Profissionais, amadores e estudantes desenvolvem pesquisas e participam de competições internacionais da área. Meteoro é visto no céu do Ceará
GloboNews
Chuva de meteoros, foguete chinês e cometa raro estão na lista dos fenômenos astronômicos observados do Ceará por profissionais, amadores e estudantes da área durante este ano. Especialistas explicam que fatores geográficos, climáticos e urbanísticos do Ceará colaboram para melhor visualização. Cearenses possuem destaque em olimpíadas de astronomia e produção de pesquisas.
A proximidade com a Linha do Equador, com visibilidade mais completa do céu, a baixa nebulosidade e a menor densidade habitacional em municípios do interior, com pouca poluição luminosa, estão entre os fatores que colaboram para melhor visualização dos eventos astronômicos.
Lauriston Trindade, astrônomo amador cearense e membro da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (Bramon), explica que a posição geográfica do Ceará contribui para acompanhar os fenômenos. “Quem está no Rio Grande do Sul não consegue ver as constelações do Hemisfério no Norte, mas aqui no Ceará a gente consegue ver todas as constelações”, destaca.
A menor quantidade de iluminação artificial durante à noite também contribui para que os planetas, cometas e meteoros fiquem mais evidentes sem auxílio de equipamentos. “Tem regiões com o céu bastante escuro como Canindé, Santa Quitéria, região de Parambu e Campos Sales, que são muito escuras e muito boas para observação. Esses fatores ajudam muito que a gente tenha uma boa visibilidade”, completa Lauriston Trindade.
Só neste fim de ano, a aparição do foguete chinês Marcha Longa 5, no dia 23 de novembro, a chuva de meteoros Geminídeas, esperada entre os dias 13 e 15 deste mês, e conjunção entre Júpiter e Saturno, no dia 21 dezembro, marcam o calendário dos astrônomos.
Chuva de meteoro no Ceará
Pontos de apoio
Em Fortaleza, grupos de estudantes encontram estrutura de observação e de formação em espaços como a Seara da Ciência, da Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Planetário Rubens de Azevedo. Além da observação dos eventos astronômicos, os participantes recebem aulas de física e de matemática, bem como formações técnicas para manuseio dos equipamentos.
Em ocasiões anteriores à pandemia, os interessados se reuniam em praças públicas para acompanhar a aparição dos pontos brilhantes. “As observações são muito mais um atrativo, através da imagem a gente conquista mais facilmente do que por meio de fórmulas, funcionam como uma isca, de forma lúdica e mais suave”, destaca Lauriston Trindade.
População registra passagem de foguete chinês sobre o céu do Ceará.
Destaque internacional
Bismark Mesquita do Nascimento, de 18 anos, primeiro estudante de escola pública na Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA), recebeu medalha de ouro nesta segunda-feira (30). “Astronomia é uma ciência muito incrível porque é composta por várias outras ciências, não importa de qual área do conhecimento você seja, tem como gostar de astronomia e você acaba tendo ânimo para estudar física e matemática. Na astronomia você vê tudo de uma forma muito incrível”, ressalta.
“É uma honra não só representar o Brasil, na olimpíada latino americana, mas fazer isso como aluno de escola, o que é algo bastante importante para mim”.
O estudante da Escola Adauto Bezerra entrou em curso preparatório para as olimpíadas de astronomia pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) em 2018, quando recebeu medalha de prata. “Foi muito incrível ter participado da olimpíada, nós fizemos um longo processo seletivo, foram várias fases e eu consegui ser classificado para participar do time brasileiro e representar o país nessa olimpíada”. A equipe brasileira foi formada por mais outros quatro alunos.
O período de restrições de encontros presenciais abriu espaço de outra maneira para novos interessados pela astronomia , como observa o professor doutor Ednardo Rodrigues, coordenador do grupo de Astronomia da Seara da Ciência (GAS-Interestelar). “Nós fazíamos transmissões excepcionalmente e, com essas versões online ocasionadas pelo isolamento social, acabamos alcançando um público maior. Nós recebíamos cerca de 300 participantes e, no canal, com divulgação chega a 800 (participantes)”.
Os eventos realizados de forma remota, acrescenta, também contribuíram para a inclusão de estudantes de astronomia em competições. “Uma coisa interessante é que ocorreram as primeiras olimpíadas de astronomia online, então isso possibilitou a participação de muito mais alunos que não tinham condições de pagar passagem ou enfrentar o processo burocrático para ajudas de custo”, destaca Ednardo Rodrigues.
Conhecimento prático
Os estudantes aprendem sobre localização, identificação de objetos no céu e uso de softwares, como destaca o professor de astronomia Ednardo Rodrigues. “A maioria das observações não exige (ferramentas caras), eu recomendo às pessoas começaram com uma simples carta celeste, um aplicativo de celular para se acostumar com o céu, depois um binóculos e só então um telescópio”, pondera.
Bismarck Nascimento acredita que o incentivo ao estudo da astronomia deve aumentar o rendimento e a participação de estudantes cearenses em disputas internacionais. “Na minha escola nós formamos um grupo de astronomia recentemente e acho que isso vai contribuir muito para que mais alunos tenham acesso a esse conhecimento e possam se engajar mais. É algo que pode ser feito em várias escolas e nós pretendemos alcançar outras escolas”, ressalta.
Já o astrônomo amador Lauriston Trindade observa a astronomia como uma ciência que evidencia a necessidade de práticas sustentáveis. “Quando a gente observa as características de outros planetas, a gente percebe que nosso lugar, a Terra, é o lugar que está pronto e adequado para a vida da gente. Quando a gente observa, a extensão e o tamanho do universo dá para perceber que o lugar que a gente tem de cuidar e preservar, é o lugar que a gente vive”, conclui.
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