Dívida da empresa é da ordem de R$ 4 bilhões. Lojas físicas foram fechadas e aposta é aumentar faturamento com canais digitais. A Justiça deferiu na segunda-feira (10) o pedido de recuperação judicial solicitado na última sexta pela Máquina de Vendas, que controla a Ricardo Eletro.
Dez empresas ligadas à operação de venda de produtos e serviços do grupo fazem parte do pedido. A decisão foi publicada pelo juiz Tiago Limongi, da 1ª Vara Civil de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo. A Laspro Consultores foi nomeada a administradora judicial.
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A dívida da empresa é de R$ 4 bilhões. Além da Ricardo Eletro, a empresa é dona da Insinuante, Salfer, City Lar e EletroShopping.
Decisão da Justiça
Na decisão, o juiz afirma que “os documentos juntados aos autos comprovam que as requerentes preenchem, ao menos em um exame formal, os requisitos legais para requerimento da recuperação judicial”.
Segundo Limongi, a empresa diz que as dificuldades causadas pela pandemia neste ano afetaram o fluxo de caixa após o plano de recuperação extrajudicial, homologado em 2019. E, desde aquele ano, o objetivo era a retomada das operações por meio da concessão de linhas de crédito que permitissem a geração de fluxo de caixa e a reestruturação de suas atividades.
“Contudo, alegam as requerentes que os credores, por receio em relação ao futuro das empresas, negaram-se a disponibilizar novas linhas de crédito, o que manteve suas operações em severas dificuldades”, disse o juiz, de acordo com o Valor.
A empresa tem 60 dias para apresentar o plano de recuperação e depois disso, 90 dias para levá-lo a assembleia geral de credores.
Crises seguidas
A empresa alega que passou a enfrentar dificuldades no recebimento de produtos chineses com o início da pandemia na Ásia para, em seguida, sofrer com queima de caixa quando as medidas de isolamento social chegaram ao Brasil.
“Nesse contexto, a alternativa da recuperação judicial mostra-se o caminho mais viável para que a empresa siga com suas operações normalmente e promova a reorganização administrativa e financeira necessária para superar a situação momentânea de crise e ajustar-se estruturalmente para a nova realidade com varejo, no pós-pandemia”, diz a nota.
A Ricardo Eletro, contudo, anunciou o fechamento de suas mais de 600 lojas físicas ao redor do país. A aposta é o crescimento dos canais digitais, que, segundo a empresa, tiveram crescimento no período de 50 mil para 350 mil visitas diárias.
A Máquina de Vendas passava por processo de recuperação extrajudicial desde 2019. Bancos como Bradesco, Itaú e Santander, além da Whirlpool, estão entre os principais credores.
‘Direto com o dono’
No início de julho, Ricardo Nunes, fundador e ex-principal acionista da Ricardo Eletro, foi preso em São Paulo. Ele era investigado na operação “Direto com o dono”, de combate à sonegação fiscal e lavagem de dinheiro em Minas Gerais.
De acordo com os investigadores, aproximadamente R$ 400 milhões de impostos da rede varejista foram embutidos no preço dos produtos, mas não era repassado ao estado. A filha de Ricardo, Laura Nunes, também foi presa, na Grande BH, mas teve a prisão revogada a pedido do Ministério Público, por ter contribuído com as investigações.
“O valor da dívida dessa empresa está girando em torno de R$ 380 milhões com o estado de Minas Gerais. Colegas promotores da Paraíba, do Rio de Janeiro e de Goiás me ligaram hoje, interessados no compartilhamento de informações e provas. Também nesses estados esse grupo empresarial é detentor de dívidas”, relatou no dia da operação o promotor de Justiça Fábio Reis de Nazareth.
A Ricardo Eletro disse, naquele dia, que Ricardo Nunes e familiares “não fazem parte do seu quadro de acionistas e nem mesmo da administração da companhia desde 2019”.
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Histórico da empresa
A primeira loja Ricardo Eletro surgiu em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, em 1989. Em pouco mais de 10 anos já estava entre as cinco maiores empresas de varejo de eletroeletrônicos do Brasil.
Em 2010, a Ricardo Eletro se fundiu à rede de lojas Insinuante criando o terceiro maior grupo varejista do país, chamado Máquina de Vendas. Em seguida, incorporou as marcas Citylar, Eletroshop e Salfer, unificando as lojas com a marca da Ricardo Eletro.
Em 2011, Nunes foi condenado à prisão por corrupção ativa, depois de ser alvo de denúncia da Procuradoria da República. Ele teria pago propina a um auditor da Receita para livrar a empresa de uma autuação. Ele recorreu da decisão.
Em 2018, o grupo entrou com uma ação de recuperação extrajudicial e, no ano passado, foi vendido para o fundo de investimentos e reestruturação Starboard.
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