Roberto Castelo Branco disse que 18 ex-funcionários continuavam se beneficiando da assistência à saúde da empresa e que um deles gastou mais de R$ 400 mil em um ano. Mudança no plano de saúde faz parte da estratégia para reduzir custos da companhia. Sede da Petrobras no Centro do Rio de Janeiro
Daniel Silveira/G1
O presidente da Petrobras Roberto Castello Branco disse na tarde desta sexta-feira (15) que investigações revelaram que ex-funcionários da companhia continuaram usufruindo do plano de saúde da empresa e que um deles gastou R$ 400 mil em um ano. Ele não revelou os nomes dos envolvidos.
“Detectamos várias irregularidades [no plano de saúde] como 18 condenados pela Lava Jato ainda usufruindo do plano de saúde. Um deles gastando, só no ano passado, R$ 400 mil . Tinham dentistas na Bahia que recebiam mais de R$ 2 milhões por ano do plano”, disse o executivo durante entrevista coletiva para comentar os resultados financeiros da companhia.
Presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, durante coletiva de imprensa realizada por teleconferência na tarde desta sexta-feira (15) para comentar o resultado financeiro da companhia
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A Petrobras havia divulgado na noite anterior um prejuízo recorde de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre deste ano. Segundo Castelo Branco, a empresa vai mudar a gestão de seu plano de saúde como uma das estratégias para reduzir os custos da companhia.
“Nosso pano de saúde tem uma administração muito ineficiente e muito cara comparando com outras empresas estatais. Por exemplo, é mais de duas vezes e meia o custo administrativo por vida coberta no Banco do Brasil e uma vez e meia da Caixa Econômica Federal que não são, particularmente, modelos de eficiência”, apontou Castello Branco.
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O executivo enfatizou que a empresa descobriu, ainda, que o plano de saúde tinha uma inadimplência acumulada em R$ 379 milhões “de segurados que não pagavam as suas mensalidades sacrificando todo o resto dos demais”. Destacou, ainda, que a má qualidade do serviço prestado pela seguradora foi “o item campeão de reclamações em 2019” na ouvidoria da Petrobras, com 2.595 reclamações registradas.
O presidente da Petrobras destacou em sua apresentação que a companhia pretende reduzir seus custos “em pelo menos US$ 2 bilhões esse ano”, mantendo o mesmo nível de economia nos próximos anos.
Sobrevivência com petróleo a menos de US$ 15
Embora grande parte do prejuízo financeiro no primeiro trimestre deste ano seja atribuído à queda brusca do preço do petróleo no mercado internacional diante da pandemia do novo coronavírus, Roberto Castello Branco afirmou que a estatal consegue se manter mesmo com a commodity abaixo de US$ 15 dólares por barril.
“A Petrobras pode sobreviver hoje com preços de petróleo tão baixos como US$ 15. Nós temos musculatura para fazer isso. Remos caixa, temos custos baixos”, afirmou o executivo.
Nesta sexta-feira, o petróleo Brent operava acima de US$ 32 o barril, tendo se recuperado bastante após mínima inferior a 20 dólares registrada em abril, quando a commodity tocou o menor valor desde 2002.
Para o futuro, o executivo disse que a empresa considera um “cenário mais provável de uma recuperação lenta de uma recessão profunda” provocada pela pandemia do novo coronavírus. Segundo ele, a quarentena força mudanças de hábitos que tendem a se manter, como a demanda menor por viagens por parte das empresas e maior digitalização de processos.
“Não podemos deixar de considerar a tendência anterior que era de estímulo a inovações para substituição de combustíveis fósseis no mundo. Se já levávamos isso em conta, então esse cenário nos fez rever a previsão anterior e, consequentemente, prever preços mais baixos [para o barril de petróleo no mercado internacional]”, destacou.
Segundo a diretora financeira e de relacionamentos com investidores, Andrea Almeida, “a gente acredita que o preço de longo prazo vai se situar em torno de US$ 50 dólares o barril”.
Questionado sobre os desinvestimentos da empresa, Castello Branco ressaltou que não houve nenhuma mudança nos planos. A companhia colocou à venda oito refinarias e suas estruturas logísticas associadas, mantendo apenas sob sua gestão as unidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Segundo o executivo, “não houve nenhuma manifestação de desistência dos ativos” que a empresa colocou à venda e que, diante da pandemia, a estatal prorrogou para o segundo semestre a fase de apresentação de propostas vinculantes. Todavia, ele enfatizou que espera a conclusão dos negócios somente no próximo ano.
“Nós estamos confiantes que pelo menos até o final do ano alguns acordos de compra e venda serão fechados, ficando a conclusão da transação para 2021”, disse o executivo.
Sem perspectiva de dividendos
Diante do prejuízo financeiro, a diretora Andrea Almeida disse, quando questionada, que não há perspectiva de que a empresa pague dividendos aos seus acionistas em 2020. Porém, ressalvou que a situação poderá ser revista de acordo com os resultados operacionais.
“Se o cenário continuar semelhante ao que a gente está vivendo agora, provavelmente a gente não vai ter dividendos se tudo continuar como está atualmente. De fato, é difícil recuperar esse impacto que a gente teve agora no primeiro trimestre. Se o cenário mudar, a gente vai avaliar”, disse.
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