Sterculia Chicomendesii, mais conhecida como Axixá, foi descrita em 1989 por pesquisadora em tese de doutorado, mas até hoje não foi validada por não ter sido publicada em revista científica. De flores avermelhadas, árvore ocorre em várias partes do Acre, inclusive na Reserva Extrativista Chico Mendes. Sterculia Chicomendesii ocorre em várias partes do Acre, inclusive na Reserva Extrativista Chico Mendes
Marcos Silveira/Arquivo pessoal
Na semana em que se lembra o nascimento e morte do ambientalista Chico Mendes, o G1 traz uma curiosidade que envolve o líder seringueiro. É que existe uma árvore que foi nomeada em homenagem a ele, chamada Sterculia Chicomendesii, mais conhecida como Axixá. A espécie foi descrita em 1989 pela pesquisadora Elizabeth Louise Taylor em sua tese de doutorado, mas até hoje não foi validada por não ter sido publicada em revista científica.
Em sua pesquisa, Elizabeth listou 43 espécies do gênero Sterculia e propôs 16 espécies novas para ciência, entre elas a Chicomendesii. No entanto, segundo conta o biólogo Marcos Silveira, somente três dessas espécies foram publicadas em revista científica e, portanto, foram validadas. As demais, incluindo a que homenageia o líder seringueiro, não possuem validação taxinômica internacional.
“Daquelas 16 novas espécies que também não tinham validação taxinômica, só agora em outubro de 2020 foi que três delas foram publicadas numa revista. Infelizmente, a Chicomendesii ainda não está entre elas, precisamos de mais gente trabalhando na revisão dessas espécies”, diz o especialista.
Fruto da Chicomendesii é uma cápsula dura, não lenhosa e tem sementes pretas
Marcos Silveira/Arquivo pessoal
Características
A espécie Chicomendesii está restrita à região da Amazônia, essencialmente ao sudoeste da Amazônia. Segundo o biólogo, ela ocorre em várias partes do Acre, no sul do Pará, no Amazonas e no Peru.
No Acre, a árvore é encontrada na Reserva Extrativista Chico Mendes, na Reserva Extrativista do Alto Juruá, na fazenda experimental Catuaba, da Ufac, e em vários outros locais.
É uma espécie de madeira macia, de crescimento rápido, muito indicada na recuperação de áreas perturbadas e degradadas. As flores são avermelhadas e têm odor fétido. Essa curiosidade do odor está relacionada, segundo o professo, com o nome do gênero. Isso porque, Sterculia era um Deus da mitologia romana relacionado com os excrementos dos animais, com esterco.
“Então, embora o nome tenha essa alusão, a homenagem ao Chico Mendes é muito bem feita, porque ela também ocorre na reserva extrativista Chico Mendes. Acredito que foi com base em amostras nossas, coletadas lá que a autora da espécie a descreveu”, conta.
O fruto da Chicomendesii é uma cápsula dura, não lenhosa e tem sementes pretas. Quando o fruto está maduro, ele é vermelho. Outra característica, é que a Sterculia está na família Malvaceae, em que tem uma madeira de crescimento rápido e pode ser utilizada também na ornamentação e paisagismo. Na época mais seca do ano, quando falta de água no solo, essas espécies perdem as folhas.
Espécie de poiaeiro-de-chicomendes
Divulgação/Fabio Schunck
Outras homenagens
Além da espécie de árvore, Chico Mendes foi homenageado com uma espécie de ave, denominada Zimmerius Chicomendesii, conhecida como Poiaeiro-de-chicomendes.
A ave foi descrita junto com outras 14 espécies que vivem na Amazônia brasileira por cientistas de três instituições do Brasil e uma dos Estados Unidos. As espécies foram encontradas no sul da Amazônia, em áreas dos estados do Amazonas, Pará, Acre, além de trechos de Rondônia e Mato Grosso. Quase todas vivem em áreas próximas de rios.
Conforme o estudo, o poiaeiro-de-chicomendes estava entre as quatro espécies são consideradas vulneráveis na natureza.
Outra homenagem a Chico Mendes é com o nome dado a um sapo, chamado de Adenomera chicomendesi, ou “rã de espuma de Chico Mendes”. A espécie é típica de florestas primárias e urbanas, sendo encontrada no Peru e também no Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco.
Chico Mendes é considerado por historiadores um dos guardiões da Amazônia
Reprodução.
História de luta pelo meio ambiente
Francisco Alves Mendes, conhecido por Chico Mendes, morreu em 22 de dezembro de 1988, aos 44 anos, com um tiro no peito, em sua casa, no município de Xapuri, no interior do Acre. Ele faria 76 anos no dia 15 de dezembro.
Defensor do meio ambiente e considerado por historiadores um dos guardiões da Amazônia, o líder seringueiro foi morto quando saía pela porta para tomar banho do lado de fora da casa dele. Chico Mendes levou tiros de escopeta de Darci Alves, a mando do pai, Darly Alves. Os dois foram condenados a 19 anos de prisão.
A morte de Chico Mendes chocou o mundo e a pressão internacional fez com que o Brasil tomasse medidas urgentes para evitar os conflitos e a devastação da Amazônia. Uma das medidas foi a criação das reservas extrativistas. Em 1990, foi criada a Reserva Extrativista Chico Mendes (Resex).
Quase 1 milhão de hectares, cerca 970 mil km de floresta, se estende por sete municípios: Assis Brasil, Brasileia, Capixaba, Epitaciolândia, Sena Madureira, Xapuri e Rio Branco. A área é utilizada por populações extrativistas tradicionais, e tem como objetivo proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, além de assegurar o uso sustentável dos recursos naturais, mas os preços baixos dos produtos da floresta e a dificuldade de mercado trazem para dentro da Resex problemas antigos.
Semana Chico Mendes
A 31ª edição da Semana Chico Mendes começou no dia 15 com algumas adaptações na realização devido à pandemia. O evento debate a importância do meio ambiente e de povos indígenas. Os debates, palestras, discussões, homenagens e shows são feitos pela internet.
A programação começou no dia em que Chico Mendes faria 76 anos e termina na mesma data em que ele foi morto, 22 de dezembro.
Esse ano, o foco do evento é discutir os ‘desafios e possíveis soluções para o fortalecimento dos povos tradicionais e manutenção do legado de Chico Mendes’. A programação inclui ainda exibição de painéis sobre os problemas e soluções em defesa da Amazônia; do filme ‘Povo da Floresta’, do diretor Rafael Calil; do documentário ‘Chico Mendes Vive’, da diretora Maria Maia; o show ‘Seringal Cultural’, com vários artistas locais, entre outros.
VÍDEOS: G1 em 1 Minuto-AC com Janine Brasil e Tácita Muniz
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