Em 21 estados mais o Distrito Federal, cresceu a circulação de pessoas entre 7 e 13 de abril, informa a In Loco. Um dos locais mais afetados pela pandemia de coronavírus, Amazonas teve aumento no isolamento. Pessoas aguardam em fila para receber ajuda emergencial do governo federal em meio ao surto de coronavírus, em Jacareí, São Paulo
Roosevelt Cassio/Reuters
O isolamento dos brasileiros diminuiu pela 2ª semana seguida contrariando as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a pandemia de coronavírus. Os dados são da empresa de tecnologia In Loco e utilizam como base informações de aplicativos.
Em 21 estados mais o Distrito Federal, a circulação de pessoas aumentou entre os dias 7 e 13 de abril, ao comparar com a semana anterior – de 31 de março a 6 de abril.
Coronavírus: por que a quarentena é importante?
O relatório usa informações enviadas por aplicativos parceiros para aferir deslocamentos dos usuários. A In Loco afirma que a coleta de dados só é feita com a permissão dos usuários dos apps. Além disso, a empresa diz não repassar informações como nome, RG ou CPF.
As medidas de isolamento social empregadas nas cidades e estados são uma das grandes discussões durante a pandemia de coronavírus no Brasil.
Essa era uma divergência entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defensor do isolamento.
Na quinta-feira (16), Mandetta foi demitido por Bolsonaro, e o médico Nelson Teich foi nomeado em seu lugar. O novo ministro disse, em seu primeiro pronunciamento, que “não haverá definição brusca” sobre o isolamento em um primeiro momento.
Como é feito o monitoramento?
Para verificar o deslocamento, a In Loco utiliza GPS, sinais de wi-fi, Bluetooth e telefonia. A empresa diz possuir informações de localização em tempo real de 60 milhões de smartphones no Brasil.
Foram consideradas 6 semanas, no período de 3 de março a 13 de abril. Nesse período, houve aumento do isolamento durante as 4 primeiras semanas, e queda nas 2 últimas como mostra a tabela abaixo:
Índice de isolamento nos estados nas últimas semanas
O pico do isolamento social registrado pela In Loco foi alcançado na semana de 24 a 30 de março, quando todos os estados, com exceção de Roraima e Tocantins tiveram pelo menos 50% dos smartphones monitorados sem movimentação considerável.
Pela 2ª semana consecutiva, o relatório mostra aumento de circulação de pessoas, porém, com uma redução menor dessa vez. Entre 31 de março e 6 de abril, as 27 unidades da federação apresentaram declínio nos índices de isolamento.
Na semana seguinte, de 7 a 13 de abril, os brasileiros circularam mais nos seguintes locais:
AC, AL, BA, CE, DF, ES, GO, MT, MS, MG, PB, PR, PE, PI, RJ, RN, RS, RO, SC, SP, SE e TO.
No mesmo período, os estados abaixo aumentaram o isolamento:
AP, AM, PA e RO.
Apenas o Maranhão manteve índice semelhante, com variação de 0,02 ponto percentual no aumento do isolamento.
Em colapso, Amazonas aumentou isolamento
Dos estados que tiveram incremento no isolamento populacional, o Amazonas foi o que obteve a principal diminuição na circulação de pessoas. O monitoramento mostra que houve aumento de 2,91 pontos percentuais – passou de 50,32% para 53,23%,
Considerado um dos locais mais críticos para a pandemia no Brasil, o Amazonas chegou a ter corpos de mortos por suspeita de Covid-19 ao lado de pacientes em hospital de sua capital Manaus.
No balanço mais recente de sexta (17), o estado teve 1.809 casos do novo coronavírus – e 124 pessoas já morreram.
São Paulo, que é o epicentro do vírus no Brasil, por outro lado, apresentou aumento da circulação de pessoas entre 7 e 13 de abril. Com o índice de isolamento de 51,23%, que é considerado baixo pelo governo do estado, a quarentena foi prorrogada em São Paulo até 10 de maio.
Houve queda de 1,33 ponto percentual em relação à semana anterior, e o esperado pela administração pública é chegar a 70% de isolamento para enfrentar a pandemia.
Até sexta (17), o total de 12.841 casos da doença foram confirmados em SP, e 928 pessoas morreram por causa da Covid-19.
E as capitais?
Na maioria das situações, as capitais registraram índices de isolamento piores do que na semana passada:
em 21, o isolamento foi mais baixo;
em 5, o isolamento foi mais alto;
em 1, o isolamento foi semelhante, com diferença de, no máximo, 0,5 ponto percentual.
Em Boa Vista, com uma variação negativa de 0,01 ponto percentual no isolamento, a capital foi a única que se manteve estável, com 45,06% de isolamento.
Manaus foi a que teve o principal aumento no isolamento, passando de 50,28% para 53,26%, o que representa 2,98 pontos percentuais a mais.
Em contrapartida, em Florianópolis as pessoas estão circulando mais do que na semana anterior. A capital de Santa Catarina foi a que teve a maior diminuição no isolamento, passando de 57,04% para 53,39% – diferença de 3,65 pontos percentuais.
A importância do isolamento
Ainda sem uma vacina ou cura por remédio comprovada, o coronavírus está sendo combatido ao redor do mundo com a prática do isolamento social ou quarentena.
Infectologistas afirmam que esse é o modo mais eficaz para conter a expansão descontrolada da pandemia e não sobrecarregar as UTIs, algo que está em andamento no Amazonas e no Ceará, por exemplo.
Nesta semana, a OMS divulgou uma lista de critérios que os países devem analisar antes de suspender o isolamento:
a transmissão da Covid-19 deve estar controlada;
o sistema de saúde deve ser capaz de detectar, testar, isolar e tratar todos os casos, além de traçar todos os contatos;
os riscos de surtos devem estar minimizados em condições especiais, como instalações de saúde e casas de repouso;
medidas preventivas devem ser adotadas em locais de trabalho, escolas e outros lugares aonde seja essencial as pessoas irem;
os riscos de importação devem ser administrados;
as comunidades devem estar completamente educadas, engajadas e empoderadas para se ajustarem à nova norma.
A entidade ressaltou, no entanto, que as medidas de isolamento não podem ser substituídas por ‘nada’ e que as máscaras não substituem a quarentena.
Outras formas de monitoramento
A In Loco também tem uma parceria com a prefeitura do Recife para monitorar o deslocamento na capital pernambucana. Além disso, os dados também são usados pelo médico infectologista Julio Croda, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Além do sistema baseado em aplicativos que a In Loco utiliza para monitorar a circulação de pessoas, alguns estados como São Paulo estão utilizando informações das operadoras de celulares para detectar se as pessoas estão saindo do isolamento social.
Ao G1, o Sinditelebrasil, que representa as principais operadoras de telefonia do país, informou que os dados que formam “mapas de calor” e são organizados de forma agregada e anônima. “Em nenhum momento serão coletados dados de celulares nem serão gerados dados individuais. Não se identificam pessoas, mas a quantidade de linhas por antena”, disse o sindicato, em nota.
O uso dessa ferramenta no âmbito federal foi adiado após intervenção do presidente Jair Bolsonaro, que pediu que sejam feitas análises para garantia da eficiência e da proteção da privacidade dos brasileiros.
O Google também possui uma plataforma de dados que mostra como está o nível de circulação das pessoas. Segundo o levantamento mais recente, publicado nesta sexta-feira (17), mas com dados do último sábado (11), a movimentação das pessoas também cresceu em 5 das 6 áreas de aferição. A única que teve redução na circulação foram os locais de trabalho.
Nesta semana, um sistema similar foi anunciado pela Apple. Ambas empresas afirmam que não há quebra de privacidade dos seus usuários e que não é possível identificar os indivíduos.
Em uma ação separada dessas plataformas já operantes, Apple e Google também estão trabalhando em um sistema conjunto para alertar o possível contato pessoal com alguém contaminado por Covid-19. É esperado que o sistema seja anônimo e a troca de dados via Bluetooth, afirmam as empresas.
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