Segundo fundação, melhorias podem estar relacionadas a mudanças de comportamento da sociedade durante a pandemia. Operação de abertura de comportas para escoar água da chuva que causou enchentes em fevereiro pode ser responsável pelo aumento do trecho com qualidade ruim. Sabesp diz que trabalha na despoluição do rio e aumentou tratamento do esgoto. Vista aérea do Rio Tietê, na altura do bairro da Penha, zona leste de São Paulo (SP), na manhã de 29 de agosto.
PAULO LOPES/BW PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Um estudo da Fundação SOS Mata Atlântica divulgado nesta terça-feira (22) mostra que pode ter ocorrido um aumento de quase 20% na mancha de poluição do Tietê neste ano.
A pesquisa estima que, em 2020, cerca de 194 quilômetros do rio estão com qualidade ruim, contra 163 quilômetros em 2019. Os dados são do relatório “Observando o Tietê 2020 – O retrato da qualidade da água e a evolução dos indicadores de impacto do Projeto Tietê”.
Em nota, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) diz que tem realizado obras de despoluição do rio e que entre 2019 e 2020 “foram concluídos importantes empreendimentos que elevaram considerável volume de esgotos tratado”. Além disso, a Sabesp afirma que as prefeituras têm que zelar pela gestão dos resíduos sólidos e limpeza urbana para que o lixo deixado nas ruas não vá para o rio com as chuvas.(Leia a íntegra da nota abaixo).
A piora pode estar relacionada a uma operação de abertura de comportas e barragens ao longo do rio para escoar as águas dos temporais que causaram grandes enchentes em fevereiro na capital. Junto com a água, o Tietê levou para o interior lixo, lodo e outros poluentes que pioraram a qualidade da água em Porto Feliz e Laranjal, a 240 quilômetros da capital.
Apesar disso, o relatório também mostra que, com a pandemia, alguns trechos do rio melhoraram em qualidade. Agora, o Tietê está percorrendo mais quilômetros desde sua nascente antes de ficar sujo. Em 2019, o Tietê corria por 44 quilômetros até ter suas águas classificadas como de qualidade ruim pela primeira vez. Em 2020, foram 100 quilômetros. Da sua nascente até a foz, o Rio Tietê tem 1.100 quilômetros.
Além disso, nenhum trecho do Tietê teve qualidade péssima em 2020. Esse nível de poluição foi encontrado apenas em pontos de coleta em afluentes. No ano passado, foram 18 quilômetros de água de péssima qualidade no Tietê.
Já a extensão do rio com qualidade de água ruim, neste ano, foi estimada pela fundação. Isto porque, por conta da pandemia, as equipes de monitoramento não puderam avaliar com a frequência necessária um trecho de 44 quilômetros entre São Paulo e Barueri, que historicamente está entre os mais poluídos. Segundo a própria organização, é razoável considerar que essa região permanece com qualidade ruim, apesar de não ser classificado como tal no relatório final.
“Esse trecho compreendido entre os municípios de São Paulo, da ponte da Rodovia Anhanguera até o município de Barueri, é bastante poluído e apresenta pouca variação na condição de qualidade da água nas séries históricas de monitoramento”, explica a fundação.
Rio Tietê no trecho em que passa pela capital paulista, na altura da Freguesia do Ó, em fotografia desta quinta-feira, 17 de setembro de 2020.
Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo
De acordo com as medições, foram contabilizados 150 quilômetros do rio com águas em condições consideradas ruins, o que mostraria redução da mancha de poluição no Tietê neste ano, contra 163 quilômetros em 2019. Mas, com a inclusão do trecho na Grande São Paulo, o valor sobe para 194 quilômetros poluídos, valor que representa um aumento de 19% em relação ao ano anterior.
Ainda que esse trecho possa ter continuado poluído, outras áreas tiveram melhora neste ano. A extensão de rio com qualidade de água boa aumentou em pontos diferentes, principalmente nas áreas de cabeceira e na região de Botucatu, no início do lago do reservatório de Barra Bonita.
No relatório, a fundação avalia que a melhora pode estar relacionada a mudanças de comportamento da sociedade durante a pandemia, especialmente a menos lixo nas ruas e menos fuligem de veículos, com o menor tráfego de carros.
Além disso, a menor demanda de indústrias e produtores rurais por água, motivada pela desaceleração econômica na pandemia, também pode ter ajudado o rio a seguir com mais força de modo a diluir os poluentes nesses trechos.
A condição de água boa ou regular, que permite vida aquática, abastecimento público, produção de alimentos ou atividades de lazer, estendeu-se por 382 quilômetros, o que representa 66% dos 576 quilômetros do rio que foram analisados. No ano passado, eram 413 quilômetros de bom ou regular.
Monitoramento da qualidade da água do rio Tietê volta a ser feito depois de meses
O que diz a Sabesp
“As obras realizadas pela Sabesp têm contribuído para a despoluição do rio Tietê, frente ao crescimento demográfico e expressivo contingente populacional em áreas informais. Entre 2019 e 2020, foram concluídos importantes empreendimentos que elevaram considerável volume de esgotos tratado, contribuindo para este resultado. Desde o início do Projeto Tietê, em 1992, mais de 11 milhões de pessoas passaram a ter esgoto coletado e tratado.
Em fevereiro de 2020, conjunto de obras ampliou a coleta e o tratamento de esgoto na região central do município de São Paulo, beneficiando mais 350 mil pessoas com esgotamento sanitário e melhorando o sistema que atende diretamente mais de 2 milhões de pessoas. O empreendimento contribui para a melhoria da qualidade das águas dos rios Tamanduateí e Tietê.
Nesta terça-feira, 22/9, Dia do Tietê, a entrega do sistema de esgotamento Laranjeiras, no município de Caieiras, beneficia cerca de 30 mil pessoas e contribui para a melhoria do rio Juqueri, também afluente do Tietê.
Esse resultado poderia ter sido mais positivo com a junção de múltiplos esforços. As Prefeituras Municipais têm que zelar pela melhor gestão dos resíduos sólidos e limpeza urbana e a população desempenha um papel fundamental neste processo. De nada vai valer todo o esforço da Sabesp na recuperação das águas dos rios se o lixo for deixado nas ruas e carreado para os rios durante as chuvas ou se for jogado diretamente nos cursos d’água.
Com relação ao consumo de água, houve aumento na RMSP de 4,4% no consumo residencial de janeiro a agosto de 2020 em comparação com o mesmo período do ano passado, reflexo da quarentena. A Sabesp reforça a importância do uso consciente da água no ano todo.”
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