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JBS retoma atividades em Passo Fundo após quase um mês; entenda o que mudou na fábrica

Unidade foi interditada em 24 de abril, devido ao contágio de funcionários por coronavírus. Tribunal Superior do Trabalho determinou reabertura da indústria. Funcionários têm temperatura aferida antes de entrar no transporte, em uma das modificações implementadas pela empresa
Divulgação/JBS
A JBS de Passo Fundo retomou as atividades nesta quarta-feira (20), na Região Norte do RS, após quase um mês de interdição após o contágio de funcionários por coronavírus. A retomada foi possível após decisão do Tribunal Superior do Trabalho, que concedeu uma liminar em recurso movido pela empresa.
A unidade foi fechada em 24 de abril pela Gerência Regional do Trabalho. Numa decisão posterior, a Justiça do Trabalho gaúcha manteve a interdição. Na quinta-feira (21), está marcada uma audiência de conciliação entre a empresa e o Ministério Público do Trabalho.
Segundo o MPT, são 94 casos confirmados de coronavírus em funcionários da empresa em Passo Fundo, até essa quarta. Já foram registradas 7 mortes de familiares ou de pessoas do convívio de colaboradores da JBS.
Já a JBS afirma que, até o fechamento da unidade, havia identificado 29 casos confirmados entre os funcionários e que nenhum dos óbitos ocorridos no município tem relação com estes trabalhadores.
Modificações
Os trabalhadores encontraram modificações ao retornar à fábrica, na manhã desta quarta, implementadas pela empresa para minimizar os riscos de contágio.
Os novos protocolos, espaços e medidas foram elaborados pela equipe liderada pelo infectologista Adauto Castelo, professor da Universidade Federal de São Paulo. Conforme a JBS, as novas medidas são padronizadas nos seus mais de 100 frigoríficos. A empresa diz ainda que parte das modificações já estava em vigor antes da interdição.
“O mais importante é impedir que o assintomático transmita”, disse o médico em entrevista ao G1.
“O grande desafio não é identificar o trabalhador que está gripado, esse ele próprio se identifica, é imediatamente afastado. O difícil, eu diria impossível, em qualquer ambiente, é identificar continuamente o indivíduo infectado e assintomático”, reforça.
Por isso, as modificações tiveram como princípio a proteção facial, higienização constante e distanciamento entre os trabalhadores.
Transporte
As novas medidas começam na saída para o trabalho. “O colaborador, a partir do momento em que ele sai do domicílio, ele entra na jurisdição da empresa. Tem que usar máscara e, antes de entrar no ônibus, o motorista afere a temperatura dele”, descreve o médico.
Caso o funcionário tenha temperatura acima de 37,8 graus, ou apresentar algum sintoma gripal, ele não entra no ônibus.
Os veículos tiveram alguns assentos bloqueados, para evitar que um funcionário fique ao lado do outro. “Ele é desestimulado a conversar”, comenta Castelo.
Os ônibus não sairão na mesma hora, para não chegarem juntos à planta, e os relógios de ponto foram distribuídos em mais locais dentro da empresa.
Ônibus são higienizados e tiveram a lotação reduzida para levar funcionários até a JBS de Passo Fundo
Divulgação/JBS
Na empresa
Uma vez na empresa, o funcionário é orientado a ir diretamente para o vestiário, que terá distanciamento demarcado. Deve tirar toda a roupa, e vestir o uniforme do trabalho. Só aí pode ir até o local de produção.
Nas linhas produtivas, foram colocadas lâminas de acrílico para separar os funcionários em situações em que o distanciamento não é possível.
Descanso e refeitórios
O médico descreve que foram contratados funcionários, chamados monitores Covid, para a função exclusiva de verificar se todos os funcionários estão no distanciamento adequado durante o período de descanso.
No refeitório, o funcionário não poderá mais se servir, e receberá a refeição da equipe da cozinha, junto com talheres descartáveis e guardanapos. Segundo Castelo, esse foi um pedido do Ministério Público Federal especificamente para o frigorífico de Passo Fundo.
Somente um funcionário é permitido por mesa. Entre cada uma, foi instalado uma barreira acrílica. Os horários de refeições devem ser escalonados.
Os funcionários são constantemente orientados a higienizar as mãos ai chegar e sair de cada ambiente. “O frigorífico está cheio de estações com água e sabão, ou álcool em gel não acionado pela mão”, comenta.
Frigorífico da JBS retorna às atividades em Passo Fundo após interdição
Uso da máscara
A proteção facial, com máscaras e face shields, é crucial para evitar a disseminação da doença em ambientes como frigoríficos, aponta o médico.
“Máscara é pra quem está infectado sem saber não infectar outras pessoas. Isso, num frigorífico, a gente consegue obrigando todo mundo a usar”, afirma.
O médico lembra que, ao deixar a empresa, não há mais controle sobre os cuidados dos funcionários. “O que acontece: quando chega em casa, tira a máscara, interage com outras pessoas”, observa. “A fábrica pode orientar, mas deixa de ter autoridade. Aí é questão do poder público, orientando a manter o isolamento”, afirma.
Os trabalhadores devem se preparar para um período longo com essas modificações, talvez para sempre, alerta Castelo.
“Eu não acho que essas medidas possam ser descontinuadas, porque tenho a impressão de que esse vírus fica com a gente por um bastante tempo. A implementação dessas medidas deixa os ambientes do trabalho deixam preparado pra uma eventual epidemia futura”, finaliza.
MPT fiscaliza unidade
O Ministério Público do Trabalho esteve já nesta quarta-feira (20) na unidade, para inspeção do retorno das atividades e para verificar se as modificações estão adequadas, junto com autoridades de saúde, conforme a procuradora Priscila Dibi Schvarcz.
Ela lembra que a decisão do TST ainda é cautelar, ou seja, não teve o mérito analisado. “Não é uma decisão que reconheceu que está tudo ok”, afirma.
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Foto: Infografia/G1
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