O estudo feito por uma brasileira explica como a combinação de aumento das temperaturas e redução das chuvas, deixa áreas não desmatadas mais inflamáveis. Queimadas mudaram condição da floresta em absorver carbono
Reprodução/Rede Amazônia Acre
O desmatamento e as mudanças climáticas estão alterando a capacidade da floresta amazônica de absorver carbono, segundo uma pesquisa brasileira publicada na revista científica “Nature” nesta quarta-feira (14).
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A pesquisa coletou durante oito anos, de 2010 a 2018, amostras de quatro áreas diferentes da floresta e explica como o processo ocorre pelas mudanças climáticas e é intensificado pela característica da alteração da estação seca.
Como acontece?
As queimadas deixam a floresta, que tem característica úmida, mais seca. A pesquisa aponta que nos meses de agosto, setembro e outubro a temperatura subiu 2°C e a chuva teve queda de 35% no volume.
Esse ‘estresse’ reduz a fotossíntese, fazendo com que ela mais ‘respire’ para se recuperar emitindo mais CO2. O outro risco, é que mais secas, elas são também mais inflamáveis, precisando de menos intervenção para incendiar.
“Estamos emitindo mais CO2 para a atmosfera, o que não está só acelerando as mudanças climáticas, mas também está promovendo mudanças nas condições da estação seca e estresse para as árvores que produzirão ainda mais emissões”, diz a pesquisadora Luciana Gatti, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Qual o impacto da maior emissão que absorção?
De 2010 a 2018, a Amazônia brasileira foi responsável por lançar 1.06 bilhões de tonelada de CO2 para a atmosfera por ano em queimadas. O balanço de carbono, ou seja, o saldo final entre absorções e emissões foi de 0,87 bilhões de toneladas por ano, o que significa que apenas 18% das emissões por queimada estão sendo absorvidas pela floresta.
Com isso, Amazônia deixou de retirar da atmosfera 0,19 bilhões de toneladas de CO2 por ano.
“Descobrimos um efeito negativo adicional do desmatamento em floresta que as previsões climáticas ainda não tinham. Quando você tem um lugar muito desmatado, ele provoca impacto na chuva e na temperatura, principalmente na estação seca. Esse impacto leva a floresta a uma situação de stress, implicando em uma emissão de carbono adicional a que se conhecia. Ou seja, o desmatamento tem um efeito direto e um indireto nas emissões de gás de efeito estufa”, explica Gatti.
Pesquisa coletou amostras em mais de 600 vôos em oito anos de estudo
Divulgação/Luciana gatti
Áreas desmatadas queimam mais
A pesquisa aponta que as emissões de CO2 foram dez vezes maiores nas áreas da Amazônia nos estados do Pará e Mato Grosso, onde a taxa média de desmatamento é superior a 30%. Com isso, segundo Gatti, a área se tornou uma fonte significativa de carbono.
“Quando você desmata as árvores que antes transpiravam e jogavam vapor na atmosfera, isso reduz a chuva e ainda aumenta a temperatura. Porque o processo de transpiração é que resfria a superfície”, afirma Gatti.
Pontos principais
Nos oito anos do estudo, a Amazônia brasileira foi responsável por lançar 1.06 bilhão de tonelada de CO2 para a atmosfera por ano em queimadas.
Só 18% das emissões por queimada estão sendo absorvidas pela floresta; o saldo final entre absorções e emissões foi de 0,87 bilhão de tonelada por ano.
A emissão de carbono foi dez vezes maior em áreas com mais de 30% de desmatamento
Queimadas mostram desmatamento indireto, que é quando árvores morrem em consequência de queimadas em outras regiões
Segundo a pesquisa, foi registrada redução de 35% nas chuvas e alta de 2°C entre os meses de agosto, setembro e outubro. Com isso, mesmo em áreas não desmatadas, as árvores se tornam inflamáveis e, sem intervenção humana direta, morrem.
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