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Meio Ambiente

Em 2020, ações para urgência climática podem vir dos jovens e das empresas

“Já fui cenário.” Era irresistível tirar a foto daquela cerquinha de madeira que ladeia o Rio dos Passarinhos nos moderníssimos Estúdios Globo em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro. A reciclagem de mais de 25% dos resíduos utilizados (neste caso, a madeira tinha sido usada para vários cenários e fora reaproveitada) é apenas uma das iniciativas que levaram a empresa a ganhar a certificação Carbono Zero da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Tem outras iniciativas que ajudaram a obter a certificação, como a redução de consumo de água; coleta seletiva; tratamento de todos os efluentes gerados; um imenso telhado verde e 100% da energia vinda de fontes renováveis. Os Estúdios Globo têm também a maior usina de energia solar rooftop do estado do Rio de Janeiro. E 19 milhões de copinhos vão deixar de ser utilizados porque cada funcionário ganhará uma canequinha com a sugestiva inscrição: “Menos é mais”.
Cerca nos Estúdios Globo, no Rio
Amélia Gonzalez/G1
A certificação foi para as cinco praças onde estão as emissoras da Globo. Fui convidada para fazer uma visita ao estúdio, no início do mês de dezembro, e reconhecer cada um desses pilares. Saí de lá com uma sensação de que este tem que ser o futuro. E por isto estou aqui, abrindo o texto de fim de ano, quando sou instigada a pensar sobre o futuro da urgência climática no Brasil e no mundo, com o exemplo da Globo. As empresas, não importa de que ramo sejam, precisam descobrir meios para estar no mundo de maneira a mitigar seus impactos. Não há outro caminho para enfrentarmos o que já é o maior desafio da humanidade.
“Apesar das incertezas quanto ao futuro das regulamentações e pressões de mercado, o contexto atual já é suficiente para que as empresas obtenham benefícios presentes por gerenciarem seus impactos sobre o clima”, dizem empresários no site do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds).
A questão é: as empresas vão conseguir perceber a urgência desta convocação e vão protagonizar, de fato, um futuro diferente do “business as usual”? Se é para ser otimista, digamos que sim. Afinal, já está mais do que provado que este é um esquema onde todos ganham. E, já que estamos aqui praticando futurologia com relação ao que se espera do mundo em termos de mudanças de paradigma em prol de melhor qualidade de vida para todos, prefiro pensar que a ficha vai cair. Para todas.
Neste último mês do ano aconteceu, em Madri, a 25ª conferência convocada pela ONU para o debate sobre o clima. O resultado final da reunião foi frustrante, já que os representantes máximos dos países não conseguiram tecer acordos em prol de uma economia de baixo carbono, que se converteria em melhor qualidade de vida mesmo diante do caos climático que já se apresenta.
Assim mesmo, no entanto, houve espaço para que as empresas se posicionassem. Foi criada na COP uma campanha, chamada “Ambição de negócios a 1,5°C – Nosso único futuro”, na qual 177 empresas do mundo todo se comprometeram a estabelecer metas (esta é a forma empresarial de se expressar) de redução de emissões altamente ambiciosas. As metas se alinham com a limitação do aumento da temperatura global em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e de emissão zero de carbono depois de 2050.
As 177 empresas representam coletivamente mais de 5,8 milhões de funcionários, abrangendo 36 setores e com sede em 36 países. E têm uma capitalização de mercado combinada de mais de US$ 2,8 trilhões, representando emissões diretas anuais equivalentes às emissões totais anuais de CO2 da França. Logo… nada desprezível este grupo.
A ele se juntaram também as empresas que assinaram, em outubro deste ano, o Pacto da Moda e os proprietários de ativos do Net Zero Asset Owner, que assinaram, em setembro, na Assembleia Geral da ONU, o compromisso de trabalhar pelo desenvolvimento sustentável.
A questão é que (sim, tem sempre uma questão) as empresas deixam claro que querem assumir o compromisso mas querem, também, o comprometimento dos governos. Isto é assim hoje, será assim no ano que vem e vem sendo assim desde há muito tempo.
Aqui no Brasil, o Instituto Ethos, que desde 1998 vem se posicionando no sentido de ajudar empresas a gerirem seus negócios de forma sustentável, lançou uma nota em seu site, onde conclui que a COP25 deixou uma mensagem direta para o mundo corporativo:
“Há uma clara decisão de tolerância zero com as empresas e os produtos que têm impactos negativos no meio ambiente, que continuam trabalhando sem controlar sua cadeia produtiva, sem ter uma capacidade de rastreabilidade de seus produtos, para garantir que não venham de origem de desmatamento, em condições de trabalho análogo ao trabalho de escravos ou infantil.
Portanto, para nós, a grande lição dessa COP é de que o protagonismo das empresas passa a ser, de fato, uma necessidade para todo o país e para todos os setores”, diz Caio Magri, presidente do Ethos.
Concluo então, mesmo correndo o risco de ser uma conclusão apressada, que o ano que vem terá dois protagonistas nas questões climáticas. As empresas que, efetivamente, entenderam e conseguem direcionar sua gestão e convencer seus acionistas estarão à frente. E os jovens. Estes últimos merecem uma reflexão ainda maior. A turma está fazendo barulho, chamando atenção.
Tanto assim que vai acontecer em março de 2020 a conferência “The economy of Francesco”, em Assis, na Itália, quando o papa Francisco vai convocar, sobretudo os jovens, para liderarem um compromisso com o futuro. A lista dos convidados para as palestras inclui desde a filósofa indiana Vandana Shiva até o Prêmio Nobel Amartya Sen, passando por Carlo Petrini, do movimento Slow Food Internacional , o que nos possibilita concluir que a ideia, neste encontro, será debater mais do que emissões de carbono. O mote está em imaginar um novo mundo, com novos paradigmas. O Papa Francisco, na carta de convocação editada no site do evento, resume desta forma:
“Escrevo para convidá-lo para uma iniciativa que sempre desejei: um evento que me permita conhecer aqueles que hoje estão se formando e estão começando a estudar e praticar uma economia diferente, a que dá vida e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da criação e não a priva. Um evento que nos ajuda a ficar juntos e nos conhecer, e nos leva a fazer um pacto para mudar a economia atual e dar alma à economia de amanhã” .
Não preciso dizer mais nada. A não ser que estes são meus votos, fortemente, para todos nós! E que a noite de vocês, na virada do ano, seja cheia de boas energias e saúde.

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