Ativistas do Greenpeace, vestidos de árvores, protestam contra o desmatamento da Amazônia no Brasil
Arquivo/John Robinson/Greenpeace/AP
O relatório Forest 500, divulgado esta semana pela organização Global Canopy, especializada em fornecer dados e orientações para empresas, investidores e governos que já estão adotando ações positivas em relação ao meio ambiente, mostra que marcas mundialmente famosas estão ignorando, solenes, todos os avisos de desmatamento.
Agindo assim, companhias como a Tyson Foods, maior empresa norte-americana de alimentos, o Grupo Lactalis da França, a Ashley Furniture, maior fabricante de móveis do mundo, apenas para citar algumas, mostram que o balé da sustentabilidade dança sem parceiros de peso. Apesar de todas as queixas da sociedade civil e avisos de cientistas.
“Várias áreas de floresta tropical estão sendo desmatadas a cada ano para dar lugar a seis commodities comercializadas globalmente – óleo de palma, soja, carne bovina, couro, madeira, celulose e papel – usadas em milhões de produtos do dia a dia. No entanto, das principais empresas que comercializam essas mercadorias e das instituições financeiras que as financiam, quase a metade (242 de 500) não se comprometeu publicamente a acabar com o desmatamento”, diz o relatório.
Sarah Rogerson, autora do estudo, alerta para um fato crucial: essas grandes empresas deixam de reconhecer publicamente sua responsabilidade de agir. Fazendo isto, vão na contramão do combate às mudanças climáticas.
“Em média, uma área de floresta tropical maior que o tamanho da Holanda foi perdida todos os anos entre 2014 e 2018, uma vez que as florestas são desmatadas para a agricultura, emitindo mais gases de efeito estufa do que toda a União Europeia. O problema ganhou as manchetes globais em 2019, quando a floresta amazônica foi devastada por incêndios, atribuídos em grande parte às ações de madeireiros e agricultores”, diz ainda o relatório.
Em números, o estudo analisou as 350 empresas que produzem, comercializam, usam ou vendem as maiores quantidades das seis principais mercadorias e as 150 maiores instituições que as financiam por meio de títulos, empréstimos e participações. As informações revelam que 140 empresas (40%) e 102 instituições financeiras (68%) não assumiram compromissos públicos para evitar o desmatamento em suas cadeias de suprimentos ou nas empresas que financiam. Apenas 86 empresas (25%) e 28 instituições financeiras (19%) têm compromissos de desmatamento relacionados a todas as mercadorias que produzem, compram ou financiam.
Mas, pensando de forma otimista, que bom que há empresas e instituições preocupadas e comprometidas. O que acontece é que, segundo os analistas, ainda entre elas, houve retrocessos, falta de transparência na comunicação de seus projetos e, pior dos piores, a lavagem verde. Diz o relatório:
“Em 2018, 157 empresas se comprometeram a acabar com o desmatamento até 2020. Quatro já abandonaram completamente o compromisso, enquanto 18 caíram no prazo. Ao todo, 81 empresas removeram ou enfraqueceram os compromissos ou reduziram os relatórios. Cem empresas que haviam se comprometido a não desmatar não informam sobre a implementação; portanto, os clientes não têm como saber se estão cumprindo suas promessas e realizando ações reais”.
Há um apêndice com o nome das empresas denunciadas no relatório.
Trabalho com o tema da sustentabilidade há uma década e meia. Neste período, não foram poucos os relatórios e estudos que denunciam o desinteresse corporativo crescente com relação aos cuidados com o ambiente no entorno. Não foi assim sempre. Houve, de fato, mais fortemente sentido a partir da Rio-92 (grande Conferência Mundial do Meio Ambiente), uma disposição entre as grandes empresas no sentido de uma tomada de consciência.
Fazia todo sentido lembrar que os bens naturais não são infinitos, portanto haverá necessidade de preservá-los até para o bem do próprio negócio. E que, ao mesmo tempo, se o fosso entre os ricos e os pobres aumentar a tal ponto de os pobres não conseguirem comprar produtos, daqui um tempo não haverá para quem vende-los. É dramático, mas real.
Assim sendo, elevo a potência mil a minha capacidade de ser otimista e foco nas 86 empresas e 28 instituições financeiras que o estudo revela comprometidas com o tema. Está na hora de reforçarmos instituições como o Cebds (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social , aqui no Brasil, além de tantos outros, no sentido de trazer de volta uma chama de bons debates junto ao grande público. Vivi este momento de extrema riqueza entre 2003 e 2012, como editora de um caderno, o “Razão Social”, que circulava dentro de um grande jornal, “O Globo”, atualizando e renovando tais iniciativas.
Depende de nós, cidadãos que consumimos. E de nós, cidadãos que fazemos a notícia acontecer, validar cada vez mais os bons e verdadeiros projetos que encaram de frente, com responsabilidade, o papel de quem produz num mundo que não é infinito. Pensar o aqui, o agora, como o tempo possível, faz parte dos ensinamentos que fui aprendendo neste caminho da sustentabilidade.
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