da pessoa receber o décimo terceiro no final do ano, ela recebe agora, mas o que ela faz lá no final de 2020?”, diz Gonçalves.
“Quanto às empresas, é a mesma coisa, elas vão deixar, por exemplo, de recolher 10% de imposto agora para, em junho, terem que recolher 20%. Então, eu não sei até que ponto isso realmente atua no sentido de preservar os empregos”, acrescenta.
“O governo mostrou que não abre mão de sua política econômica, de medidas que têm efeito caixa: antecipa receita e adia despesa, mas não mexe no orçamento. E, desse ponto de vista, eu acho tarde e acho pouco”, ressalta.

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