Organização prevê uma expansão de 3,6% em 2021, com “recuperação desigual” e “cicatrizes profundas”. Logo do FMI em Washington, EUA
Reuters/Yuri Gripas
O Fundo Monetário Internacional alertou nesta quinta-feira (22) que a pandemia terá um forte impacto sobre o emprego na América Latina, com um aumento significativo da pobreza e um retorno à renda real per capita anterior à covid-19 apenas em 2025.
“Espera-se que o choque da covid-19 tenha um amplo impacto sobre o emprego e elimine parte do progresso social feito pela região até 2015”, disse o FMI ao publicar suas últimas perspectivas econômicas para a América Latina e o Caribe.
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“As estimativas atuais indicam perdas de renda duradouras e a pobreza deve aumentar substancialmente em 2020”.
O FMI estima uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) regional de 8,1% em 2020. Mas, ao contrário das recessões anteriores, o emprego caiu mais fortemente do que o PIB no segundo trimestre de 2020: mais de 30 milhões de pessoas ficaram sem trabalho no Brasil, México, Chile, Colômbia, México e Peru.
As perdas de empregos foram mais marcantes entre as mulheres, especialmente no Brasil, na Colômbia e no Peru, bem como entre os jovens e trabalhadores pouco qualificados.
A incidência da pandemia no emprego informal também foi grave, o que em outras recessões agiu como um amortecedor.
Em países altamente dependentes do turismo, como o Caribe, a pandemia foi como uma “parada cardíaca”, disse o FMI.
Outra década perdida?
Os aspectos estruturais do mercado de trabalho latino-americano, onde 45% dos empregos estão localizados em setores de alto contato social e o teletrabalho é possível em apenas um em cada cinco casos, exacerbaram o impacto econômico.
“Essas duas características, combinadas com uma contração do comércio e turbulência financeira causada pelo enfraquecimento da economia mundial, contribuíram para o colapso histórico da atividade”, explicou Alejandro Werner, diretor do FMI para as Américas, no blog que acompanha a divulgação do relatório.
O FMI prevê uma expansão de 3,6% em 2021, com “recuperação desigual” e “cicatrizes profundas”.
A propagação do vírus persiste junto à incerteza sobre sua evolução, com o que as projeções econômicas para a região são enviesadas para baixo.
“A maioria dos países não retornará ao PIB pré-pandêmico até 2023, e à renda per capita até 2025, mais tarde do que qualquer outra região”, disse Werner, que escreveu o blog com Samuel Pienknagura e Jorge Roldós.
O relatório aponta — como já havia destacado o FMI — que isso “significa que a América Latina e o Caribe enfrentam a possibilidade de mais uma década perdida, como a dos anos 1980”.
Já em abril, Werner havia alertado sobre a possibilidade de que entre 2015 e 2025 a região não registrasse crescimento econômico, como aconteceu há 40 anos por conta da crise da dívida externa.
“Panorama incerto”
O FMI destacou que os países da América Latina e do Caribe anunciaram apoio fiscal equivalente a 8% do PIB regional para mitigar o impacto da pandemia.
“Essas medidas excepcionais são cruciais para apoiar a atividade econômica a fim de evitar desacelerações econômicas ainda mais fortes e repercussões sociais mais severas”, apontou o relatório.
No Brasil, sem esse plano de emergência, a taxa de incidência da pobreza teria aumentado de aproximadamente 6,7% para 14,6%, observou.
Além das medidas fiscais, o FMI considerou positivas as leis aprovadas no Chile e no Peru para retirar antecipadamente os fundos de pensão, e elogiou o corte nas taxas de política monetária em toda a região.
Agora, a prioridade é deter a propagação do vírus e consolidar a recuperação econômica, disse o Fundo, pedindo que se evite a retirada de pacotes de ajuda, mas sem perder de vista a necessidade de futuras reformas estruturais que contemplem o acesso à saúde e educação e preservar o investimento público.
“Uma recuperação mais fraca do que o esperado e uma pandemia mais persistente imporão decisões mais difíceis para os governos. Cicatrizes e menor crescimento potencial do PIB aumentam os desafios políticos de curto prazo”, alertou o texto.
A conclusão é de que, embora as reformas estruturais possam lançar as bases para um crescimento mais sustentável e inclusivo, “os legados da pandemia são uma visão já incerta para a região”.
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