Mais de 100 manifestantes morreram em protestos no fim de semana; total de vítimas passa de 400. China e Rússia pedem cautela. Manifestantes que protestavam contra o golpe no Mianmar saem nas ruas em Dawei nesta segunda-feira (29)
Handout/Dawei Watch/AFP
Os Estados Unidos suspenderam nesta segunda-feira (29) um acordo comercial com Mianmar após as forças de segurança do país asiático deixarem mais de 100 mortos no fim de semana durante protestos contra o golpe militar. A suspensão durará até o restabelecimento da democracia, disse o governo de Joe Biden.
“O massacre de manifestantes pacíficos, estudantes, trabalhadores, líderes sindicais, médicos e crianças mobilizou a consciência da comunidade internacional”, disse a representante comercial da Casa Branca, Katherine Tai.
A decisão retira Mianmar do Sistema Generalizado de Preferências, no qual os Estados Unidos concedem acesso isento de direitos a algumas importações de países em desenvolvimento se cumprirem as regras-chave.
ENTENDA: A situação em Mianmar, onde manifestantes sofrem massacre e golpistas festejam
Grupo carrega caixão de vítima da repressão aos protestos contra o golpe militar em Mianmar durante funeral em Taunggyi nesta segunda-feira (29)
STR/AFP
O último sábado, Dia das Forças Armadas birmanesas, foi o dia mais sangrento desde o golpe de 1º de fevereiro, quando o exército do país derrubou a líder civil Aung San Suu Kyi. A ONU estima a morte de 107 pessoas, incluindo sete crianças. Outros observadores dizem que o número pode ser ainda maior.
“É absolutamente inaceitável ver violência contra pessoas em níveis tão elevados”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, que pediu “mais união” da comunidade internacional para “pressionar”.
Desde o início dos protestos, mais de 450 pessoas morreram na repressão diária aos manifestantes, de acordo com o último balanço da Associação de Ajuda a Presos Políticos (AAPP), uma ONG local.
Mianmar tem dia marcado por comoção em enterros dos mais de 100 mortos em protestos
China pede moderação
O Conselho de Segurança da ONU também vai discutir a situação do país novamente na quarta-feira, segundo diplomatas.
Nesta segunda-feira, China e Rússia, aliados tradicionais da junta militar birmanesa neste caso, pediram moderação.
“A violência e os confrontos sangrentos não atendem aos interesses de nenhum dos lados”, declarou o Ministério das Relações Exteriores da China. O Kremlin, por sua vez, expressou preocupação com o “crescente” número de vítimas civis.
No entanto, a junta não parece se incomodar com as convicções e sanções internacionais. A televisão Myawaddy, controlada pelos militares, só relatou 45 mortes no sábado, justificando a repressão dizendo que os manifestantes usaram armas e bombas contra as forças de segurança.
Apesar do fim de semana sangrento, na segunda-feira, centenas de pessoas manifestaram-se na Prata, na região de Mandalay (centro), com cartazes onde se lia “O povo nunca será derrotado”.
Sessenta jovens de uma cidade no estado de Karen, no leste do país, fizeram seu próprio protesto, acompanhados por suas mães, informou a mídia local. Dois jornalistas foram presos no estado de Kachin.
Um homem usa um estilingue durante um protesto contra o golpe militar, em Yangon, Mianmar, em 28 de março de 2021.
Stringer/Reuters
Desde o golpe, 55 jornalistas foram presos e 25 permanecem na prisão, segundo uma organização local. Ao mesmo tempo, os funerais das vítimas da repressão continuaram.
Na região de Sagaing, centenas de pessoas prestaram homenagem a Thinzar Hein, um estudante de enfermagem de 20 anos que foi morto a tiros enquanto ajudava equipes de resgate no tratamento de feridos.
O Ministério britânico das Relações Exteriores recomendou que seus cidadãos abandonem o país o mais rápido possível após o “aumento significativo do nível de violência”.
No domingo, a embaixada dos Estados Unidos em Yangon pediu a seus cidadãos que limitem os deslocamentos e aconselhou “precaução”.
Homem segura bandeira da Liga Nacional para a Democracia durante protesto em Mianmar
Reuters
Ataques aéreos no estado de Karen
No estado de Karen, a União Nacional Karen (KNU), um dos principais movimentos rebeldes das minorias étnicas do país, foi alvo de ataques aéreos durante o fim de semana, os primeiros em 20 anos.
Os ataques deixaram quatro mortos e nove feridos, segundo Hsa Moo, ativista dos direitos humanos da etnia karen. Quase 3 mil pessoas fugiram da região no domingo e atravessaram a fronteira com a Tailândia.
Um menino birmanês sobreviveu milagrosamente a um bombardeio que matou seu pai, ao destruir o casebre da família em um território karen, perto da fronteira tailandesa, informou nesta segunda uma fonte humanitária.
Segundo a ONG local Associação para a Assistência aos Presos Políticos (AAPP), ao menos 459 teriam morrido.
O primeiro-ministro tailandês, Prayut Chan-o-Cha, disse à imprensa em Bangcoc que o Exército do país está preparado para mais chegadas de birmaneses.
No entanto, cerca de 2 mil pessoas foram repelidas ao se aproximarem da fronteira com a Tailândia, informou a mídia local nesta segunda-feira. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Tailândia negou essas informações.
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