Prestes a alcançar ponto crítico, perda da camada de gelo da ilha ártica pode elevar nível do mar em mais de 7 metros. Ao mesmo tempo, derretimento intensifica cobiça internacional sobre Groenlândia. Foto de 15 de agosto de 2019 mostra um iceberg enquanto ele flutua ao longo da costa leste da Groenlândia perto de Kulusuk (também conhecido como Qulusuk).
Jonathan Nackstrand/AFP
Partes do manto de gelo da Groenlândia estão prestes a alcançar um ponto crítico a partir do qual será praticamente impossível deter seu derretimento. Devido às temperaturas ascendentes, já começou a desestabilização de áreas no centro-oeste da ilha, relatou o Instituto de Potsdam de Pesquisa Climática (PIK), com base em dados de pesquisadores alemães e noruegueses.
“Nossos resultados indicam que no futuro ocorrerá um derretimento significativamente maior, o que é muito preocupante”, explicou o pesquisador Niklas Boers, do instituto sediado na Alemanha.
O fato se deve a efeitos de retroalimentação, em que o aquecimento do manto glacial se acelera à medida que sua altura se reduz.
Para evitar um derretimento total, não bastaria conter o aquecimento do planeta: para que a camada de gelo retorne à altura de séculos passados, as temperaturas teriam, antes, que baixar até níveis muito inferiores ao pré-industrial.
“Ou seja: a perda de massa de gelo atual e a esperada no futuro próximo será basicamente irreversível. Por isso, é mais do que hora de reduzirmos, rápida e decididamente, as emissões de gases do efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis, e de voltar a estabilizar o manto glacial e o nosso clima”, apelou Boers.
Consequências globais
O PIK explica que, segundo os modelos desenvolvidos até agora, a fusão do manto glacial groenlandês se torna incontornável se a temperatura média global exceder entre 0,8ºC e 3,2ºC o nível pré-industrial.
A partir desse limite crítico, a camada de gelo poderá se fundir inteiramente ao longo de centenas ou milhares de anos, resultando numa elevação de mais de 7 metros do nível do mar global, assim como num colapso da circulação meridional de capotamento do Atlântico (AMOC), responsável pelo calor relativo na Europa e na América do Norte.
Os 21 milhões de quilômetros quadrados da Região Ártica se estendem do Polo Norte ao Círculo Polar, distribuídos por oito países: Rússia, Finlândia, Suécia, Noruega, Islândia, a Groenlândia (pertencente à Dinamarca) e o estado americano do Alasca. O manto glacial groenlandês é o segundo maior do mundo, depois do da Antártida, no Polo Sul, e outros estudos também enfatizam a ameaça a esse importante ecossistema.
Por exemplo, uma pesquisa publicada nesta segunda-feira (17/05) pela revista Geophysical Research Letters mostra que a capacidade do gelo de refletir a luz solar também representa um papel importante: se a superfície gelada absorve mais calor – seja devido a uma redução da precipitação de neve ou à alteração da forma dos cristais de gelo –, o processo de derretimento é acelerado.
Choque de interesses internacionais
O Ártico e a mudança climática foram igualmente temas de uma visita do secretário de Estado americano, Anthony Blinken, à Dinamarca, onde conversou nesta terça-feira com a primeira-ministra Mette Frederiksen e o chefe da diplomacia groenlandesa, Pele Broberg.
Assim como as ilhas Faroé, a Groenlândia é basicamente autônoma, apesar de oficialmente pertencer ao reino dinamarquês. O derretimento do gelo facilita o acesso a jazidas de matérias-primas que tanto países vizinhos quanto distantes, como a China, gostariam de explorar.
Blinken também participará de um encontro ministerial do Conselho Ártico, a se iniciar nesta quarta-feira em Reykjavik. Na semana corrente, a Rússia assume da Islândia a presidência rotativa bianual do conselho. Antecipando a reunião de ministros na capital islandesa, o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, advertiu o Ocidente contra ingerências no Ártico.
Ele evocou prerrogativas territoriais de seu país, frisando que seriam “legítimas” todas as ações militares realizadas por Moscou no Ártico. “Tem estado absolutamente claro para todos, por muito tempo, que é nosso território, essa é a nossa terra. Somos responsáveis por assegurar que nossa costa ártica esteja segura”, afirmou o chefe de diplomacia numa coletiva de imprensa na capital russa.
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