Texto foi intitulado de ‘Convergência pelo Brasil’. Ex-ministros e ex-presidentes do Banco Central pediram crescimento sustentável, com responsabilidade social e ambiental. Ex-ministros e ex-presidentes do BC lançam medidas para retomar economia
Em carta pública divulgada nesta terça-feira (14), ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central escreveram que a recuperação econômica do país deve levar em conta a preservação ambiental e a responsabilidade social.
O documento é assinado, entre outros, pelos ex-ministros da Fazenda Pedro Malan, Fernando Henrique Cardoso, Henrique Meirelles, Joaquim Levy e Zélia Cardoso de Mello, além dos ex-presidentes do BC Armínio Fraga, Gustavo Loyola, Persio Arida e Ilan Goldfajn.
“Superar a crise exige convergirmos em torno de uma agenda que nos possibilite retomar as atividades econômicas, endereçar os problemas sociais e, simultaneamente, construir uma economia mais resiliente ao lidar com os riscos climáticos e suas implicações para o Brasil”, escreveram no texto.
VEJA A ÍNTEGRA DA CARTA PÚBLICA
Desde que tomou posse, Jair Bolsonaro é criticado por ter tomado medidas que afrouxaram a fiscalização ambiental. As críticas ao país ameaça inclusive o acordo comercial entre Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e União Europeia.
No mês passado, um grupo de 29 grandes fundos internacionais de investimento, que gerencia cerca de R$ 20 trilhões em recursos, enviou carta carta aberta às embaixadas brasileiras de oito países (Estados Unidos, Japão, Noruega, Suécia, Dinamarca, Reino Unido, França e Holanda).
Na carta, os investidores manifestam preocupação com o aumento do desmatamento no Brasil e apontam uma incerteza generalizada sobre as condições para investir e fornecer recursos financeiros ao país. Europeus já ameaçaram desinvestir no Brasil por causa dos problemas ambientais na Amazônia.
Nesta segunda-feira (13), o governo exonerou a coordenadora-geral de Observação da Terra do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Lubia Vinhas após o órgão divulgar, na semana passada, que o mês de junho teve o maior número de alertas de desmatamento para o mês em toda a série histórica, iniciada em 2015.
Investidores estrangeiros pedem comprometimento do Brasil com preservação do meio ambiente
Pontos da carta pública
Na carta pública, os ex-ministros da Fazenda e presidentes do BC brasileiro defendem que critérios de redução das emissões e do estoque de gases de efeito estufa na atmosfera, e de resiliência aos impactos da mudança do clima sejam integrados à gestão da política econômica.
“Esses critérios já são, e serão cada vez mais, baseados em tecnologias compatíveis com o aumento da produtividade da nossa economia, a geração de empregos e a redução da desigualdade no Brasil. Além disso, a descarbonização significa a valorização da nossa economia no longo prazo, uma consideração cada vez mais importante para investidores internacionais”, acrescentam.
Indicaram ainda princípios para “descarbonizar” a economia brasileira e, simultaneamente, aumentar a sua produtividade, como a diretriz de que investimentos públicos e privados devem apoiar a transição da economia brasileira para um padrão de emissões líquidas de carbono zero, indispensável para estabilizar a temperatura média global.
Também pediram que seja zerado o desmatamento na Amazônia e no Cerrado, argumentando que seu retorno é “baixo e certamente negativo quando se considera, além da biodiversidade e os serviços ambientais e climáticos, o impacto reputacional sobre o país”, além de ações para o aumento da resiliência climática e pesquisas científicas que propiciem soluções e promovam modelos de negócio de baixo carbono.
Problema de escala global
Em coletiva de imprensa online realizada nesta manhã sobre a carta pública, Persio Arida, ex-presidente do BC, afirmou que a pandemia do novo coronavírus acentuou transformações na consciência coletiva.
“A primeira delas é em relação a desigualdades. O fato dramático é que, no Brasil, pobres venham a falecer mais do que ricos. Para a sociedade brasileira, e outras sociedades também, vai nos levar a refletir mais seriamente sobre a questão da desigualdade social e de como combater a pobreza. O segundo aspecto é o meio ambiente. Se olharmos historicamente, de início era uma preocupação dos cientistas e ambientalistas. Aos poucos, foi se difundindo para a opinião pública e, depois, chegou ao mundo corporativo […] O meio ambiente é um problema de escala global”, disse.
Questionado sobre a inclusão de critérios ambientais na discussão da reforma tributária, prevista para os próximos meses, o ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ser importante conseguir pelo menos ao menos uma neutralidade.
“É um grande avanço se não tiver subsídios para setores que afetem quer seja emissões, com impacto climático, como também a biodiversidade. A gente tem grandes vantagens no país de capacidade de ter uma economia limpa. Se não fosse pelo desmatamento, nossa pegada de carbono seria muito baixa. Temos de continuar trabalhando nisso. Nesse momento, para aumentar o investimento, ter clareza nessa direção é importante. E haver confiança do investidor local e estrangeiro que esse é o tipo de economia que a gente quer”, acrescentou.
Ilan Goldfajn, também ex-presidente do BC, disse não ter como haver um crescimento sustentado da economia no curto prazo sem considerar questões ambientais.
“Por outro lado, tem o aspecto do investimento responsável, o famoso ‘ESG’, que é preocupação de governança, preocupação em termos de meio ambiente, estabilidade. Nós tivemos recentemente vários investidores do norte da Europa condicionando seu investimento ao dinheiro ser utilizado de forma responsável e sustentável”, disse.
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