Cerca de 2 mil mamíferos marinhos morrem encalhados todos os anos, mas algumas espécies são mais propensas a ficarem presas que outras e nem sempre as causas são naturais. Grupo de baleias é visto encalhado em uma praia em Macquarie Harbour, na costa oeste da Tasmânia, na Austrália, na última terça-feira (22)
Brodie Weeding/The Advocate via AFP
Sempre ocorreram encalhes em massa de baleias e golfinhos. Todos os anos, cerca de 2 mil mamíferos marinhos morrem assim no mundo. E nem sempre as causas são naturais. Quais baleias e golfinhos costumam encalhar? E onde?
Os encalhes em massa mais comuns envolvem baleias-pilotos e cachalotes, baleias-bicudas e golfinhos-rotadores. As baleias de barbatana, que incluem todas as baleias grandes, exceto o cachalote, raramente acabam encalhadas.
Se encalham, os mamíferos podem secar e passar por um processo de hipertermia, sufocar ou sofrer graves lesões internas devido ao seu enorme peso.
Encalhes individuais já foram observados em muitos lugares, enquanto a maioria dos encalhes em massa foi registrada na Austrália Ocidental, Nova Zelândia (com até 300 baleias encalhadas anualmente), na costa leste da América do Norte e na Patagônia chilena. Ocasionalmente, porém, também ocorrem encalhes em massa no Mar do Norte.
Como as baleias e os golfinhos se orientam?
Semelhante às aves migratórias, algumas espécies de baleias viajam grandes distâncias todos os anos. No inverno, as baleias migram em direção ao sul, dos mares frios do norte para águas mais quentes. E as baleias das águas do sul são atraídas para o norte. Meses depois, elas começam sua jornada para casa.
Já os pequenos odontocetos, uma subordem dos cetáceos (alguns são conhecidos popularmente como “baleias com dentes”), como os golfinhos e toninhas, possuem um sonar subaquático poderoso. Eles se orientam em suas jornadas enviando ondas sonoras em forma de cliques. Se essas colidem com um objeto, as ondas sonoras refletidas ecoam de volta aos ouvidos, que, no caso das baleias e golfinhos, são protegidos pelo crânio em câmaras cheias de espuma para permitir a audição espacial. Quanto mais rápido o som retornar, mais perto estará a presa, um obstáculo ou a costa.
No caso das grandes baleias de barbatanas – que têm “barbas” (grandes placas de queratina organizadas em filas) em vez de dentes em sua mandíbula superior e, portanto, filtram krill (um invertebrado semelhante ao camarão), plâncton animal e pequenos peixes da água – este sonar subaquático não é tão desenvolvido.
A ecolocalização ou biossonar funciona muito bem em princípio, mas a reflexão do som não funciona de maneira confiável em baías rasas ou semicirculares, aterros submarinos arenosos ou bancos de lodo. Como essas costas ou obstáculos não retornam um eco claro de nenhuma direção, o sistema de advertência acaba falhando.
Ao menos 380 baleias morrem encalhadas no sul da Austrália
Que influência tem o campo magnético da Terra?
Mamíferos como a baleia-piloto não apenas se orientam por meio de seu sonar subaquático, mas, assim como pássaros migratórios, também usam as linhas do campo magnético da Terra. Isso porque as migrações geralmente ocorrem paralelas às linhas magnéticas. Assim, as pequenas flutuações no campo magnético terrestre funcionam como uma espécie de mapa.
Cristais de magnetita foram encontrados nos crânios dos animais. As baleias podem ficar irritadas com distúrbios no campo magnético da Terra perto da costa. Campos magnéticos perpendiculares ao continente também foram associados ao encalhe em massa de baleias em certas regiões costeiras.
Também ocorrem grandes mudanças no campo magnético da Terra regularmente devido a tempestades solares e manchas solares. É justamente nesses momentos que cachalotes, por exemplo, se perdem e vão parar no Mar do Norte. Elas também usam o geomagnetismo como sistema natural de navegação.
Por que então baleias e golfinhos acabam encalhadas?
A principal causa de encalhes de baleias é, portanto, atribuída a um erro de navegação pelos animais, mas nem todas as causas foram investigadas de forma conclusiva.
Outra razão para encalhes em massa é certamente o comportamento social de muitas espécies de baleias que vivem em grupos, os chamados cardumes de baleias, que são guiados por um líder. No caso das cachalotes, um macho lidera o caminho do Oceano Ártico de volta às águas mais quentes. Já com as orcas, uma mãe ou avó costuma liderar o grupo.
Se o animal líder perde a orientação porque está confuso ou sofrendo com parasitas no seu ouvido, por exemplo, ele não é mais capaz de ouvir o eco dos cliques enviados. Assim, os cetáceos acabam seguindo o animal líder na direção errada. Se o líder ficar preso em águas rasas, o resto do grupo não vai hesitar em segui-lo, mesmo que isso signifique a ruína do cardume.
Às vezes, essa fidelidade vai tão longe, que baleias resgatadas depois de um encalhe em massa acabam voltando à praia para ficar com o restante do grupo, como já foi observado com orcas na costa sul-africana.
Imagem aérea capturada de um vídeo mostra várias baleias encalhadas ao longo da costa da cidade de Strahan, na Tasmania, nesta quarta-feira (23)
Australian Broadcast Corporation via AP
Além dos erros de navegação, o encalhe também pode ter razões bastante naturais: às vezes, golfinhos menores acabaram encalhados porque fugiram para águas mais rasas de orcas e outros predadores ou porque se aventuraram muito longe no raso quando caçavam cardumes de peixes.
Ocasionalmente, animais individuais que foram previamente feridos em colisões com navios, redes de pesca ou ataques de tubarões, ou que ficaram doentes por causa de infecções ou parasitas, acabam se dirigindo para a costa.
Quais são as influências humanas que agravam a situação?
Além dos fatores naturais, o ruído subaquático produzido pelo homem – por meio de navios, quebra-gelos, plataformas de petróleo ou dispositivos de sonar militares – pode ter um impacto enorme na orientação e comunicação dos mamíferos marinhos. Desorientados, eles fogem das fortes ondas sonoras. E como a densidade da água é muito maior do que a do ar, o som viaja cerca de cinco vezes mais rápido debaixo d’água do que no ar.
O uso de sonares militares têm efeitos particularmente drásticos. Por exemplo, baleias-bicudas acabaram morrendo nas costa do Chipre, das Ilhas Canárias e das Bahamas após manobras da Otan. Sonares que emitiam mais de 200 decibéis haviam desencadeado a formação de bolhas de gás nos vasos sanguíneos e órgãos dos mamíferos marinhos (como acontece na chamada doença de descompressão, que acomete mergulhadores).
Como ajudar baleias e golfinhos encalhados?
Quando uma baleia encalhada é encontrada numa praia, geralmente não há muito tempo para agir. As equipes de socorro podem tentar resfriar os animais encalhados, mantendo-os úmidos. Muita força é necessária para devolvê-los ao mar o mais rapidamente e suavemente possível.
Para mobilizar ajudantes o mais rápido possível, alguns países estabeleceram serviços de emergência, com linhas diretas. Para muitos animais exaustos, no entanto, mesmo essas medidas costumam chegar tarde demais.
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