Em revisão de cenário, banco estima queda do PIB nos primeiro e segundo trimestres. Para Santander, surto só deve começar a se dissipar na parte final do ano. O banco Santander reduziu nesta terça-feira (17) a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Com os impactos do surto do coronavírus na atividade global e interna, o banco passou a estimar um crescimento de apenas 1% para 2020, abaixo dos 2% previstos anteriormente.
Para o Santander, a economia brasileira deve retrair no primeiro semestre, com contração de 0,2% e 0,4% nos primeiro e segundo trimestres, respectivamente. Quando o PIB recua por dois períodos seguidos, pode-se considerar que o país entrou em recessão técnica.
O banco, no entanto, prefere levar em conta a indicação do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) para definir períodos recessivos. O Codace é um comitê do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
Economia brasileira deve ter mais um ano de fraco crescimento econômico
Marília Marques/G1
A partir de julho, segundo o Santander, o surto do coronavírus deve começar a se dissipar, e o crescimento tende a retornar. No terceiro trimestre, a estimativa é de alta de 0,3% e, nos últimos três meses, o PIB deve avançar 0,5%.
“Estamos trabalhando com um cenário no qual o impacto do surto de coronavírus vai se dissipando ao longo do ano”, afirma Maurício Oreng, economista do Santander. “A atividade do Brasil vai ser truncada neste ano. No quatro trimestre, a economia deve retomar para a normalidade.”
Nas previsões do banco, a piora da atividade global deve reduzir o PIB deste ano em 0,6 ponto percentual, enquanto o cenário doméstico deve contribuir com uma queda de 0,4 ponto.
Se os números de 2020 forem confirmados, o Brasil vai caminhar para mais um ano de fraco crescimento econômico. Em 2019, o PIB cresceu apenas 1,1%, no menor avanço em três anos.
A piora na previsão econômica para este ano também levou o banco a reduzir a projeção para o PIB de 2021. O banco reduziu a estimativa de crescimento de 2,5% para 2%.
“Vai ser um choque importante. Vários setores, como o turismo, vão ser afetados. Pelo lado das famílias, alguns trabalhadores serão impactados. São condições piores para uma recuperação da atividade”, afirma Oreng.
Juros e inflação em queda
Com a atividade mais fraca, o Santander também reduziu a projeção para a taxa básica de juros. O banco passou a prever um corte de 0,5 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta quarta-feira (18) e mais uma redução de 0,25 ponto em maio, levando a Selic para 3,5%, patamar que deve ser mantido ao longo de 2020. A expectativa anterior era de manutenção de 4,25%.
Para 2021, a estimativa é que a Selic suba a 4%.
“Em 2021, com a expectativa de uma recuperação, há uma normalização dos juros, numa magnitude bem lenta, com dois aumentos de 0,25 (ponto percentual) no fim do ano”, diz Oreng.
O banco também revisou a previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano. A projeção para a inflação recuou de 4,3% para 4,1%. Para 2021, foi mantida em 4%.
Piora fiscal
A revisão de cenário do Santander também passou a incluir uma piora do déficit primário. A previsão agora está num rombo de R$ 140 bilhões. A estimativa anterior era de déficit de R$ 105 bilhões.
“Pouco mais da metade desta piora deve-se a queda na receita e em royalties. A outra parte vem pelo lado (do aumento) dos gastos”, afirma Oreng.
Na segunda-feira (16), o Ministério da Economia anunciou que serão empregados R$ 147,3 bilhões em medidas emergenciais para socorrer setores da economia e grupos de cidadãos mais vulneráveis diante do avanço do coronavírus no país.
Governo anuncia R$ 147 bilhões para conter impacto da Covid-19 na economia
Para 2021, a expectativa do Santander é de um déficit de R$ 75 bilhões.
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