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Meio Ambiente

Mandar menos emails pode ajudar a salvar o planeta?

As autoridades britânicas estão considerando pedir para que parem de enviar emails de agradecimento. Mas por quê? Mandar e-mail pode ajudar a reduzir a poluição do planeta?
Organic Basics/ Giphy
Você é o tipo de pessoa que sempre diz obrigado? Bem, se for por email, você deveria parar, de acordo com autoridades do Reino Unido que procuram maneiras de salvar o meio ambiente.
O jornal “Financial Times” relata que em breve todos seremos encorajados a enviar um email a menos por dia, eliminando as mensagens “inúteis” de uma linha — como “obrigado”.
Fazer isso “economizaria muito carbono”, disse um funcionário envolvido na cúpula do clima COP26, que ocorrerá em 2021 em Glasgow, na Escócia.
Mas isso realmente faria uma grande diferença?
Por que os e-mails produzem carbono?
A maioria das pessoas tende a pensar na internet como uma nuvem que existe fora de seu hardware de computação. Mas a realidade é que quando você envia um e-mail — ou qualquer outra coisa — ele segue por uma cadeia de eletrônicos que consomem energia.
Seu roteador wi-fi envia o sinal por fios para a central local — a caixa verde na esquina das ruas no Reino Unido — e de lá para uma empresa de telecomunicações que por sua vez o repassa para enormes centros de dados operados por gigantes da tecnologia. Cada um deles funciona com eletricidade, e tudo se soma.
Mas o efeito de um único e-mail em uma infraestrutura tão grande é mínimo.
Meus e-mails são um grande problema ambiental?
O relatório do “Financial Times” diz que os profissionais que divulgaram esta ideia referiram-se a um comunicado para a imprensa feito pela empresa de eletricidade renovável Ovo Energy, de um ano atrás.
Ele alegava que se cada britânico enviasse um e-mail de agradecimento a menos por dia, economizaria 16.433 toneladas de carbono por ano, o equivalente a dezenas de milhares de voos para a Europa.
O problema, entretanto, é que, mesmo que as somas envolvidas sejam calculadas de maneira aproximada, ainda assim seria comparável a um respingo no lago.
As emissões anuais de gases de efeito estufa do Reino Unido foram de 435,2 milhões de toneladas em 2019 — então, a quantidade em questão aqui é cerca de 0,0037% do quadro nacional. E isso se cada britânico reduzisse seu envio de e-mails.
Mike Berners-Lee, um professor respeitado no assunto, cuja pesquisa foi usada no trabalho da Ovo Energy, disse ao “Financial Times” que ela se baseou na matemática “imprevisível” de 2010 — e embora útil para iniciar conversas, tratava de questões maiores.
Além disso, a estimativa de quanto carbono um e-mail gera “leva em consideração absolutamente tudo o que está envolvido”, de acordo com Chris Preist, professor de sustentabilidade e sistemas de computação da Universidade de Bristol.
Ele tenta incluir a energia usada por servidores, seu wi-fi doméstico, seu laptop — até mesmo uma parcela muito pequena do carbono emitido para construir os edifícios do data center.
“A realidade é que muito do sistema ainda terá impacto, seja o e-mail enviado ou não”, explica Preist.
“Seu laptop ainda estará ligado, seu wi-fi ainda estará ligado, sua conexão de internet doméstica ainda estará ligada, a rede mais ampla ainda usará aproximadamente a mesma quantidade de energia, mesmo com uma redução no volume.
“Haverá uma pequena economia no data center que hospeda o email, especialmente se permitir que eles usem alguns servidores a menos. Mas a redução de carbono será bem inferior a 1g por e-mail”.
O que pode fazer a diferença?
Em vez de nos preocuparmos com e-mails de impacto relativamente baixo, alguns pesquisadores sugerem que devemos voltar nossa atenção para serviços como streaming de jogos e vídeo e armazenamento em nuvem, que têm um efeito muito maior.
Mas o assunto é imensamente complicado e há um debate sobre como as estimativas devem ser calculadas — e quem deve ser responsabilizado por isso.
Grandes empresas de tecnologia como o Google, por exemplo, já são orgulhosamente neutras em carbono: elas pagam subsídios para projetos ambientais para compensar o carbono que queimam enviando seus e-mails e outros serviços como o YouTube.
“O que realmente faz a diferença é comprar menos coisas e mantê-las por mais tempo”, explica Preist. “Mas mesmo isso é pouco comparado com sua viagem, com o aquecimento de sua casa e com o que você come.”
Ele disse que os consumidores deveriam focar sua “eco-culpa” nas coisas que fazem a diferença — e não se preocupar com as pequenas.
“Esse é o trabalho das empresas que fornecem os serviços, que devem projetar seus sistemas para fornecer serviços da maneira mais eficiente possível em termos de energia e recursos.”
O conselho dele sobre etiqueta e e-mail de agradecimento?
“Envie um email se achar que a outra pessoa vai valorizá-lo, e não envie se ela não for”, disse ele.
“O maior ‘desperdício’ tanto do ponto de vista ambiental quanto pessoal será o uso do tempo de vocês dois.”

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