Em balanço dos 100 dias de governo, Biden diz que 'herdou nação em crise', comemora vacinas e pede investimento trilionário a famílias thumbnail
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Em balanço dos 100 dias de governo, Biden diz que 'herdou nação em crise', comemora vacinas e pede investimento trilionário a famílias

Além disso, Biden alertou China e Rússia sobre hostilidades — ao mesmo tempo em que se disse pronto a cooperar com os países rivais —, atacou a violência racial nos EUA e pediu leis mais rígidas para combater ‘epidemia de violência armada’. Veja na íntegra o discurso do presidente dos EUA, Joe Biden, no Congresso
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que “herdou uma nação em crise” ao assumir o mandato, celebrou a vacinação em massa contra o coronavírus e pediu plano trilionário para proteção social e para reaquecer o mercado de trabalho — além de outros temas dos 100 primeiros dias do novo governo, apresentados em discurso ao Congresso nesta quarta-feira (28). Veja na íntegra o VÍDEO acima.
Ao abrir o pronunciamento, o primeiro do tipo desde a posse, Biden disse que “herdou” as seguintes crises:
a pandemia do coronavírus, a pior em um século.
a pior crise econômica desde a Grande Depressão (1929).
o pior ataque à democracia desde a Guerra Civil, no Século XIX — Biden se referia à invasão ao Capitólio por apoiadores de Donald Trump, em 6 de janeiro.
“Posso dizer à nação: os Estados Unidos estão progredindo de novo. Transformando riscos em possibilidades. Crises em oportunidades. Dificuldades em força”, disse Biden.
O presidente dos EUA, Joe Biden, diante de Kamala Harris e Nancy Pelosi no 1º discurso ao Congresso americano.
Chip Somodevillaat/Pool via REUTERS
Como em um discurso tradicional de Estado da União (saiba a diferença no fim da reportagem), Biden fez um balanço dos 100 primeiros dias de governo, marca que será atingida nesta quinta. Veja abaixo um resumo:
Biden reforçou o pedido para que todos se vacinem já
Prometeu investimento em ciência
Detalhou um plano de geração de empregos, inserido na ‘economia verde
Propôs investimento trilionário às famílias de baixa e média renda
Pediu que as pessoas e empresas priorizassem produtos feitos nos EUA
Acenou a sindicatos e prometeu expandir acesso ao serviço de saúde
Prometeu não aumentar impostos de pessoas com renda inferior a US$ 400 mil anuais
Cobrou a China quanto ao compromisso no combate às mudanças climáticas
Disse que os EUA vão manter a presença militar na região Indo-Pacífica
Advertiu a Rússia de que ‘ações têm consequências’, mas disse estar aberto à cooperação
Comemorou o início da retirada dos militares americanos no Afeganistão
Alertou sobre o risco do ‘terrorismo supremacista’ de dentro dos EUA
Citou o caso George Floyd e pediu que polícias ‘reconstruam relação de confiança’ com o povo
Disse que é preciso acabar com o ‘racismo sistêmico’ no sistema criminal
Propôs leis para garantir igualdade com população LGBTQ e para coibir violência contra mulher
Pediu esforço bipartidário para acabar com ‘epidemia de violência armada’
Reforçou necessidade de cooperação com países da América Central para coibir caravanas de imigrantes e propôs reforma no sistema migratório
Veja abaixo os detalhes sobre o discurso de Biden
Biden em discurso ao Congresso dos EUA, nesta quarta-feira (28).
REUTERS/Jonathan Ernst
Pandemia, vacinação e ciência
Vacinação em massa
Logo ao abrir a prestação de contas, o presidente celebrou o rápido ritmo da vacinação, aberta a todos os maiores de 18 nos EUA — segundo o governo, 90% dos americanos têm um posto de vacina a até cerca de 8 km de casa.
“Todos acima dos 16 anos, todos, podem se vacinar. Então vá tomar a vacina já”, pediu Biden.
Inicialmente, a ideia do governo Biden era aplicar 100 milhões de doses até este marco de 100 dias de governo. Com a aceleração das aplicações — a maior parte das vacinas tinha sido comprada na gestão Trump — esse objetivo foi atingido cedo o bastante para que a Casa Branca dobrasse a meta: 200 milhões de doses injetadas, marco também já alcançado.
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Investimento em ciência
Também citando as vacinas, Biden disse que tem se comprometido com o investimento governamental em ciência e acenou para os novos objetivos no espaço, como as idas à Lua e a Marte — algo que Trump vinha falando em seus discursos.
“Conquistas científicas nos levaram à Lua e, agora, a Marte. Descobriram vacinas, nos deram a internet e muito mais. Esses são investimentos que fizemos juntos, como um país, e que só o governo pode fazer”, afirmou.
Empregos, economia verde e impostos
Plano de empregos
Biden também falou sobre o plano de geração de empregos — o maior desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com o governo — como recuperação da forte crise econômica gerada pelo coronavírus.
Segundo o presidente, esses novos postos “pagarão bem”, estão em consonância com o combate às mudanças climáticas e fazem parte de um plano maior: “Compre [produtos] americanos”.
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“Por muito tempo, fracassamos em usar a palavra mais importante quando se trata de combater as crise climática: empregos, empregos. Quando penso em mudanças climáticas, eu penso em empregos”, afirmou.
A fala direcionada à geração de empregos remonta a um tema da campanha eleitoral: Trump, que apresentava bons números do mercado de trabalho antes da pandemia, dizia que os projetos de Biden para o meio-ambiente pioraria o desemprego.
Plano trilionário para famílias
Esse estímulo à geração de empregos entra, segundo Biden, paralelamente a um projeto anunciado nesta quarta para aprovar um plano trilionário de investimentos para garantir creche, acesso à saúde e licença paternidade e maternidade, entre outros.
“Ninguém deveria escolher entre um ter emprego e contracheque ou ter cuidado para si ou para os pais, cônjuge ou filhos”, argumentou.
Dentro desse plano, o governo dos EUA pretende que famílias de classe média ou baixa não precisem pagar mais do que 7% de suas rendas para educação de crianças até 5 anos. “As mais carentes não precisarão gastar um centavo”, disse.
Competição com a China
Além disso, em um aceno ao eleitorado mais crítico à China como o trumpista, Biden admitiu que os EUA estão em uma “competição” com o país asiático para “vencer o Século XXI”. “Dinheiro de impostos dos americanos serão usados para comprar produtos americanos feitos nos EUA e que criam empregos nos EUA”, prometeu Biden.
“Não há razão para que pás de geradores eólicos não possam ser comprados em Pittsburgh em vez de Pequim.”
(Leia mais abaixo outras declarações de Biden sobre a China)
Biden, ao chegar para discurso nesta quarta
Reprodução
Sindicatos e acesso à saúde
Do outro lado, já em um aceno à parte mais à esquerda do Partido Democrata, o presidente elogiou os sindicatos, anunciou uma proposta de salário mínimo de US$ 15 por hora (equivalente hoje a R$ 80) E disse:
“Wall Street não construiu este país. A classe média construiu este país. E sindicatos construíram a classe média”.
Na mesma linha, Biden prometeu baixar os preços dos medicamentos por meio do Medicare — o programa de saúde nacional dos EUA — e expandir o acesso à saúde.
“Acesso à saúde deve ser um direito, não um privilégio nos EUA”, afirmou Biden.
Impostos
Esse tema também é sensível nos EUA porque a ala mais à direita do Partido Democrata e do Partido Republicano temem um aumento de impostos para que o governo consiga arcar com esses estímulos. O presidente, no entanto, prometeu que isso não será feito aos mais pobres — Biden disse que não aumentará a tributação aos americanos com renda inferior a US$ 400 mil por ano.
“É hora de os EUA das corporações e de o 1% mais rico pagarem suas quantias justas. Só as quantias justas”, disse Biden, citando evasão fiscal a paraísos como Suíça, Bermudas e Ilhas Cayman.
“É hora de fazer a economia crescer de baixo para cima.”
Joe Biden, presidente dos EUA, cumprimenta a vice Kamala Harris durante discurso no Congresso nesta quarta (28)
Caroline Brehman/Pool via Reuters
Crise climática, China e ações militares
‘Compromisso global’ e cobrança à China
Ao retomar o tema das mudanças climáticas, Biden afirmou que a luta contra os problemas decorrentes dessas transformações são “globais” e pediu ajuda de outros países: inclusive os rivais China e Rússia. Governos de diversos países participaram de uma Cúpula de Líderes sobre o Clima a convite do presidente americano na semana passada.
“O consenso é que, se agirmos, poderemos salvar o planeta — e criar milhões de empregos, crescimento econômico e oportunidades para melhorar o padrão de vida de todos no mundo”, disse Biden, novamente prometendo “beneficiar a classe média”. E, em seguida, ele voltou a cobrar a China.
“Isso quer dizer que vamos assegurar que todos os países joguem as mesmas regras na economia global, incluindo a China. Em minha discussão com o presidente Xi [Jinping], eu disse a ele que estamos abertos à competição e que não procuramos conflito”, afirmou.
“Mas eu deixei claro que vou defender interesses americanos”, acrescentou Biden.
Ao abordar a China, inclusive, Biden advertiu que vai manter a presença militar na região do Indo-Pacífico — onde há disputas territoriais entre chineses e países apoiados pelos EUA. O americano disse que não pretende iniciar um conflito, “mas prevenir um”.
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Rússia, Irã e Coreia do Norte
Biden também subiu o tom sobre outro rival histórico dos EUA: a Rússia. Ele afirmou ter dito ao presidente Vladimir Putin que a Casa Branca “não procura piora da crise, mas que ações têm consequências”, mencionando também os supostos ciber-ataques e tentativas de interferência nas eleições — que levaram à aplicação de sanções.
“Mas podemos cooperar quando for de nossos interesses mútuos”, ponderou, fazendo um aceno sobre clima e acordos nucleares.
“Sobre os programas nucleares de Irã e Coreia do Norte, que hoje se mostram como uma séria ameaça à segurança dos EUA e do mundo: trabalharemos com nossos aliados sobre essas ameaças com diplomacia”, completou.
Oriente Médio
Biden falou sobre a retirada dos soldados que estão no Afeganistão — medida que já havia sido anunciada por Trump, mas iniciada já no no novo governo americano. “Depois de 20 anos de sacrifício, é hora de trazer os militares de volta para casa”, afirmou.
“Mas não se enganem: a ameaça terrorista evoluiu além do Afeganistão de 2001 para cá e continuaremos vigilantes contra ameaças aos EUA, de onde quer que venham”, ponderou Biden, citando grupos terroristas como Estado Islâmico e Al Qaeda.
Congresso dos EUA assiste ao presidente Joe Biden cumprimentar a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, nesta quarta (28)
Melina Mara/Pool via Reuters
George Floyd, igualdade, armas e imigração
Supremacismo, George Floyd e violência policial
Logo depois de falar das ameaças terroristas externas, Biden alertou: “A mais letal ameaça terrorista que temos hoje no nosso país vem do terror supremacista”, disse. Em seguida, ele abordou a morte de George Floyd, dias depois da condenação do ex-policial Derek Chauvin. O presidente disse que o país deve “curar a alma da nação”.
“Todos nós vimos o joelho da injustiça no pescoço da América Negra”, disse Biden.
Em outro aceno ao eleitorado mais conservador, Biden disse que “a maioria dos homens e mulheres [policiais] portam seus distintivos e servem às suas comunidades com honra”. “Precisamos reconstruir a confiança entre forças de segurança e o povo ao qual servem. Acabar com o racismo sistêmico na nossa justiça criminal”, pediu.
População LGBTQ e violência contra a mulher
Biden também propôs uma lei para garantir igualdades de direitos à população LGBTQ nos EUA e fez menção a transexuais do país. “A todas as pessoas trans assistindo a mim em casa, especialmente os jovens tão corajosos: quero que saibam que o presidente de vocês apoia vocês”, disse.
Em seguida, Biden pediu para recolocar uma lei que endureça as regras contra quem praticar assassinatos contra mulheres. “Estima-se que mais de 50 mulheres são baleadas e mortas por um parceiro íntimo mensalmente nos EUA”, afirmou, solicitando ao Congresso que aprove o pacote legislativo para “salvar vidas”.
Acesso às armas
Outro ponto bastante discutido nos EUA abordado pelo presidente foi o acesso às armas. Biden relembrou recentes tiroteios e atentados em massa e pediu uma legislação mais dura para evitar crimes do tipo — “Sei que é difícil avançar nesse tema”, admitiu.
“Vou fazer tudo o que estiver a meu alcance para proteger o povo americano desta epidemia de violência com armas de fogo”, prometeu Biden.
Imigração
Perto de encerrar o pronunciamento, Biden reconheceu que há uma crise na fronteira com o México e que a segurança precisa ser aumentada. Assim, o presidente disse que o governo está “indo na raiz do problema” — ou seja, nas crises dos países da América Central, de onde vem a maior parte dos imigrantes que chegam irregularmente nos EUA.
“A violência, a corrupção, as gangues, a instabilidade política, a fome, os furacões, os terremotos”, enumerou Biden sobre os motivos de as pessoas deixarem seus países de origem.
Nesta semana, a vice Kamala Harris anunciou um pacote de ajuda milionária com Guatemala, Honduras e El Salvador, de onde sai a maior parte das caravanas — conversas entre EUA e América Central se intensificaram antes mesmo de Biden tomar posse, após cenas da fronteira lotada de pessoas que tentavam cruzar os postos.
Além disso, Biden disse que o país deve aprovar uma forma que facilite o acesso à cidadania americana aos imigrantes que “colocam comida nas nossas mesas”.
“Imigrantes fizeram muito pelos EUA na pandemia, assim como fizeram ao longo da história”, completou Biden.
Joe Biden, presidente dos EUA, discursa nesta quarta (28) em sessão conjunta no Congresso
Melina Mara/The Washington Post via AP, Pool
Ataque ao Capitólio
No fim, Biden fez uma reflexão sobre a democracia nos EUA: “A luta está longe do fim. A questão se nossa democracia vai resistir longamente é tanto antiga quanto urgente”, disse.
Nisso, o presidente disse que o mundo assistiu às imagens da violência no Capitólio em 6 de janeiro, quando uma multidão de apoiadores de Donald Trump invadiu a sede do Congresso para tentar interromper a sessão que proclamaria Biden como o presidente eleito.
“Adversários dos EUA, autocratas pelo mundo, […] acreditam que nós estamos cheios de raiva, divisão e fúria. Olham para as imagens da multidão que invadiu o Capitólio como uma prova de que o sol está se pondo em nossa democracia.”
“Estão errados. E temos que provar que estão errados, que nossa democracia ainda funciona e que nosso governo ainda funciona”, completou.
Duas mulheres no comando do Congresso
Kamala Harris e Nancy Pelosi, respectivamente vice-presidente dos EUA e presidente da Câmara, se cumprimentam antes de discurso de Joe Biden no Congresso nesta quarta (28)
Jim Watson/Pool via Reuters
O pronunciamento marca também a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos falará diante de duas mulheres em uma sessão conjunta: a vice, Kamala Harris, e a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, estarão imediatamente atrás do democrata, nas cadeiras dos chefes das duas casas. Ao abrir o discurso, Biden aplaudiu as duas.
Pelosi já presidia as sessões conjuntas desde 2019, quando assumiu a presidência da Câmara após o Partido Democrata conquistar a maioria dos assentos. O representante do Senado, até 20 de janeiro, era o vice-presidente Mike Pence — nos EUA, o vice-presidente é o chefe do Senado.
Não é Estado da União
Embora tenha semelhanças, o discurso de estreia de Biden ao Congresso em sessão conjunta desta noite não é um pronunciamento sobre o Estado da União. Geralmente, esse tipo de evento ocorre logo no começo do ano e traz um balanço do governo nos 12 meses anteriores. No ano passado, ano eleitoral, Trump celebrou as altas nos empregos momentos antes de a pandemia se agravar no país.
Por causa da pandemia, o discurso desta quarta foi feito com um número reduzido de pessoas no Congresso. Nesta semana, com o avanço da vacinação, os EUA revisaram as diretrizes sobre o uso de máscara, com flexibilizações para quem completou a vacinação.
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