Com a pandemia de coronavírus se espalhando, os Estados Unidos e grandes economias da Europa e da América Latina estão tomando medidas emergenciais para tentar salvar a economia. Mas até onde isso é possível? Se a pandemia persistir, o que os países poderiam fazer? Bovespa – Painel da bolsa de valores de São Paulo, B3, nesta quarta-feira (11).
Cris Faga/Estadão Conteúdo
A pandemia de coronavírus desencadeou uma crise econômica que cresce como uma avalanche.
Com a Europa se tornando o epicentro da pandemia e os Estados Unidos em uma emergência nacional, os governos estão colocando o pé no acelerador para tentar limitar o impacto econômico devastador da disseminação do coronavírus pelas famílias, trabalhadores e empresas.
À medida que mais países fecham suas fronteiras e declaram quarentena para impedir a disseminação do vírus, a atividade econômica afunda. Empresas dos setores mais afetados, como companhias aéreas, hotéis e restaurantes, alertam que podem quebrar. Muitos trabalhadores estão perdendo seus empregos e as bolsas ainda estão em queda livre.
Os governos estão aplicando restrições à livre circulação nas ruas — medidas que não não vistas desde a Segunda Guerra Mundial. E, embora o epicentro da crise da saúde esteja na Europa, os Estados Unidos já declararam estado de emergência. Na América Latina, os países com as pessoas mais infectadas estão seguindo o mesmo caminho.
Como não se sabe por quanto tempo a pandemia pode se espalhar, é difícil para as autoridades calcular quanto dinheiro podem injetar nas economias e que medidas emergenciais podem ser adotadas para mitigar os efeitos mais imediatos sobre a renda das pessoas.
O que acontecerá com os desempregados, trabalhadores autônomos, informais e pequenas empresas?
Como as famílias pagarão o aluguel e o supermercado?
E o que acontecerá às gigantes multinacionais que movimentam as cadeias produtivas internacionais e que agora começaram a paralisar suas fábricas?
Ajuda financeira
Os líderes europeus disseram que estão prontos para investir “o que for preciso” para salvar as economias de uma grande catástrofe.
“Acho que o crucial é que os governos não deixem empresas em insolvência falirem e demitirem trabalhadores”, disse Vicky Redwood, analista sênior da consultoria britânica Capital Economics.
“Os programas de garantia de empréstimos são um bom começo, mas os governos devem garantir que todas as empresas possam acessar ajuda financeira”, disse ele à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.
No entanto, a grande questão aponta para qual é o limite. Isto é, quanto os orçamentos fiscais resistem se a pandemia não diminuir nas próximas semanas e durar meses?
A resposta para essa pergunta ainda é um mistério.
Maurice Obstfeld, professor de economia da Universidade de Berkeley e pesquisador do Instituto Peterson de Economia Internacional, diz que, no caso dos Estados Unidos, que está planejando uma série de medidas de emergência com fundos fiscais, é necessário ter tenha cuidado na distribuição de ajuda financeira.
“Existe o perigo de que o dinheiro vá para lugares errados”, explica ele, citando como exemplo a ideia da Casa Branca de suspender o pagamento dos impostos dos trabalhadores, uma vez que terá muito pouco efeito sobre as pessoas com renda mais baixa.
“Precisamos fortalecer as redes de proteção social, manter as empresas e dar incentivos para que elas não demitam trabalhadores”, diz o acadêmico.
Obstfeld argumenta que a reação do governo alemão está indo na direção correta, mesmo que os governos tenham que aumentar seus déficits fiscais.
“Não é hora de se preocupar com isso.”
Estas são algumas das medidas de emergência que estão sendo aplicadas (ou aguardando aprovação do parlamento) nos Estados Unido, Europa e nas maiores economias da América Latina:
Estados Unidos
O presidente Donald Trump invocou na quarta-feira (18) uma lei de 1950 que permite a intervenção comercial. O objetivo é mobilizar a produção privada para combater
O coronavírus, o que poderia, por exemplo, obrigar a indústria a produzir suprimentos médicos essenciais.
O governo suspendeu execuções hipotecárias e despejos até o final de abril.
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Essas novas iniciativas emergenciais aumentam o plano proposto pela Casa Branca de injetar mais de US$ 1 trilhão na economia, projeto que está sendo negociado no Congresso. O programa inclui o envio de cheques de US$ 1.000 diretamente aos cidadãos mais vulneráveis, para aumentar o consumo.
O Federal Reserve (banco central dos EUA), além de reduzir as taxas de juros para quase 0 e injetar liquidez no valor de US$ 700 milhões no mercado com a compra de títulos do tesouro e hipotecários, anunciou que retomará seu programa de compra de dívida corporativa, implementado pela primeira vez durante a Grande Recessão de 2008.
Europa
O Reino Unido anunciou que garantirá US$ 400 bilhões em empréstimos garantidos pelo governo a empresas afetadas pela pandemia.
A medida representa cerca de 15% do Produto Interno Bruto do país. Também suspenderá pagamentos de hipotecas por três meses para pessoas com dificuldades financeiras e injetará bilhões em ajuda direta e subsídios a pequenas empresas, além de isenções fiscais por um ano.
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A Espanha anunciou a mobilização de quase 20% do PIB para combater os efeitos econômicos da pandemia, com contribuições públicas e privadas. O Estado abrirá uma linha de garantias disponíveis para as empresas mais afetadas.
Para ajudar as pessoas, o governo espanhol estabeleceu uma moratória sobre pagamentos de hipotecas, ajuda financeira a trabalhadores independentes e empresas com perdas graves, isenção de pagamentos à Previdência Social, suspensão do corte de água e serviço de internet para aqueles que não podem pagar e direcionar ajuda a famílias com menos recursos financeiros.
Na França, o plano econômico de emergência inclui a entrega imediata de recursos a trabalhadores e empresas, a implementação de garantias fiscais para empréstimos e medidas específicas para proteger as empresas ameaçadas, incluindo a estatização, se necessário.
O governo fornecerá benefícios aos trabalhadores autônomos e pagará por dois meses a remuneração dos funcionários parcialmente desempregados devido ao coronavírus.
O plano também inclui um “fundo de solidariedade” para pequenas empresas cuja renda caiu substancialmente. Encargos e contribuições tributárias para empresas também serão diferidos, com a possibilidade de serem cancelados nos casos mais extremos.
O governo italiano também anunciou a suspensão do pagamento de hipotecas, auxílio financeiro às empresas afetadas, entrega de dinheiro aos trabalhadores autônomos afetados, subsídios aos desempregados, suspensão temporária das obrigações fiscais para empresas e cidadãos, proibição de demissões por dois meses, extensão da licença parental e entrega de um bônus para que os pais que precisam trabalhar paguem pelo cuidado de seus filhos.
Além disso, o país também está estudando um projeto para estatizar a companhia aérea Alitalia.
A Alemanha surpreendeu os analistas ao se distanciar de seu tradicional dogma da disciplina orçamentária, anunciando medidas excepcionais. O plano contempla a concessão de crédito “ilimitado” às empresas, por meio de garantias bancárias públicas aos empresários, para evitar a falência. Os empregadores também têm financiamento público para reduzir o número de horas que seus funcionários trabalham devido à queda na produção.
O governo explicou que todas as empresas, pequenas, médias e grandes, poderão acessar o auxílio. O plano também contempla o adiamento do pagamento de impostos.
América Latina
Na Argentina, o governo anunciou nesta semana aumentos nos subsídios para pessoas pobres, aposentados, mulheres desempregadas e grávidas em situações de vulnerabilidade. Também ordenou um investimento de US$ 1,5 bilhão em obras públicas, habitação e turismo, na tentativa de enfrentar as consequências econômicas da pandemia.
As medidas incluem também a prestação de ajuda financeira e créditos a pequenas e médias empresas.
O México descartou o fechamento de aeroportos para conter a pandemia de coronavírus, argumentando que está tentando evitar uma quebra completa da economia, o que “prejudica os pobres”. Para enfrentar a crise, o país ajustará o orçamento do governo e vai expandir os programas sociais, como subsídios para idosos.
O México está em uma situação complexa diante da recessão econômica que pode afetar os Estados Unidos, seu principal parceiro comercial, além da drástica queda nas receitas de sua companhia estatal de petróleo Pemex. O setor de turismo, importante na economia local, também sofreu uma queda brusca.
No Brasil, o governo solicitou ao Congresso que aprovasse “estado de calamidade pública” no país, medida que permitirá maior liberdade na gestão do orçamento para enfrentar a pandemia. A medida foi aprovada nessa sexta-feira.
Além disso, o Ministério da Economia do Brasil anunciou nesta semana um plano para injetar R$ 147,3 bilhões na economia.
O governo Jair Bolsonaro também anunciou um voucher de R$ 200 para trabalhadores informais por três meses.
Milhões de empregos serão perdidos
Por outro lado, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alertou na quarta-feira que a pandemia pode acabar com até 24,7 milhões de empregos em todo o mundo, excedendo os efeitos da crise financeira de 2008, que desencadeou a eliminação 22 milhões postos de trabalho.
“Não é mais apenas uma crise global de saúde, é uma grave crise econômica e trabalhista que está causando forte impacto nas pessoas”, disse Guy Ryder, diretor-geral da OIT.
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Mas se os governos estão jogando a maioria de suas cartas para fornecer oxigênio à economia, o que mais pode ser feito?
Segundo Maurice Obstfeld, professor de economia da Universidade de Berkeley, a chave está na ação fiscal coordenada e oportuna.
“A confiança do consumidor e do mercado aumentaria se houvesse mais cooperação entre governos”, diz ele.
E não se trata apenas de cooperação econômica, alerta Obstfeld, mas também de planos de saúde pública, como o desenvolvimento de vacinas e testes internacionais para controlar a pandemia.
“Mas se os países caírem em recriminações e abordagens egoístas, corremos o risco de fragmentar ainda mais a economia mundial, o que pode persistir muito além da crise”, diz Obstfeld.
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