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Meio Ambiente

Incêndios no Pantanal causam devastação, matam animais e emitem alerta climático

Região abriga cerca de 1.200 espécies de animais vertebrados, incluindo 36 ameaçados de extinção, além de pássaros raros e a mais densa população de onças-pintadas do mundo. Um incêndio está queimando desde meados de julho no Pantanal, deixando um rastro enorme de destruição em uma área maior do que a cidade de Nova York. 
Uma equipe de veterinários, biólogos e guias locais chegou no final de agosto para percorrer a esburacada estrada de terra conhecida como Rodovia Transpantaneira tentando salvar animais feridos. 
Um jacaré morto é visto em uma área que queimada após incêndio no Pantanal, a maior área úmida do mundo, em Poconé (MT)
Amanda Perobelli/Reuters
Onças-pintadas vagam pelo terreno carbonizado com fome e sede, as patas queimadas e os pulmões enegrecidos pela fumaça. Eles também relatam corpos de jacarés com mandíbulas congeladas em gritos silenciosos, o último ato de criaturas desesperadas antes de serem consumidas pelas chamas. 
Este é um dos milhares de incêndios que varrem o Pantanal brasileiro — a maior área de planície alagada do mundo — neste ano, no que os cientistas climáticos temem que possa se tornar um novo normal, repetindo outros casos de aumento de incêndios causado ​​pelo clima, da Califórnia à Austrália.  
Foto aérea mostra a fumaça das queimadas ao redor do rio Cuiabá, em Poconé (MT), no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
O Pantanal é menor e menos conhecido do que a floresta amazônica, mas as águas normalmente abundantes e a localização estratégica da região — entre a floresta tropical, vastos campos do Brasil e florestas secas do Paraguai — o tornam um atrativo para os animais. 
Os incêndios agora estão ameaçando um dos ecossistemas de maior biodiversidade do planeta, dizem os biólogos. O Pantanal abriga cerca de 1.200 espécies de animais vertebrados, incluindo 36 ameaçados de extinção. Em toda esta paisagem geralmente exuberante de 150.000 quilômetros quadrados, pássaros raros voam e a mais densa população de onças-pintadas do mundo vagueia. 
O fogo não é novidade na região. Por décadas, os fazendeiros usaram as chamas para devolver nutrientes ao solo de forma barata e renovar o pasto para o gado de corte. Mas essas chamas, alimentadas pela seca, agora queimam com força histórica, correndo pela vegetação ressequida. Os maiores incêndios no Pantanal neste ano representam o quádruplo do tamanho do maior incêndio na floresta amazônica, mostram os satélites da Nasa. 
Bombeiros do Estado de Mato Grosso abastecem seu caminhão com água enquanto se preparam para apagar um incêndio em frente a um funil de fumaça em uma fazenda no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
Um recorde de 23.490 quilômetros quadrados foi queimado até 6 de setembro — quase 16% do Pantanal brasileiro, de acordo com uma análise da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 
No mês passado, a Reuters testemunhou um incêndio que atingiu de uma floresta a uma pastagem perto do portal turístico de Poconé, no Estado de Mato Grosso. A temperatura no solo subiu para 46,5ºC. 
Dorvalino Conceição Camargo, de 56 anos, tenta apagar um incêndio em uma fazenda perto de onde trabalha no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
Dorvalino Conceição Camargo, um lavrador de 56 anos com um chapéu de palha comum entre os trabalhadores locais, ajudou a conter as chamas. 
Suando com o esforço, Camargo disse que nunca tinha visto fogo tão forte. 
“Sofre tudo”, disse ele, explicando que “o gado está sofrendo, (mas) não é só o gado, sofre tudo.”
Nada de inundação
O Pantanal é conhecido por ser úmido, não seco. A maior planície inundável do mundo normalmente se enche de água durante a estação chuvosa, de novembro a abril de cada ano. 
Camargo lembra de ter navegado nas águas ainda criança em canoas. De volta à fazenda onde trabalha, ele mostrou a marca d’água da fazenda — 70 centímetros acima do solo — talhada no poste de um curral de gado. Mesmo em um ano seco, normalmente é cerca de metade disso, disse ele. 
Este ano, as inundações não vieram. Apenas um pouco de água se acumulou em uma vala próxima, afirmou ele.
Agora, com a evaporação da água na estação seca, o rio Paraguai, que corta o Pantanal, atingiu seu ponto mais baixo desde 1973, segundo Julia Arieira, pesquisadora de clima da Universidade Federal do Espírito Santo. 
Foto aérea mostra árvores queimadas e vegetação destruída pelo fogo no Pantanal, a maior área úmida do mundo, em Poconé (MT)
Amanda Perobelli/Reuters
Os especialistas atribuem a seca ao aquecimento do Oceano Atlântico, logo acima do equador, que está retirando a umidade da América do Sul e a enviará para o norte, provavelmente na forma de furacões mais fortes. 
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O cientista da Nasa Doug Morton disse que este fenômeno é causado por mudanças na temperatura do oceano conhecidas como Oscilação Multidecadal do Atlântico — o equivalente do Oceano Atlântico ao El Niño no Pacífico. Ao contrário do El Niño, que normalmente acontece a cada 2-7 anos, a Oscilação alterna entre quente e frio aproximadamente a cada 30-40 anos. 
Quando esquenta, como acontece desde a década de 1990, é mais provável que ocorra o aquecimento do Atlântico Norte tropical, contribuindo para as secas e incêndios sul-americanos. 
Dorvalino Conceição Camargo, de 56 anos, observa a fumaça que sobe no ar em uma fazenda em Poconé (MT)
Amanda Perobelli/Reuters
As mudanças nas temperaturas do oceano são “um provável fator das condições de seca que temos visto até agora este ano no Pantanal”, de acordo com Morton, que lidera o laboratório de ciências biosféricas da Nasa. 
Morton afirmou que a fase quente também pode estar contribuindo para mais seca na parte sul da Amazônia, onde os incêndios provavelmente atingiram em agosto o maior número em 10 anos, e nos pântanos da Argentina, onde as chamas são as piores desde 2009.
Mais preocupante ainda, Morton teme que o aquecimento global possa desorganizar a Oscilação e deixá-la permanentemente na fase quente, contribuindo para mais incêndios.
Nuvens de fumaça são vistas enquanto as árvores queimam entre a vegetação durante incêndio no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
Bombeiros tentam apagar um incêndio em uma fazenda no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
No governo de Jair Bolsonaro, o Brasil também enfraqueceu a fiscalização ambiental. 
O Ministério do Meio Ambiente não respondeu a um pedido de comentário.
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, visitou o Pantanal em agosto, dizendo que as agências ambientais federais enviaram cinco aeronaves e funcionários adicionais para ajudar os mais de 100 bombeiros estaduais que combatem as chamas.  
Animais mortos
Nenhum ser humano morreu nos incêndios do Pantanal, segundo o tenente-coronel Jean Oliveira do estado de Mato Grosso, que tem liderado todos os órgãos do governo na resposta ao incêndio.
As vítimas, disse ele, são animais selvagens.
Uma onça-pintada se esfrega na vegetação enquanto caminha em meio à fumaça de um incêndio próximo no Parque Estadual Encontro das Águas, no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
Embora não haja uma contagem exata, no mínimo milhares de animais morreram, segundo o biólogo Rogério Rossi, da Universidade Federal de Mato Grosso.
A equipe veterinária itinerante é capaz de salvar apenas uma pequena fração dos animais feridos. Muitas dessas criaturas são difíceis de pegar, estão longe das estradas acessíveis.
O veterinário Jorge Salomão Jr. fez um inventário da carnificina.
“Vimos muitos animais mortos, principalmente répteis, serpentes, jacarés”, disse ele. “Vimos muitos cervos mortos, antas mortas, macacos mortos, quati mortos”.
A estudante de veterinária Isabella Cristina Pereira Britto e a guia local Eduarda Fernades observam uma cobra morta após incêndio no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
Na área queimada de 1.347 quilômetros quadrados perto da cidade de Poconé (MT), cobras mortas são vistas a cada poucos metros.
A guia local Eduarda Fernandes, que está trabalhando com a equipe de resgate, andou pela área com os pés afundando na fuligem.
Ela pegou uma cobra petrificada no fogo que havia mordido o próprio corpo. Um biólogo disse ter sido provavelmente uma reação involuntária, com o animal buscando qualquer forma de escapar da dor de ser queimado vivo.
Questionada sobre o que ela achava que aconteceu, Fernandes respondeu: “Dor. Desespero”.
Foto érea mostra uma casa cercada por vegetação queimada em Poconé (MT), no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
Um homem que trabalha em uma fazenda observa a fumaça das queimadas subindo pelo ar em Poconé (MT), no Pantanal
Amanda Perobelli/Reuters
Carlos Augusto Rodrigues, de 35 anos, dá a Rafael Silva, de 16, uma garrafa cheia de água para ajudar a apagar um incêndio em uma fazenda no Pantanal
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Foto aérea mostra a fumaça das queimadas sobre a vegetação ao redor do rio Cuiabá, no Pantanal
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Funcionários de uma fazenda são vistos próximos ao fogo em uma fazenda no Pantanal, em Poconé (MT)
Amanda Perobelli/Reuters
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