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Máscaras, passaporte de vacina, digitalização: o que esperar da retomada do turismo pós-pandemia

Especialistas do setor dizem que uso de máscara e álcool gel é legado da pandemia que deve ser mantido nas viagens. Preocupação sanitária, segundo eles, tende a alterar o comportamento do turista. Com a pandemia da Covid-19 ainda em curso, o turismo é um dos setores com a maior expectativa para a retomada. O “novo normal” das viagens de lazer ainda está sendo definido, mas tem no radar desde passaporte eletrônico de saúde a serviços de quarto opcional em que o próprio hóspede se encarrega da limpeza.
Enquanto a vacinação contra o coronavírus avança lentamente, os protocolos sanitários dentro e fora do Brasil mudam a todo instante. Para especialistas em turismo, uso constante de máscara facial e álcool em gel é legado que deve ficar. Mas, algumas mudanças, sobretudo nos estilos de viagens, também são esperadas.
“Tudo que a gente tem são hipóteses, expectativa e uma fé enorme. Acho que não teve nenhum setor tão prejudicado quanto o de turismo”, disse Marcelo Linhares, que é diretor-executivo da Onfly, agência especializada em viagens corporativas.
As principais tendências do turismo pós-pandemia segundo especialistas ouvidos pelo G1 são:
Uso de máscara deverá ser obrigatório num primeiro momento;
Disponibilização de álcool gel em aeronaves, hotéis e restaurantes será mantida;
Comprovante de vacinação ou resultado de teste para Covid será obrigatório;
Maior digitalização dos serviços;
Condições de limpeza das hospedagens serão priorizadas;
Destinos regionais deverão ser os mais buscados pelos turistas;
Os chamados “mochilões” deverão ser substituídos por roteiros mais curtos;
Espaços ao ar livre deverão atrair mais público que os locais fechados.
Futuro do turismo: os desafios de impor vacinação obrigatória
Os protocolos básicos de segurança contra o coronavírus – uso de máscara facial e álcool gel para higienizar as mãos – deverão ser mantidos, apontam os especialistas.
“Independente da Covid zerando, esses protocolos sanitários de limpeza, de uso de álcool gel, ficam como herança nos aeroportos, nas aeronaves, nos hotéis”, disse Linhares.
Já a máscara tende a ser flexibilizada, como já acontece na Nova Zelândia, por exemplo, que sediou recentemente o maior show com presença de público desde a pandemia – cerca de 30 mil pessoas sem máscaras.
“A vida sem máscara é possível, mas acho que não vai acabar. Acho que as pessoas, mesmo podendo não usar, vão se sentir mais seguras usando”, avaliou o vice-presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), Frederico Levy.
Inovações à vista
Segundo Levy, da Braztoa, a aceleração da digitalização de serviços demandada pela pandemia promete trazer novidades para o turismo. Entre elas, passaporte eletrônico, incluindo um específico para saúde.
“A Iata [Associação Internacional de Transportes Aéreos] está criando um aplicativo de celular em que você vai ter ali o seu passaporte de saúde. Isso tem que ser uma coisa aceita por companhias aéreas, por países e integrado com laboratórios do mundo inteiro”, destacou.
Atualmente, para entrar em diversos países são exigidos comprovantes de vacinação contra várias doenças, como a febre amarela, por exemplo. A da Covid-19, enfatizou Levy, também será indispensável.
O passaporte eletrônico de saúde poderá conter, além desses comprovantes, resultados de exames que também possam vir a ser exigidos, como o PCR, usado para detecção da presença do coronavírus. “Isso [o uso do passaporte de saúde] pode se estender a shows e eventos, por exemplo”, enfatizou.
Para Marcelo Linhares, da Onfly, a digitalização dos serviços vai aumentar ainda mais. Segundo ele, no segmento corporativo as empresas estão buscando ferramentas que permitam fazer a gestão das viagens de seus funcionários de forma a otimizar processos e economizar custos. No segmento de lazer, trata-se de um novo hábito de consumo potencializado pela pandemia.
“Os hábitos de compra online vão se estender para o turismo também. As pessoas vão comprar mais pacotes online, mais passagens online”, apontou.
Faça você mesmo
Outra inovação no setor de turismo apontada pelo vice-presidente da Braztoa, mas que não está atrelada à tecnologia, é a oferta opcional dos serviços de quarto em hotéis, em que o hóspede dispensa a limpeza e arrumação feitas por terceiros.
“Se você quiser que ninguém entre no seu quarto, você vai ter o material de limpeza ali à disposição. Isso ninguém pensava, ir num hotel para limpar o banheiro, mas essa é uma nova realidade”, disse Frederico Levy.
Replanejando roteiros
Para o diretor-executivo da Agência Brasileira de Engenharia Turística (Abet) Dener Fonseca, a grande maioria dos turistas não vai buscar roteiros pensando em limpeza ou medidas de prevenção à Covid.
“O turista não está viajando porque ele não pode, porque quando o destino abre, ele vai”, afirmou.
Ele citou o exemplo de Campos do Jordão, no interior paulista, que ao reabrir as portas para o turismo registrou 92% de ocupação na rede hoteleira.
“O visitante não vai escolher o destino porque ele é mais limpo ou não. E o destino vai cumprir os protocolos não porque quer, mas porque ele é obrigado”, enfatizou.
A opinião de Fonseca, no entanto, não é unânime. Para outros especialistas, a preocupação com o contágio vai interferir, sobretudo, na escolha dos roteiros.
“A pessoa que iria para os Estados Unidos para ficar enfurnado o dia inteiro dentro de um shopping, talvez vá querer priorizar um parque nacional”, sugeriu Frederico Levy, da Braztoa.
Para Levy, os chamados “mochilões”, em que o turista permanece pouco tempo em um destino, priorizando conhecer o máximo de lugares possíveis na mesma viagem, tende a diminuir pelo mesmo motivo.
“Aquele negócio de conhecer oito países em 12 dias, provavelmente, vai diminuir. Em 12 dias, vai conhecer dois países e passear com mais calma e estar mais do lado de fora [de transportes e hospedagens]”, destacou.
No Brasil, a aposta do de Marcelo Linhares, da Onfly, é de fortalecimento do turismo regional – quanto mais próximo de casa, melhor. Já fatores econômicos tendem a aumentar a demanda por viagens nacionais.
“Uma coisa que é tendência forte e já está acontecendo é o fortalecimento do turismo doméstico. As fronteiras internacionais estão fechadas, com muitas restrições ao Brasil. Além disso, o dólar está muito alto. Então, as pessoas estão, como nunca, buscando os roteiros nacionais”, disse.
Temperatura corporal monitorada nos navios
O segmento de cruzeiros marítimos está otimista com a possibilidade de retomar as operações no Brasil em outubro, quando começa a temporada de viagens. Segundo o presidente-executivo da Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (Clia Brasil), Marcos Ferraz, os protocolos sanitários já estão sendo discutidos com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e visam criar uma “bolha de segurança dentro e fora dos navios”.
“É importante falar que são os mesmos protocolos que estamos usando em outros destinos como Itália, Cingapura, Taiwan, Japão, Taiti e Ilhas Canárias, que já retomaram os cruzeiros de lazer”, ressaltou Ferraz.
Uma das principais medidas é a testagem em massa de toda a tripulação e todos os passageiros antes do embarque. “Algumas empresas estão fazendo nova testagem dos próprios cruzeiristas a partir do 3º dia de embarque”, destacou.
Além da testagem, os navios estão sendo equipados com estações para medição da temperatura corporal por reconhecimento facial. A tecnologia também está sendo usada para monitorar casos suspeitos de Covid-19 dentro da embarcação.
“Gadgets, como pulseiras ou colares, por exemplo, são usados para monitoramento. Em caso de apresentar algum sintoma, a pessoa vai ser testada e isolada e com esse aparelho a gente sabe com quem essa pessoa esteve a menos de um metro e meio de distância e por mais de um minuto e meio para que todas elas também sejam monitoradas”, explicou.
Todas as equipes em terra que têm contato com os ocupantes dos navios também terão testagem e temperatura monitoradas com frequência. “Vai ser uma extensão de uma bolha de segurança de dentro do navio para fora”, reforçou Ferraz.
Segundo a Clia, depois de ter toda a temporada de 2020/2021 cancelada, o segmento de cruzeiros no Brasil oferta mais de 566 mil leitos para a retomada este ano, na temporada que vai de outubro a abril.
“A demanda tem crescido e o cruzeirista consegue se programar com grande antecedência. Uma companhia associada à nossa vendeu, em apenas 48 horas, todo o navio todo de volta ao mundo”, enfatizou o executivo.

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