Empresários tentam adotar procedimentos para evitar a contaminação e garantir a segurança do cliente. Donos de bares e restaurantes buscam soluções para quando puderem reabrir com segurança
A crise do novo coronavírus levou embora o agito do happy hour, no bairro da Vila Madalena, reduto boêmio da capital paulista. Se não houver ajuda, a Associação dos Bares e Restaurantes prevê que até 40% das casas da cidade e arredores não devem sobreviver à pandemia. Mas os empresários do setor não estão parados, e já correm atrás de soluções para quando for possível reabrir com segurança.
“A magia do bar é que não tem nunca ninguém triste, está todo mundo sorrindo, todo mundo feliz. Eu acho que essa magia a gente não pode perder. A essência do bar é essa e empresários como eu, a gente está aqui para manter isso vivo por muito tempo”, fala o empresário Humberto Munhoz.
Para empresários como Humberto, dói na alma ver o bar completamente vazio. “Esse bar, num sábado, girava mais de mil pessoas num sábado. Um mês aqui dava mais de 15 mil pessoas. A gente está dois meses sem zero, zero clientes”, conta Humberto.
Ele suspendeu o contrato de trabalho dos 46 funcionários e renegociou o aluguel em 50%. Mas o IPTU continua sendo cobrado – a Prefeitura de São Paulo afirma que a suspensão do pagamento criaria dificuldades para o combate à Covid-19. Humberto está vivendo das reservas que guardou.
Uma pesquisa da Abrasel-SP ouviu donos de quase 400 bares e restaurantes – 60% afirmaram que, até agora, o auxílio do Governo Federal não foi suficiente. A associação lançou uma cartilha para ajudar na renegociação de aluguéis durante a crise.
“A situação em São Paulo, como em todo o país, está muito difícil e dramática. Os pequenos empresários têm uma reserva mínima, e essa reserva já acabou”, fala o presidente da Abrasel-SP, Percival Maricato.
A Secretaria de Turismo de São Paulo, que cuida da área, afirma que elaborou junto com o setor protocolos para quando for possível fazer a reabertura.
“A saída não pode ser irresponsável, porque ela nos joga de volta para perder esse esforço que foi feito até agora”, diz o secretário de Turismo/SP, Vinicius Lummertz.
Quem vai para um bar ou restaurante quer ver gente, conversar, interagir. Por isso, o delivery não compensa a queda de vendas do setor. Pensando nisso, bares estão elaborando uma espécie de protocolo de reabertura, para oferecer essa experiência sem risco de contaminação
No salão, as mesas já estão com mais de um metro de distância entre elas. Para o empresário, o distanciamento obrigatório das mesas reduzirá em até 70% a receita por metro quadrado.
Para o dono de uma pizzaria, o maior desafio para o consumidor voltar a entrar no comércio será o medo, a falta de confiança. Por isso ele criou um selo para ficar na entrada, que indica que a casa segue procedimentos para evitar a contaminação. Detalhe: a ideia é que grandes indústrias de alimentação e bebida paguem essa auditoria para o pequeno empresário.
São mais de 30 protocolos, elaborados com uma empresa de segurança alimentar. Eles incluem desde máscaras, distanciamento, higienização até cardápio digital e reserva antecipada para evitar filas.
“A ideia é que ele [cliente] venha para que realmente tenha aquela experiência que tinha anteriormente, com local seguro”, explica o empresário Gabriel Pinheiro.
Gabriel implantou o delivery logo no início da crise. Para se diferenciar, criou entrega, com vários sabores na mesma caixa. Mesmo assim, a pizzaria só conseguiu recuperar 20% do faturamento.
“Se fosse só para comer, o delivery sempre teria existido, muito mais do que o salão. O restaurante, ele é um ambiente de confraternização, um ambiente de trocas, em que as pessoas se conhecem, se divertem”, diz Gabriel.
“O ser humano é um ser social. Ele quer relacionamento com outros seres humanos. E isso é possível no bar. Namorar, jogar conversa fora, escalar a seleção brasileira, dar risada. Não é a mesma coisa na internet”, completa Percival.
Abrasel SP – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo
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